Assad avança sobre Aleppo, mas Síria continua agoniando sem fronteiras
O que há de novo para dizer sobre a frente síria? Pode piorar quando se consolida a sobrevida do regime de Bashar Assad. Os números são impressionantes e comovem mesmo um mundo anestesiado com o que acontece naquele país dilacerado pela guerra civil e barbárie praticada por tantos atores.
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Somente esta semana, pelo menos 20 mil pessoas (talvez 50 mil) fugiram de Aleppo diante do avanço das forças governamentais e aliados (como milícias xiitas iraquianas, contingentes iranianos, o libanês Hezbollah e os aviões de Vladimir Putin). O progresso de Assad na guerra civil é significativo e crucial na parte leste de Aleppo, controlada por jihadistas. Até ser dizimada, Aleppo era a maior cidade e centro comercial do país.
Mas além da urgente crise humanitária, a vitória de Assad em Aleppo pode ser o ponto de virada em seis anos de guerra civil e culminar na tomada total da cidade. E o plano é consumar a missão antes da posse de Donald Trump em janeiro, pois o presidente-eleito dos EUA se acomoda a um status quo de sobrevida de Assad, embora sua missão prioritária nunca tenha sido dizimar meramente o terror do Estado Islâmico, mas dizimar qualquer oposição.
E a vitória de Assad é uma vitória para Vladimir Putin, que assim se confirma como ator relevante no Oriente Médio. Vitória é claro também para o regime iraniano, patrono de Assad.
São, portanto, importantes vitórias militares e geopolíticas, mas nada disso significa o fim dos conflitos e da mortandade. Basta dizer que uma outra batalha se intensifica, a 40 quilômetros de Aleppo, na cidade de al-Bab, sob domínio do Estado Islâmico. E esta batalha dá uma medida não apenas do conflito, mas das agendas conflitantes. Em ação estão três coalizões internacionais.
Rebeldes sunitas sírios avançam com o apoio de tanques turcos, mas há o avanço também de curdos sírios apoiados pelos EUA. E o mesmo acontece com o Exército sírio respaldado por russos e iranianos. Um recuo do Estado Islâmico irá significar o combate por espólios.
Falando em espólios, Assad pode bravatear sua sobrevivência no poder, desafiando os prognósticos, mas o preço, na expressão do New York Times, é um corpo meio morto. E a Síria, como país de fronteiras formais, morreu.
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