Voluntariado vira negócio na África
Alba Villén.
Nairóbi, 15 jul (EFE).- Cada vez mais jovens querem dar um novo sentido a suas férias, pegam a mochila e aterrissam em qualquer ONG da África para ajudar durante algumas semanas. Para isso é preciso tempo, empatia, esperança… e muito dinheiro.
Várias ONGs detectaram um lucrativo negócio nesta crescente necessidade de ajuda, e agora fomentam um voluntariado disposto a pagar para financiar seus projetos perante a diminuição de ajudas públicas.
“Elas se voltaram a captar voluntários, a criar projetos em torno deles e se financiar com as cotas que são cobradas”, explicou à Agência Efe Laura Carmona, especialista em cooperação internacional para o desenvolvimento na África Subsaariana.
Entidades como Children of Africa, um exemplo que representa dezenas, cobra dos voluntários 350 euros por mês, preço que inclui taxa de inscrição e manutenção, além da passagem de avião e dos gastos com o visto.
“O voluntariado se transformou em um negócio que nada tem a ver com a cooperação internacional. Parece que só importa o dinheiro e que, portanto, é dirigido a pessoas que podem pagar”, lamentou Carmona.
Este modelo atrai voluntários mais interessados em viver experiências e impor conhecimentos do que em compreender uma comunidade local e tentar apoiá-la.
“O voluntário é uma pessoa não remunerada e não especialista no campo, o que afeta a incidência dos projetos e as comunidades locais, que veem estrangeiros poderosos que desconhecem a idiossincrasia local e que acreditam saber do que os locais necessitam”, criticou a especialista.
A visão dos principais envolvidos, os voluntários, é diferente. Alguns entendem que é justo pagar por seu alojamento e manutenção, enquanto outros opinam que seu trabalho, pelo qual não recebem nenhum salário, deve cobrir pelo menos este parágrafo.
“Colaborei em um centro hospitalar exercendo a medicina e a ONG cobria minhas despesas, é algo que me parece fundamental, pois ofereci um trabalho profissional de forma voluntária”, comentou a esponhola Ana Gutierrez, que coopera com a Fundação Pablo Horstmann na Etiópia.
“Cerca de 75 euros por semana acho que é um preço justo porque 35% são destinados a cobrir meu alojamento e minha dieta. Trabalhamos com muitas crianças e de alguma maneira é preciso financiá-las”, opinou Zaida González, voluntária no orfanato queniano Chazon.
Esta forma de financiamento das ONG tem uma sustentabilidade caduca, já que os projetos só poderão ser mantidos enquanto houver voluntários.
Outro modelo de cooperação que prolifera são as chamadas “férias solidárias”, uma combinação de visitas turísticas ao país acompanhadas de um trabalho voluntário nos projetos da ONG que são organizados.
Vanesa Lozano, da ONG Africa Sawabona com sede no Senegal, defende este modelo perante a progressiva redução de contribuições públicas. “O simples fato de viajar é uma escola. Conhecer outros estilos de vida te enriquecem como pessoa”, opinou à Agência Efe.
No entanto, para Carmona, o resultado é o mesmo. “Os viajantes financiam um projeto que não conhecem a fundo. São pessoas não selecionadas que caem nas comunidades de paraquedas”.
Consciente da necessidade das ONG e da sincera vontade de muitos dos jovens que embarcam nestas altruístas aventuras, Lozano acredita que uma maior formação por parte das ONG aos voluntários melhoraria a experiência de forma bidirecional.
“Da mesma forma que com o voluntariado, férias solidárias com um bom acompanhamento e formação por parte da organização pode dar um sentido a este tipo de viagem, convidando as pessoas a se aprofundarem mais e conhecer os contextos que levaram às necessidades”, propôs. EFE
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