Brexit: a fantasia britânica de divórcio relativamente amigável
A sorte está lançada, ou melhor dizendo, a má sorte. Na quarta-feira, solenemente, a Grã-Bretanha ativou o artigo 50 do Tratado de Lisboa, dando início a dois anos de complicadas e entediantes negociações que devem culminar na ruptura com a União Europeia. É o Brexit.
Como a eleição de Donald Trump em novembro passado, os britânicos não tinham muita noção do que estava fazendo ao apoiar o Brexit no referendo de junho. A fantasia de um divórcio relativamente amigável cederá lugar à realidade de um doloroso racha.
Obviamente, para os britânicos e a União Europeia interessa muito mais um acordo suave. Existe teatro nesta fase que precede as negociações de verdade. No entanto o rancor está cristalizado.
O núcleo duro da União Europeia, Alemanha e França, não pode dar moleza aos britânicos para que não haja precedentes. Sair do projeto (e esta é a primeira vez que isto acontece) deve ser ser uma iniciativa penosa.
Ademais, a fantasia britânica é abocanhar o melhor da união, que é acesso aos mercados, e se desfazer do que não gosta, o livre trânsito de pessoas. Enquanto os britânicos querem negociações simultâneas sobre o divorcio e um novo acordo comercial, os europeus ofendidos dizem que primeiro lugar vamos acertar a separação. Frau Merkel foi muito clara na quarta-feira sobre o cronograma.
O casamento nunca foi apaixonante. A adesão britânica ao projeto europeu foi relutante e ironicamente houve o empenho de Londres para que ele se alargasse para a Europa Oriental e assim se diluísse. O resultado é um mastodonte de 27 países (excluindo a Grã-Bretanha).
Os advogados do Brexit (e entre os quais não estava a primeira-ministra Theresa May) sempre apregoavam que o país será mais pujante sem as amarras europeias. O tempo dirá se a economia de um país efetivamente mais vigoroso do que o continente realmente tem a ganhar com o divórcio. Não vou entrar aqui na guerra das projeções estatísticas.
Não tenho dúvida, porém, que a Grã-Bretanha sozinha irá perder relevância.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.