Ainda faltam os políticos para tornar prato do petrolão bem apimentado
Pode parecer que faz tempo, ouvinte amigo, mas, neste sábado, amanhã, faz apenas nove meses que o julgamento do mensalão acabou no Supremo. E já temos o “Bebê de Rosemary” aí. O demônio da corrupção nos persegue. As denúncias daquele escândalo começaram a vir a público em 2005. Até março deste ano, quem sabe um tanto otimistas ou ingênuos, dizíamos todos: “O mensalão é o maior escândalo político da história brasileira”. E era verdade — ao menos do que se conhecia até ali. Ocorre que o “maior escândalo político da história brasileira” se desenvolvia na Petrobras. Enquanto os mensaleiros larápios eram denunciados, processados, julgados e condenados, uma quadrilha assaltava a estatal para distribuir prebendas a políticos e a partidos e satisfazer apetites de enriquecimento.
Nesta quinta, o Ministério Público divulgou a lista dos primeiros 36 denunciados, 22 deles funcionários de seis empreiteiras: OAS, Camargo Corrêa, UTC Engenharia, Engevix, Mendes Júnior e Galvão Engenharia. Vem muito mais por aí. Esse primeiro lote é aquele que gravitava em torno de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e, confessadamente, homem do PP no esquema — embora ele tenha dito à polícia e ao MP que a maior parte da propina que passava pelo seu controle era mesmo remetida ao PT. Ainda faltam os denunciados dos demais núcleos. O petista Renato Duque, por exemplo, ex-diretor de Serviços, e Pedro Barusco, seu braço-direito — aquele que aceitou devolver R$ 253 milhões do dinheiro roubado —, devem estar na leva seguinte.
E, ora, ora, ainda faltam os políticos para tornar esse prato bem apimentado. Os nomes foram enviados ao STF e, tudo indica, ao STJ, que é o foro especial por prerrogativa de função de governadores, por exemplo. Fico, sim, um tanto espantado com a ousadia dessa gente. Nada intimidou a canalha ou lhe conferiu um senso maior de, vá lá, prudência ao menos. O assalto aos cofres públicos era, com efeito, organizado, metódico, sistemático. Como uma orquestra.
Só nessa leva, os procuradores apontam 154 atos de corrupção e 105 operações de lavagem de dinheiro. O cálculo que fazem das propinas e danos provocados à Petrobras, até agora, chega a quase R$ 1,5 bilhão. Num encontro de petistas, na quarta, Lula voltou a espancar os fatos e o bom senso. Afirmou que só o PT é alvo de investigação, o que é mentira. E ironizou: “Parece que os tucanos arrecadam dinheiro como se fosse Criança Esperança. Não tem empresário”. Não sei se notam: nessa fala do Apedeuta, há uma espécie de admissão das falcatruas, mas com a sugestão de que os adversários também fazem sacanagem, como se isso pudesse servir de desculpa. Não pode!
Lula gosta de vociferar pelos cotovelos contra a imprensa, acusando-a de tratar o PT como se este tivesse inventado a corrupção. Nunca ninguém disse essa tolice. Mas parece inequívoco que o centro nervoso dos dois maiores escândalos da história – ao menos até aqui – é mesmo o PT. Que coisa esse partido! No poder há 12 anos, parece sentir uma atração irresistível pelas sombras. Mas depois me ocorre que partidos não são pessoas e que, pois, estão livres das compulsões. Partido tem é propósito — e o dos petistas já ficou muito claro no mensalão e no petrolão.
Acho que cumpre ser mais prudente doravante e chamar o petrolão de “maior escândalo conhecido da República”. Eu nunca duvido da capacidade que têm os companheiros de nos surpreender. Eles sempre podem mais.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.