Brasil: um País complicado para principiantes e profissionais
Existem motivos para celebrações, mas também para melancolia e cinismo com o impeachment de Dilma Rousseff. Ufa, ela deixou de vez o poder, mas não foi completamente enxotada da vida pública. Sobrou a frase de sempre: o Brasil não é para principiantes, é para estes profissionais, estes canalheiros, estes livrandowskis.
Os partidários da ex-presidente bradavam que tudo não passava de um golpe. De certa forma, o brado tem um fundo de verdade. Houve golpe na votação de quarta-feira. Como votar pelo impeachment e também pela preservação da habilitação para a ex, contra a cassação dos seus direitos políticos? Brasil é uma pizza fatiada.
E não é fácil traduzir a receita da pizza para estrangeiros. O foco como era de esperar nas manchetes internacionais sobre o desfecho foi o impeachment, com muito menos atenção devotada à preservação dos direitos políticos de Dilma e o que isto representa para os políticos que participaram da chicana.
Basta ver que o atento Financial Times destacou a decisão histórica que culminou no fim do poder petista no Palácio do Planalto após quase 14 anos. O jornal também tomou nota dos fogos de artifício na celebração em São Paulo.
Existe, obviamente, especialmente nos principais jornais econômicos do mundo, dúvidas sobre a capacidade de Michael Temer para implementar ambiciosas reformas e remover vigorosamente o país do buraco.
E, nos meus boletins aqui na Jovem Pan, é inevitável que eu cite as avaliações da consultoria de risco Eurasia, uma referência no exterior. Como alerta João Augusto de Castro Neves, seu diretor de América Latina, o impeachment não irá solucionar “meses de turbulência política e econômica”.
Ele descreve um cenário de “tempestade perfeita” para o Brasil: economia global menos favorável, recessão profunda, desequilíbrio fiscal, escândalo de corrupção em curso e o usual embate político.
Eu disse no começo do boletim que para lidar com o Brasil é preciso de uma dose de cinismo. Cientistas políticos citados pelo Financial Times e pelo Wall Street Journal observaram que a história do Brasil, na ditadura ou na democracia, é escrita com turbulências e muitos conchavos. Esta aí um País complicado para principiantes e para profissionais.
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