Após anos estocando vergonha, eis que temos um presidente normal na ONU
Dia histórico nesta terça-feira, na Assembleia-Geral das Nações Unidas (a de número 71). Com a palavra, Michel Temer, o presidente do Brasil. Não, o fato histórico obviamente não é o cumprimento do ritual de um mandatário brasileiro iniciar a discurseira solene (seguido pelo americano), mas a mera volta do decoro.
Foram 13 anos constrangedores de ladainha lulopetista na tribuna em nome do Brasil. Primeiro, foram os rompantes de Lula. Havia uma curiosidade antropológica sobre o primeiro presidente metalúrgico do Brasil e sua patacoada de que “nunca na história deste país”. De fato, nunca se construíra uma máquina tão industrializada de corrupção, nunca se vira tanta fome organizada para roubar (papo contra fome marcou a aparição de Lula na ONU).
Ah, depois veio a Dilma, resoluta adversária do lé com cré. Na tribuna, de onde já discursou muito maluco, ela falou em estocar vento e dialogar com o Estado Islâmico. Ali se precisava de um tremendo tradutor para decifrar, em qualquer língua, o que ela dizia em dilmês. Confesso que, em geral, não presto muito atenção nos discursos na ONU, são esquecíveis, o que, no caso de presidentes brasileiros, será um ganho com a presença de Temer nas tribunas globais. Para o nosso consolo, esqueceremos logo o que acabou de falar. As palavras não ficarão estocadas na memória.
Na segunda-feira, aliás, já ocorreu a estreia formal de Temer na ONU na cúpula dos refugiados, com palavras anódinas de que os países devem “facilitar a inclusão e não criminalizar a migração”. Jamais ouviremos algo táo óbvio e politicamente correto no sentido correto da expressão da boca de alguém como Donald Trump. A reunião em si da ONU é irrelevante e, na falta de assunto, a imprensa brasileira encheu linguiça mostrando que Temer inflou o número de refugiados acolhidos no Brasil.
O que mais importa nesta viagem de Temer é o esforço a portas fechadas para vender Brasil a investidores e para mostrar ao público em geral o fato de que existe normalidade institucional no país. Há os gatos pingados com cartazes bilíngues pedindo Fora/Out Temer. Gente chata, boring people (e se molharam na segunda-feira, pois choveu bastante em Nova York).
Portanto, o essencial nesta viagem é que o Brasil volta a ter um presidente normal. Lembra muito o que Maurício Macri está fazendo na Argentina e, em particular, a recepção no exterior. A tarefa primária de Macri, nada dramática, mas revolucionária, é fazer da Argentina um país novamente normal.
A tarefa me parece mais difícil para Temer, mas vamos no mínimo estocar esperança.
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