Avança em Brasília o impeachment de Dilma
O PSDB afinou o seu discurso para um eventual pós-Dilma e, se querem saber, isso é uma boa notícia, embora seja necessário dizer que, dada a realidade, com a Operação Lava-Jato em curso, todo equilíbrio alternativo já nasce precário. Por enquanto, costumo dizer, só a esperança continua no fundo daquela caixa de Pandora. Os monstros todos estão à solta. Tudo pode acontecer. Vamos ver.
Ainda que o PT tenha convocado as esquerdas a sair às ruas na quinta em defesa do governo Dilma e contra a pauta do governo Dilma (!!!), a verdade é que ninguém acredita, nem entre petistas, que a presidente conclua o mandato. E essa sensação vai se generalizando entre os atores políticos e, para ser genérico, os atores sociais. Em algum lugar, tem de estar o eixo da governabilidade. Onde?
FHC reuniu os líderes tucanos para propor essa questão e tentar achar uma resposta. Já afirmei aqui que considero remota a possibilidade de que o TSE casse a chapa que elegeu Dilma — e, pois, junto com ela, Michel Temer, o vice — sem uma prova material, além de testemunhos, de que houve recursos ilegais na campanha. De toda sorte, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, fez bem em alertar que os tribunais não podem estar sujeitos à pressão do Planalto. Já chego lá.
O caminho mais curto continua a ser a renúncia, mas esse é um gesto unilateral. Há pouco a dizer a respeito. Não combina com a mística que Dilma criou para si mesma. O impeachment, no confronto com a eventual cassação pelo TSE — o que ensejaria novas eleições, se ocorrida nos dois primeiros anos de mandato, ou eleições indiretas, se nos dois finais —, é um caminho mais curto e sujeito a menos recursos do que o do tribunal eleitoral. O período de “sursis” seria abreviado.
E é evidente que essa saída não vai se construir se o PSDB não passar a conversar de forma mais clara e determinada com o PMDB. É simples assim: o maior partido da oposição terá de dialogar com o maior partido da atual base aliada, que pode herdar a cadeira presidencial, para ver o que vem depois. Em certa medida, algo semelhante se deu nós pós-Collor — embora, com efeito, para o bem e para o mal, Michel Temer não seja Itamar Franco.
Não o é para o bem: tem muito mais articulação política do que aquele e jamais proporia a volta do Fusca, para ficar nos símbolos. Mas não o é para o mal: Itamar não tinha de prestar contas a partido nenhum. À época, estava filiado a um inexistente PRN. O vice atual tem de se haver com a máquina peemedebista, o que não é fácil.
Aécio decidiu entabular conversações com peemedebistas que também não creem na sobrevivência do mandato de Dilma. Como me disse nesta terça uma liderança do partido que anda muito perto dessas articulações, “tudo fica velho muito depressa”. Segundo ele, a tentativa de fazer de Renan Calheiros o novo homem forte do PMDB, isolando Eduardo Cunha e Michel Temer a um só tempo, “foi tão desastrada que acabou caindo no ridículo”. Indaguei, em tom de pilhéria, se, num eventual governo Temer, talvez com apoio tucano, Renan ficaria de fora. Ele respondeu: “Só se for por causa da Lava-Jato. Ele estaria onde sempre esteve: com o poder”.
Vamos conjecturar mais um pouco. E o PT? Bem, meus caros, se vocês querem esse partido definitivamente fora do jogo em 2018, então lutem para que Dilma fique por aí. O problema é o que a gente faria depois com este grande Haiti, quando ela deixasse o que teria restado do país. Qualquer outra solução terá o PT na oposição, com meia dúzia de esquerdistas berrando permanentemente na rua, e com Lula candidato em 2018.
Mas é preciso ser prudente com os equilíbrios alternativos, também instáveis. A Lava-Jato tem o que se sabe porque oficial, o que se vaza, o que se fofoca e o que, de fato, pode estar guardado a sete chaves. Nas três primeiras categorias (a outra é incógnita), não consta que esteja o nome de Michel Temer. E, vamos ser claros, não pode estar. Ou solução não é.
Nesta terça, o senador Aécio Neves advertiu para a necessidade de blindar os tribunais — referia-se ao TSE e ao TCU — das pressões oficiais. Elas existem, e todos sabemos disso. No primeiro, Luiz Fux pediu vista e retardou a decisão do tribunal sobre abrir ou não um processo para investigar irregularidades na campanha eleitoral de Dilma.
No TCU, ministros estão sob assédio para mudar o seu voto. Aviso: ainda hoje, a despeito de acordões e arranjões, o placar é contrário ao governo. Por enquanto, os que anunciaram uma vitória ao Planalto não estão podendo entregar o que prometeram.
Em síntese, tem-se o seguinte: um dia antes de as esquerdas irem às ruas em defesa do governo Dilma e contra a pauta do governo Dilma, o que é esquizofrênico, o que avançou um pouco em Brasília foi a possibilidade do impeachment de Dilma.
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