Após Hillary passar mal, em que pé estão as eleições nos EUA?
Um bom termômetro da intensidade eleitoral nos EUA foi o domingo, 11 de setembro. Não apenas pelas emoções, lembranças e comemorações dos 15 anos dos atentados terroristas, mas também pelo fato de que o impacto da data solene tenha sido parcialmente abafado pela saída abrupta de Hillary Clinton da cerimônia em Nova York.
De acordo com informações iniciais de sua assessoria, a candidata democrata passara mal devido ao calor (os termômetros registravam 27 graus, nada insurportável neste final de verão). Mais do que uma onda de calor, uma onda de boatos se alastrou rapidamente de que Hillary estava passando muito mal e teria até sido levada ao hospital (foi para a casa da filha).
O clima esquentou ainda mais o forno conspiratório dos partidários de alguém chamado Donald Trump (patologicamente conspiratório) de que Hillary está incapacitada para exercer a presidência. Em videos filmados durante a saída da candidata, ela parece cambaleante.
Em que pé estamos? Antes de mais nada, vamos lembrar que neste duelo presidencial, os candidatos não são mocinhos (em todos os sentidos da expressão). Hillary tem 68 anos e Trump, 70. Assim, é plenamente legítimo o debate sobre o estado de saúde de ambos (e com Trump na parada, a destacar o mental).
O foco urgente, porém, é Hillary. Afinal, ela cambaleou no domingo, na mesma cerimônia em que Trump estava de corpão presente. Chris Cillizza, do jornal The Washington Post, fez a formulação correta: o mal-estar de Hillary no memorial do 11 de setembro catapultou questões do patamar da teoria conspiratória conservadora para talvez o debate central na corrida presidencial nos próximos dias.
Passar mal devido ao calor ocorre em um mau momento da campanha de Hillary. São dias em que ela já está no sufoco nas pesquisas, após semanas de brisa. Desde a semana passada, graças a uma rede de intrigas que tem à frente o ex-prefeito de Nova York, Rudolf Giuliani, garoto de recados de Trump, fervilham as histórias sobre o estado de saúde da candidata democrata, catalisados por um episódio de tosse durante um comício. Circulam também cartas médicas apócrifas.
Na verdade, Hillary teve “alta” dos seu médicos após um episódio em que ela desmaiou, sofreu uma concussão e então foi descoberto um coágulo sanguíneo no começo de 2013. O fato político (e eventualmente médico) é que a campanha de Hillary e seus simpatizantes não podem mais simplesmente fazer piada agora das teorias conspiratórias.
No domingo, os jornalistas ficaram no escuro durante 90 minutos, após a saída abrupta de Hillary da cerimônia em Nova York e foram mais algumas horas até a informação de que na sexta-feira ela foi diagnosticada com pneumonia. A falta de transparência ilustra as vulnerabilidades de uma candidata que não é vista como honesta pela maioria dos eleitores e com a reputação de não jogar às claras.
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