Washington, discreto ninho de espiões que querem escutar e não ser vistos
Jairo Mejía.
Washington, 23 fev (EFE).- Washington é a cidade dos espiões – os do lado americano criaram uma indústria multimilionária, enquanto no lado oposto estão os espiões oficiais ou oficiosos que trabalham nas embaixadas estrangeiras para descobrir o que o olho não vê.
Em frente à embaixada russa em Washington há uma pequena casa ajardinada de aparência inofensiva. A porta sempre está fechada, as janelas seladas, e ninguém se senta no alpendre na frente da casa. Curiosamente, no teto há três janelas de vidro escuro que dão diretamente para a entrada da missão diplomática.
Nas rodas de conversas em Washington se sabe que a contrainteligência americana se aproveitou desta modesta e discreta casa para registrar quem entra na delegação russa, enquanto ninguém dúvida que os serviços de inteligência russos têm em sua embaixada os melhores equipamentos de vigilância que cabem nas secretas maletas diplomáticas.
“A espionagem está em todas as partes em Washington: os serviços secretos espionam as embaixadas e as embaixadas tentam reunir, por canais confidenciais, informação dos Estados Unidos, não importa se forem amigos ou adversários. É um complicado emaranhado”, disse à Agência Efe Jeff Stein, escritor e jornalista da revista “Newsweek” que há 35 anos cobre a espionagem na capital americana.
Segundo o escritor Marc Ambinder, o FBI desinstalou várias vezes torres de acompanhamento de telefones celulares dos telhados de Washington que transmitiam informação para embaixadas, o que o FBI não confirmou, mas que permite vislumbrar o discreto jogo que se desenvolve em meio ao cotidiano burocrático do Distrito de Columbia.
“Na Guerra Fria eram utilizadas antenas que apontavam para missões diplomáticas, mas agora se espiona mais do que nunca, em parte porque a tecnologia é mais acessível e porque países que antes não eram muito ativos agora fazem uso dela”, explicou Stein.
Entre esses países se destaca a China. Sua nova embaixada, inaugurada em 2009 no bairro de Van Ness, é um exemplo de que as fachadas de Washington escondem algo mais do que um grupo de diplomatas assistindo a inaugurações, jantares e selando passaportes.
O edifício chinês com aparência de bunker tem mais andares subterrâneos do que na superfície, segundo dados da associação de engenheiros Deep Foundations Institute.
Para sua construção, Pequim deslocou centenas de chineses que se encarregaram da delicada obra sem expor segredos ou permitir que algum pedreiro espertinho instalasse equipamentos de vigilância nas paredes.
Apesar disso, a inteligência americana tentou em várias ocasiões persuadir os operários, alojados em um hotel próximo, e entre 2006 e 2009 os helicópteros sobrevoaram a construção para conhecer detalhes do edifício, ação que a China rebateu instalando grandes lonas.
Poucos conhecem melhor esse ambiente de paranoia e constante desconfiança do que os diplomatas do escritório de interesses de Cuba, um edifício sem bandeira apadrinhado pela embaixada suíça onde o governo castrista mantém sua representação.
Desde 2001, nenhum dos membros credenciados dessa legação pode se deslocar além de um raio de 25 milhas (40 quilômetros) da Casa Branca. Uma medida adotada pela administração do presidente George W. Bush após o caso de uma analista de defesa que supostamente espionava para Cuba.
“Não cabe dúvida que sabem onde estamos o tempo todo graças a isto”, indicou um diplomata cubano mostrando seu telefone celular em uma cafeteria a poucas ruas da Casa Branca.
É comum ouvir em DC que a espionagem é a segunda profissão mais antiga do mundo e como tal aperfeiçoou suas habilidades.
No Pentágono ninguém esquece do vírus que em 2008 obrigou a uma inédita operação de ciberlimpeza das bases de dados da Defesa. E tudo porque um oficial decidiu usar um pen drive infectado com um “Cavalo de Troia” idealizado pelo serviço secreto de algum país.
Esse ataque sem precedentes levou à criação do Cybercomando, ala militar da Agência de Segurança Nacional (NSA), que alertou para o perigo de inocentes pen drives “perdidos” em estacionamentos de edifícios do governo.
Jade Daggett, fundador de uma empresa californiana que vende dispositivos de acompanhamento via satélite, acusado em 1996 de vender aparatos de espionagem telefônica a embaixadas estrangeiras em Washington e a países como o México, conhece bem este mundo de sombra.
“O Brasil foi um de nossos melhores clientes durante um tempo e posso dizer que compravam grande quantidade de equipamentos de vigilância telefônica para uso interno da polícia”, lembrou o especialista.
Daggett continua no negócio porque “há muito mais demanda de tecnologia orientada à espionagem e a vigilância que para outros tipos de aplicações” tanto nos Estados Unidos como fora de suas fronteiras. EFE
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