Você acha que ficou mais pobre? É o Dólar que está atrapalhando sua vida

  • Por Daniel Keny/Jovem Pan
  • 19/10/2015 18h54
A person with empty pockets Folhapress Você está ficando mais pobre

Não é novidade: no final de setembro o dólar chegou a valer mais de R$ 4, a maior cotação desde 1994, ano da criação do Plano Real. A crise política e a falta de credibilidade da economia brasileira afastaram investidores estrangeiros e, consequentemente, a moeda americana ficou mais escassa no Brasil. Esse cenário tem um preço alto para a população, pois, no dia a dia, o consumidor percebe que o custo de vida aumentou.

Consultamos o economista Moises Bagagi e o administrador Paulo Figueiredo, ambos especialistas em gestão financeira, para compreender os motivos da disparada nos preços de produtos e serviços e as consequências da instabilidade econômica que vivemos. Confira:


Importados – a alta do dólar eleva o preço dos produtos importados ou fabricados com matérias-primas de outros países. Segundo Bagagi, é preciso analisar o que vale a pena comprar ou não na atual conjuntura. “O que produzimos é pouco para a nossa demanda interna, o Brasil tem insumos na indústria e em praticamente todos os setores. O momento é ruim para a compra de bens de alto valor agregado, como carros importados, que, além de serem caros, desvalorizam mais e têm alto custo de manutenção. Já os eletrônicos ainda têm preço competitivo na Amazon e no Alibaba, por exemplo”, avalia.

Inflação – o aumento do custo dos importados reflete também nos produtos que não têm seus valores baseados na moeda norte-americana. “No final das contas, tudo que depende de matéria-prima importada fica mais caro. Mais de 90% de todo tipo de produto ou serviço tem o preço inflacionado”, afirma Bagagi. Figueiredo destaca o impacto nas famílias que possuem baixa renda. “As classes C e D sentem mais, principalmente porque a alimentação está mais cara. O aumento dos insumos importados utilizados na agricultura e na pecuária acaba chegando ao consumidor final.”

A inflação atinge também o setor imobiliário – o índice IGP-M reajusta o valor do aluguel e faz a moeda americana pesar ainda mais no bolso do brasileiro. Para Figueiredo, o momento é de compreensão entre proprietário e inquilino. “Em tempos de crise, aquele que quiser repassar todo aumento para o locatário vai correr o risco de ficar com o imóvel vazio. É interessante ambos negociarem para ninguém sair no prejuízo”, sugere.


Combustível – Com o recente reajuste feito pela Petrobras nos preços da gasolina e do diesel, decorrente do endividamento em dólares que a estatal possui, andar de carro ficou ainda mais caro. “De certa forma, a Petrobras está compensando o reajuste que não foi feito no ano passado para equilibrar suas contas. Somam-se a isso os financiamentos com a moeda americana”, pontua Figueiredo.


Emprego – inflação alta, ajustes fiscais, economia enfraquecida e indústrias sofrendo prejuízos com a alta dos insumos importados aumentam o risco de cortes de empregos. “Quem trabalha na indústria corre mais risco, já que está mais caro produzir. Um quinto da população está sem emprego, e aqueles que encontrarão mais dificuldades de recolocação no mercado são os jovens com pouca experiência e os profissionais altamente qualificados, que possuem altos salários”, conclui Bagagi.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil enfrenta a maior taxa de desemprego desde 2012, 8,3% (dados divulgados em agosto). Os jovens entre 18 e 24 são os mais afetados e a indústria, conforme citou Bagagi, está entre os três setores mais prejudicados pela instabilidade econômica, perdendo apenas para construção civil e agricultura.

Turismo – mesmo com a alta do dólar, é possível encontrar passagens mais baratas para o exterior nas promoções feitas pelas companhias aéreas. Entretanto, sair do país é só a primeira etapa – bancar os gastos com hotéis, alimentação e passeios é impraticável com o real tão desvalorizado. Paulo Figueiredo, diretor de operações da FN Capital, ressalta as vantagens para o turismo interno. “Com a economia indo mal, as pessoas não gastam tanto com viagens. Mas é fato que o turismo dentro do país se aquece, porque os estrangeiros vêm com o dinheiro valorizado e gastam mais, injetam dólares na nossa economia”. “Agências nacionais que vendem pacotes de viagem no exterior também podem conseguir grandes lucros”, acrescenta Bagagi.

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