O Brexit gerou o caos e, por ora, o que resta é o caos

  • Por Caio Blinder
  • 27/06/2016 11h13
EFE/Facundo Arrizabalaga David Cameron comemora vitória dos conservadores nesta sexta (08); ele é primeiro-ministro desde 2010

 Pouca gente previu de forma categórica a vitória da saída da Grã-Bretanha da União Europeia no referendo, realizado na passada quinta-feira (23), mas a previsão generalizada era a de que o chamado Brexit iria gerar o caos. A previsão está confirmada pelos acontecimentos vertiginosos que se desdobraram desde quinta-feira.

A Europa está perplexa, os britânicos atônitos com o que fizeram, o primeiro-ministro David Cameron renunciou, há um golpe em marcha contra Jeremy Corbyn, o líder da oposição trabalhista, existe trepidação nos mercados, a libra teve, na última sexta-feira (24), uma das suas piores quedas em toda sua história, os bancos discutem transferir suas operações de Londres para outras praças europeias e a Escócia abriu o processo para a realização de uma nova consulta para sua independência.

Os advogados da saída agora querem enrolar a retirada, enquanto, em Bruzelas, existe a pressão para que esta ocorra o mais cedo possível. No meio do caos, sempre existe uma Angela Merkel tentando ancorar o navio em águas turbulentas. Ela quer fazer uma média.

Tecnicamente, o referendo é apenas uma recomendação. Para se dar uma medida da confusão, no domingo (26), a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, disse que pode tentar bloquear a saída. Nicola pode pedir aos parlamentares escoceses de Londres que se recusem a dar o “consentimento legislativo” à saída.

Parece impensável não implementar o desligamento, mas o mero referendo foi uma estupidez de David Cameron. O sentimento de comprador arrependido com a posse de um vaso quebrado se alastra.

Nunca houve clareza na demagógica campanha pela saída, como implementá-la e como estabelecer os novos termos de relacionamento com o bloco continental. Os custos do Brexit nunca foram explicados honestamente ao eleitorado. Por sua vez, a população não mediu as consequências do seu voto mais emocional do que racional. A campanha pela saída foi imponente e frágil como um castelo de areia.

O primeiro-ministro que desponta, o oportunista Boris Johnson, nunca foi um apaixonado por Brexit, mas a retirada britânica foi a saída que ele encontrou para tentar chegar ao poder (já o trabalhista Corbyn não fez campanha convicta pela permanência na UE, conforme a linha do partido). O povo disse sai, mas a maioria dos parlamentares não é a favor do divórcio com Bruxelas.

O sucessor de Cameron, em tese, deve assumir através de eleições dentro do Partido Conservador, mas não pode ser descartada a convocação de eleições gerais para que haja uma liderança com um mandato mais robusto no meio desta confusão, em esforço para construir algo mais sólido do que um castelo de areia. O Reino Unido e o mundo vão precisar de uma saída, qualquer saída, desta crise.

Por ora, é o caos, o caos.

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