Grupos terroristas como o Hamas exploram a ignorância do povo para atingir interesses próprios

Em artigo especial para a Jovem Pan, José Cláudio Securato afirma que países do Oriente Médio conduzem a população com interpretações próprias de seus livros sagrados, se aproveitando da ignorância

  • Por José Cláudio Securato*
  • 20/10/2023 16h15
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AHMAD GHARABLI / AFP Hamas Manifestante levanta faixa com o logotipo das Brigadas Ezzedine al-Qassam, o braço militar do movimento palestino Hamas, após a primeira oração do meio-dia de sexta-feira do mês de jejum islâmico do Ramadã, em frente ao santuário Cúpula da Rocha no complexo da mesquita Al-Aqsa em Jerusalém, em 24 de março de 2023

Se, por um lado, a morte é uma das perguntas mais enigmáticas para a humanidade, por outro, a exploração de seus mistérios é um dos maiores perigos. Se morrerei, por que nasci? A forma de dar sentido à vida pode dar contornos negativos à sociedade, pois a morte define o sagrado como aquilo pelo o que alguém se propõe a morrer. Conviver com a morte definiu a forma como as sociedades se organizam por quase três milênios. A humanidade já se apoiou na natureza (Ética Cósmica, do século VIII a.c. ao século III a.c.), em Deus (Ética Divina entre os séculos III a.c. e XVIII d.c.), no saber (Ética da Razão, do século XVIII ao século XX) e no amor (desde a década de 1990) para organizar a sociedade, se entrelaçando com o tema da morte para justificar suas crenças. Um grego (da Grécia Antiga) morria pelos seus Deuses. Um servo morria por sua Igreja na Idade Média. Homens morriam por seus países. Hoje, muitas pessoas no mundo só morreriam por amor, por exemplo, pelos seus filhos. Ou seja, cada época definiu o seu sagrado e as pessoas aceitaram morrer por isso.

A maior parte do Oriente Médio ainda vive sob a Ética do Divino. A maioria dos países conduz a população com interpretações próprias de seus livros sagrados, se aproveitando da ignorância de seu povo para atingir interesses próprios e não para o bem coletivo. Manter as pessoas sob a ótica do Divino, ignorando a visão da razão, só existe pela ignorância. Da ignorância vem a incapacidade de ler, de interpretar, de questionar, de discutir e de discordar. O anseio de entender a vida – e a morte-, partindo da ignorância, faz as pessoas acreditarem que a vida após a morte será melhor que a atual, mas sem a necessidade de se responsabilizar pelos seus atos aqui na Terra.

O Hamas, como todos os outros grupos extremistas e terroristas, explora a ignorância para manter sua organização social na Ética do Divino. “Deus” é quem mostra os caminhos. O problema é: qual Deus? Quem define sua mensagem? Enquanto a ignorância prevalecer entre as pessoas que são usadas, as organizações sociais serão cegamente baseadas no divino, mas um divino inventado, alterado e utilitarista. Existe uma dessincronização entre as formas de organização social no mundo. A par das divisões de suas fronteiras, idiomas, religiões, acordos econômicos e alianças militares, ainda há diferenças muito grandes na forma em que se definem os laços sociais.

O terrorismo não vem de uma ação pagã, divina ou da razão, ela independe dos tempos éticos, ele vem da exploração da ignorância alheia. Immanuel Kant (século XVIII) estava certo quando invocava: “Tenha a audácia de saber”. Os tempos em que se questiona o divino como resposta para os laços sociais e a razão emerge como alternativa ainda não acabaram.

*José Cláudio Securato, advogado, Ph.D e presidente da Saint Paul Escola de Negócios, escreve este artigo especial para a Jovem Pan.

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