Ignorância é a maior ameaça para a paz mundial

Em artigo especial para a Jovem Pan, José Cláudio Securato afirma que ‘grupos extremistas como o Hamas usam da ignorância de milhões de pessoas para manter seus interesses’

  • Por José Cláudio Securato*
  • 09/10/2023 18h02 - Atualizado em 12/10/2023 14h56
MAHMUD HAMS / AFP Combatentes palestinos das Brigadas al-Qassam, o braço armado do movimento Hamas, participam de desfile militar para marcar o aniversário da guerra de 2014 com Israel, perto da fronteira da Faixa de Gaza, em 19 de julho de 2023 Combatentes palestinos das Brigadas al-Qassam, o braço armado do movimento Hamas, participam de desfile militar para marcar o aniversário da guerra de 2014 com Israel, perto da fronteira da Faixa de Gaza, em 19 de julho de 2023

“Todas as democracias contemporâneas vivem sob o temor permanente da influência dos ignorantes”, afirma o economista John Kenneth Galbraith. A ignorância a que o economista se refere é a de quem não é capaz de entender uma argumentação inteligível que alguém lhe fale sobre propostas, propósitos e necessidades. Ou seja, ser capaz de persuadir e de ser persuadido. Às pessoas que a persuasão é inacessível e que, portanto, não podem praticá-la, muitas vezes, fazem surgir a violência, pela incapacidade de se comunicarem, pela falta de retórica, fazendo da violência, uma forma de expressão. Para o filósofo espanhol Fernando Savater: “A violência é a expressão daqueles que não sabem se expressar”. Por isso, é fundamental que o máximo de pessoas possíveis tenham algum meio de expressão. “A ignorância é um perigo, uma bomba relógio dentro da democracia”, afirma Savater.

Os grupos extremistas como o Hamas (na Faixa de Gaza e Cisjordânia), Força Qudz (oficialmente uma unidade das forças armadas do Irã), Hezbollah (Líbano), Irmandade Muçulmana (Egito), Boko Haram (Nigéria), Houthis (Iêmen), entre outros, usam da ignorância de milhões de pessoas para manter seus interesses. Os países que financiam esses extremistas, por sua vez, usam da ignorância dos membros desses grupos para promover seus interesses. Um jogo de exploração da ignorância, onde cada ignorante usa a violência na tentativa de se expressar. A pobreza, o desemprego e a desesperança, resultantes da falta de uma boa educação, podem atuar como agentes de recrutamento de milícias armadas e grupos extremistas. Se as pessoas são ignorantes, elas levarão as discussões sobre as sociedades para a demagogia, criarão obstáculos frente às soluções necessárias sempre que impliquem algum sacrifício e favorecerão as desigualdades.

A educação precisa ser integrada às agendas internacionais de construção da paz, mas sempre priorizamos as ações de segurança. De 37 tratados de paz assinados entre 1989 a 2005 disponíveis ao público, 11 sequer mencionam a palavra “educação”. A Unesco correlaciona o aumento da educação para um mundo melhor há décadas. A falta de ação em prol do desenvolvimento da educação, por outro lado, impulsiona impactos negativos e amplos para aumento da pobreza e da fome, dificuldade de acesso à saúde, piora na promoção da equidade de gênero, menor sustentabilidade e sociedades menos igualitárias e inclusivas.

A legitimidade das causas deixaram de ser possíveis de serem negociadas, de serem discutidas e argumentadas? A persuasão perdeu valor? Não. A ignorância elimina essas possibilidades e facilita o caminho da violência. A barbárie a que assistimos no dia 7 de outubro de 2023 reforça que todo extremismo é uma forma de explorar a ignorância, e este episódio é mais um grande alerta para que a humanidade combata a ignorância.

*

*José Cláudio Securato é advogado, Ph.D e presidente da Saint Paul Escola de Negócios.  

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.