Yulia Tymoshenko: da prisão às urnas

  • Por Agencia EFE
  • 22/05/2014 18h35
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Ignacio Ortega.

Moscou, 22 mai (EFE).- Logo após sair da prisão, a carismática Yulia Tymoshenko, ex-primeira-ministra ucraniana, retornou ao círculo da política para se candidatar pela segunda vez às eleições presidenciais, mas seu retorno não foi um mar de rosas.

“Não quero arcar com a responsabilidade de liderar de novo uma revolução”, afirmou Yulia durante a campanha. “Mas se o país eleger outro presidente, e só tenho um oponente, acho que teremos que ir para uma terceira onda revolucionária. Não vejo nenhuma oportunidade de qualquer mudança. Conheço toda essa gente”, completou a política.

Tymoshenko tentou recorrer de novo aos discursos que a transformaram em heroína nacional durante a Revolução Laranja de 2004, mas as enquetes apontam que a líder já não cativa tanto os ucranianos como antes.

Dez anos de desgaste – discussão com seu antigo aliado e presidente, Viktor Yushchenko; sua destituição como primeira-ministra; seu processo por abuso de poder; sua condenação a sete anos de prisão – não foram em vão.

Praticamente sem tempo para descansar, Tymoshenko voou no dia 22 de fevereiro do hospital onde estava presa, na cidade oriental de Kharkiv até Kiev para se dirigir aos manifestantes reunidos no Maidan, epicentro dos protestos populares.

Para sua surpresa, a política não foi recebida como uma salvadora, mas como representante da elite que desapontou as esperanças de milhões de ucranianos há 10 anos e permitiu o retorno ao poder de Viktor Yanukovich.

A Ucrânia já não é a mesma e a revolta que derrubou Yanukovich não foi uma festa da liberdade como em 2004, mas três meses de protestos pacíficos que desencadearam violentos conflitos, deixando mais de 100 mortos pelas ruas de Kiev.

Após o choque com a nova realidade, Tymoshenko tirou várias semanas de recesso para se submeter à reabilitação na Alemanha e avaliar se valia a pena se candidatar pela segunda vez na presidência, após o fiasco de 2010.

Um dos líderes da revolução, o boxeador Vitali Klitschko, lhe propôs retirar sua candidatura e apoiar o candidato das forças opositoras cujos índices de popularidade eram mais altos – o multimilionário Petro Poroshenko.

Mas Tymoshenko rejeitou a proposta e prometeu uma luta implacável contra Poroshenko, com o qual tem contas pendentes desde que um enfrentamento entre os dois lhe custou a inimizade de Yushchenko e o cargo em 2005.

São muitos os que acham que Tymoshenko teria derrotado Yanukovich nas eleições de 2010 se Yushchenko não tivesse boicotado a candidatura de sua antiga aliada.

É por isso que ela concentrou toda a sua campanha na luta contra a corrupção e os oligarcas que estrangularam a economia ucraniana e condenaram seu povo à miséria, em clara referência a Poroshenko.

Tymoshenko insistiu que o empresário não está interessado em erradicar o clientelismo e o nepotismo na administração pública, as principais pragas ucranianas segundo o Fundo Monetário Internacional.

Além da polêmica ameaça de liderar outra revolução se perder no domingo, Tymoshenko adotou desde o início uma postura muito agressiva com a vizinha Rússia, tachou o chefe do Kremlin, Vladimir Putin, de “inimigo número um da Ucrânia”, e prometeu o retorno da Crimeia, anexada por Moscou.

Ao contrário de seu principal rival, a líder se mostrou muito ativa durante a crise gerada pela sublevação no leste do país, de maioria de fala russa.

A política até viajou para Donetsk, epicentro da insurreição pró-Rússia, e participou da mesa-redonda de união nacional promovida pela OSCE, na qual propôs um referendo sobre integridade territorial e a entrada na Otan e na União Europeia para aplacar os ânimos de protesto no leste.

No entanto, as enquetes mostram que seu apoio entre os eleitores não supera em nenhum caso 15%, enquanto Poroshenko poderia ficar com a vitória no primeiro turno.

Por sua vez, não parece que Tymoshenko conta com o apoio incondicional do Ocidente, que parece preferir como parceiro um pragmático empresário capaz de chegar a acordos com a Rússia do que a uma política de carreira com um passado turbulento. EFE

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