Advogado de Fernando Baiano diz que não se faz obra pública no Brasil sem pagar propina
Reinaldo, Mário de Oliveira Filho, advogado de Fernando Baiano, diz que não se faz obra pública no Brasil sem pagar propina. E aí?
Mário de Oliveira Filho, advogado do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, fez uma afirmação perturbadora. Disse ele: “O empresário, se porventura faz alguma composição ilícita com político para pagar alguma coisa, se ele não fizer isso, não tem obra. Pode pegar qualquer empreiteirinha e prefeitura do interior do país. Se não fizer acerto, não coloca um paralelepípedo no chão”.
Que coisa. Não sei se é um bom caminho para a defesa. Talvez o mais prudente, se é para confessar ilícitos, seja o acusado tentar a delação premiada e contar tudo o que sabe. Notem: na prática, doutor Oliveira Filho está admitindo que crimes foram cometidos, mas com um diferencial: ele sugere que seu cliente fez o que todo mundo faz. Sabem o que é mais triste? Sabem o que é melancólico? Ele está falando a verdade.
A corrupção é uma questão de caráter de indivíduos? Claro que sim. É preciso haver disposição subjetiva para cometer crimes. Mas também remete a uma cultura, e a nossa é tolerante, infelizmente, com a mistura entre o público e o privado. A coisa vem de longe, como demonstra Raimundo Faoro em “Os Donos do Poder”. Como demonstra Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”. Cultura, no entanto, é uma construção, não uma natureza. E pode ser mudada.
Ora, se é verdade, e é, que os negócios estão sujeitos à interferência política, estamos diante de uma evidência importante: quanto mais Estado houver na economia, quanto mais o poder público estiver presente em atividades que dizem respeito à sociedade, quanto mais as obras estiverem sujeitas à interferência de criadores de dificuldades que vendem facilidades, então maior será a corrupção.
O Brasil tem estado demais onde não deve e de menos onde deve. A segurança tem de ser pública ― e, quanto mais pública, mais saudável é um país. É preciso que haja uma alternativa pública de qualidade para a educação e para a saúde. E só. No mais, meus caros, não duvidem: os defensores de um estado gigante ou são desinformados, ou se aferram a uma questão meramente ideológica, a despeito dos resultados, ou são pilantras mesmo.
O prejuízo da Petrobras com a roubalheira chegará a muitos bilhões. Por que devemos supor que a prática é diferente nas outras estatais? Empreiteiras também contratam serviços de empreiteiras. Algumas delas se especializam em determinadas áreas e vendem seus serviços às outras. Perguntem se, nesses casos, praticam-se ou não os preços justos. É claro que sim. O agente privado prudente buscará sempre o menor preço, garantidas as especificações do produto comprado.
Os 12 anos de PT no poder foram marcados por um agigantamento do estado. E, pois, a corrupção cresceu enormemente. É uma falácia essa conversa de Dilma de que hoje se tem a impressão de mais corrupção porque se investiga mais. Não. Existe, sim, mais corrupção porque o estado ― por intermédio de um partido e seus agentes associados ― passou a se meter em tudo. E a cobrar o pedágio.
Mário de Oliveira Filho falou, sim, uma verdade. Uma verdade incômoda, que cobra a mobilização dos cidadãos. O estado gigante que frauda o preço dos combustíveis pode fraudar uma licitação. São coisas, sim, distintas e de propósitos diversos, mas se combinam para fazer um país de chanchada.
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