Votar ainda é um desafio para alguns eleitores do Acre
Alba Santandreu.
Rio Branco, 6 out (EFE).- Edilenza caminhou três horas, chegou pontualmente às 8h em sua sessão eleitoral, mas não conseguiu votar. Retornou a sua casa pouco depois das 11h para preparar o almoço para seu marido e fez todo o caminho de volta até o colégio eleitoral.
“Voto porque é obrigatório. Mas é um peso”, afirmou.
Com a pele curtida pelo sol, Gilson Taliste, de 49 anos, também reflete cansaço depois de mais de duas horas esperando na sessão eleitoral do bairro 6 de agosto, um dos mais pobres de Rio Branco, capital do Acre.
“A única coisa que se pode fazer é apoiar uma perna na parede, e depois outra. E assim vai passando o tempo”, conta o agricultor, que demorou duas horas de ônibus para percorrer os 110 quilômetros que separam sua casa do local de votação.
Como Edilenza e Gilson, milhares de pessoas em todo o Brasil se veem obrigadas a cada eleição a realizar longos percursos para exercer seu direito a voto, principalmente no norte do país, onde a infraestrutura de transporte é precária e muitas vezes inexistente.
Para eles, as condições pioraram ainda mais este ano porque o sistema biométrico de identificação de eleitores sofreu problemas técnicos; aumentou o tempo de espera, e levou muitos brasileiros a condenar firmemente o voto obrigatório.
“Acho que é uma covardia que o voto seja obrigatório. Cada pessoa teria que poder decidir”, comenta Izaquiel Cunha da Silva, de 30 anos, enquanto duas mulheres que estão atrás dele na fila concordam com a cabeça, repetindo suas palavras.
Com 35 graus em Rio Branco, cerca de 500 pessoas tentam escapar do sol da tarde e buscam refúgio sob a marquise do colégio, enquanto os funcionários conferem os documentos nas diversas salas do prédio.
Em outra das sessões eleitorais da capital acreana, situada no parque ecológico Capitão Ciríaco, as filas e o aborrecimento dos eleitores se repete entre árvores de seringueira.
“Nunca mais vou votar. Da próxima vez pago uma multa. Mas não voto”, reclama Adansinete Álvez, acompanhada por seus dois filhos.
A poucos metros do colégio eleitoral, José Francisco descansa no pátio de sua casa, construída em madeira e onde tem um pequeno palanque para as brigas de galos que ele mesmo cria. Ele já votou, e votará sempre – diz – “seja obrigatório, ou não”.
Proveniente de uma família de seringueiros, José Francisco conta que suas filhas, fruto do casamento com sua ex-mulher, são parentes do líder ecologista assassinado Chico Mendes, defensor da floresta amazônica e de seus habitantes.
“A causa de Chico Mendes foi muito relevante e tem que continuar”, ressalta, apelando para a importância do voto.
José Francisco conta que neste domingo votou na candidata do PSB Marina Silva, filha de seringueiros e companheira de luta de Chico Mendes em sua juventude, embora tenha reconhecido que, em nível regional, continue apostando no PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. EFE
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