Vitória dos separatistas flamengos cria dúvida sobre o futuro da Bélgica
Marta Borrás.
Bruxelas, 25 mai (EFE).- A arrasadora vitória dos separatistas flamengos (N-VA) nas eleições legislativas e regionais realizadas neste domingo na Bélgica cria dúvidas sobre o futuro governo federal e renova o temor de uma nova crise política como a vivida após o pleito de 2010.
O panorama desponta parecido ao de quatro anos atrás: os independentistas são o partido mais votado na região de Flandres e os socialistas do PS são a maioria em Valônia e Bruxelas.
Dois partidos com visões antagônicas tanto em matéria socioeconômica como institucional e que, durante a campanha, não deixaram entrever nenhuma possibilidade de aproximação, embora também não tenham descartado abertamente um possível pacto.
A diferença a respeito de 2010 é que os separatistas alcançaram nestas eleições um importante avanço, que os transforma quase em inevitáveis parceiros de governo, tanto em nível regional como federal.
O líder do N-VA e prefeito da Antuérpia, Bart De Wever, repetiu durante a campanha que sua prioridade é estar na futura coalizão federal (da qual agora não faz parte) e que, para isso, tentará chegar a um acordo previamente com os partidos da região de Flandres.
Em discurso na sede do N-VA, quando foram anunciados os primeiros resultados, De Wever avaliou que os flamengos optaram “pela mudança” e prometeu se esforçar para conseguir em breve o apoio de outros parceiros para formar uma coalizão “forte e lógica para Flandres”.
As únicas palavras que teve em relação à comunidade francófona se referiram à existência de “um poço mais profundo que nunca entre duas democracias: a flamenga e a francófona”.
De Wever assegurou, além disso, que seu partido “não quer uma longa crise política”, em referência aos 541 dias que o país demorou para formar um governo após as eleições anteriores.
Nenhum partido político indicou claramente até agora se está disposto a pactuar com os independentistas que, mesmo sendo majoritários em Flandres, não contam com tanta presença no Parlamento federal, onde uma eventual coalizão entre partidos poderia deixá-los de fora.
Com 68% dos votos apurados, o N-VA obteve 26% dos sufrágios no Parlamento federal, 8,6% a mais que no pleito anterior, enquanto os socialistas francófonos ficaram com 6%, uma queda de 7,7 pontos.
O que também chamou a atenção foi a queda dos extremistas de direita do Vlaams Belang, que alcançaram 4,6% dos votos, 3,2 pontos abaixo do pleito anterior.
No Parlamento valão se impuseram os socialistas francófonos (29,8%, 3 pontos abaixo das últimas eleições), seguidos dos liberais do MR (27,4%, 4 pontos a mais que em 2010).
Por sua parte, no Parlamento da região de Bruxelas venceu o MR (22,6%, 3,9% menos que há quatro anos), seguido dos socialistas (21,1%, o que implica uma queda de 2,2%).
Por último, no Parlamento de Flandres, os separatistas do N-VA arrasaram, com 32,8%, 19,7% a mais que nas eleições anteriores, enquanto o segundo posto foi ocupado pelos democratas-cristãos do CD&V, que alcançaram 20,8% (perdendo 2,1 % a respeito do último pleito).
O Executivo federal em fim de mandato, dirigido pelo socialista Elio di Rupo, está formado pelos socialistas, liberais e democratas-cristãos das duas grandes comunidades do país (flamengos e francófonos).
Di Rupo festejou hoje em discurso na sede socialista os “bons resultados” conseguidos em Valônia e Bruxelas e assegurou que, confirmadas as porcentagens, os socialistas francófonos, unidos aos flamengos, seguirão sendo a força majoritária no Parlamento federal. EFE
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