Bilionário bufão é leitor perspicaz do medo americano

  • Por Jovem Pan - Nova Iorque
  • 17/12/2015 11h59
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EFE/MIKE NELSON Donald Trump

A qualidade, ou melhor dizendo, o atributo de um demagogo político é a impunidade diante dos fatos mais escancarados. Até agora, Donald Trump se revelou impune apesar de sua cascata de insultos, mentiras e propostas indecorosas demonizando categorias variadas como latino-americanos e muçulmanos, além de deficientes físicos.

No debate dos candidatos republicanos de terça-feira à noite houve um esforço quixotesco de Jeb Bush, que já foi o favorito na corrida, para colocar Trump no seu devido lugar. Jeb disse que o bilionário bufão não abrirá seu caminho para a Casa Branca disparando insultos.

Não aposto nisso, mas há tempos deixei de tratar Trump como um mero bufão. Ele é um bufão perigoso e sinistro, é uma demagogo de primeira classe, que já merece entrar na galeria dos grandes demagogos da vida pública americana.

Espasmos de demagogia, com o padrão de alimentar o medo e a ansiedade da população são frequentes, acontecem especialmente em momentos de crise econômica ou medo de alguns setores sociais de estarem perdendo seu bonde na história.

Agora com Trump, é uma classe média branca que teme a diversidade racial, étnica e religiosa quando não se mostra equipada para competir na corrida da globalização. A ansiedade cresce quando há a sensação de declínio americano. E de fato existem ameaças concretas como a do terror islâmico.

Barack Obama, um presidente de mãe branca e pai negro, é associado a este declínio. A ansiedade é reforçada pois Obama não projeta firmeza. Ainda por cima lida com crises altamente complexas como a do terror e a dos refugiados.

Não é à toa que muitos americanos, especialmente conservadores, admiram cada vez mais Vladimir Putin, visto como um líder que projeta firmeza, do gênero prende e arrebenta, ou arrebenta e prende.

No debate de terça-feira, Trump mais uma vez foi Trump. Mais uma vez mostrou que não é familiar com as complexidades políticas. Prefere repetir seus bordões. No entanto, é um leitor perspicaz do sentimento de uma parcela da população, uma parcela que não está interessada em um plano e sim em uma atitude.

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