Cabeças vão rolar em banco; veja por quê
Reinaldo, quer dizer que cabeças vão rolar no banco Santander por causa de um mero boletim?
Vão sim. Olá, amigos e internautas da Jovem Pan.
Cabeças vão rolar no banco Santander no Brasil. Por quê? Porque alguém ― ou um departamento, sabe-se lá ― decidiu anexar ao extrato de um grupo seleto de clientes uma avaliação sobre o comportamento dos indicadores econômicos e sua conexão com as pesquisas eleitorais. Em síntese, o texto, um tanto confuso, afirmava que, se a presidente Dilma voltar a subir nas pesquisas ou se mantiver estável, os juros vão subir, a Bolsa vai cair e o câmbio vai se desvalorizar. Há algo de errado na avaliação? Não, trata-se de alguma opinião surpreendente ou exótica? Não também. Um banco tem o direito de orientar seus correntistas e investidores? Tem. Mas se fez um enorme escarcéu.
Os petistas aproveitaram o caso para acusar uma grande conspiração dos ricos, dos bancos, do setor financeiro. Tudo não passa de uma bobajada infernal. Ao contrário: como Lula não cansa de repetir por aí, essa área da economia nunca lucrou tanto como em seu governo ― e isso também é verdade. O partido que recebeu doações mais generosas dos bancos em 2006 e 2010 foi o PT. Era justamente no setor financeiro que se concentravam os maiores entusiastas do “Volta, Lula!”. Assim, essa guerra das tais elites contra o partido nunca passou de uma fantasia eleitoreira para enganar alguns.
Acontece que a desconfiança no governo é, hoje, gigantesca. E isso vale para o conjunto do empresariado, inclusive e muito especialmente do setor industrial. O comunicado do Santander toca, direta ou indiretamente, no tripé do desconsolo provocado pela gestão petista: inflação alta, juros elevados e baixo crescimento. Por que o mercado reage mal quando acha que as chances de Dilma aumentam? Porque não vê pela frente perspectiva de mudança.
Jesús Zabalza, presidente do Santander no Brasil, conversou pessoalmente com Dilma e informou que todos os responsáveis pela elaboração do boletim serão demitidos. Neste domingo, Emilio Botín, que reside a instituição em escala mundial, destacou que a avaliação não é do Santander, mas de um analista. E reiterou a importância do Brasil para a empresa.
Coitados dos demitidos do Santander, vão perder o emprego por terem falado uma verdade inconveniente. Nas democracias mundo afora, ninguém daria a menor bola para isso. O tal boletim não passou de uma análise corriqueira.
Na sexta, diga-se, o Banco Central anunciou mudança nas regras do compulsório recolhido pelos bancos. O objetivo e liberar pelo menos R$ 45 bilhões para o crédito. Acontece que, há dias, em sua ata, esse mesmo BC saudou o esfriamento do crédito como um dos elementos que concorreriam para diminuir a pressão inflacionária. Ou por outra: o BC tomou uma decisão na contramão de sua convicção técnica.
Quando isso acontece, como é que os tais agentes econômicos reagem? No mínimo, com pessimismo, não é? O que o Santander fez foi só uma leitura de conjuntura, que não é distinta daquela que está em todos os lugares, muito especialmente na imprensa. O próprio PT sabe que se está diante de uma verdade evidente.
Pedir cabeças? Cortar cabeças? Não são práticas que honrem a democracia, não é mesmo? Mas também não se trata de nada estranho ao PT. Como esquecer a tal lista negra de nove jornalistas, da qual honrosamente faço parte, elaborada pelo partido? Também para estes, o que se pedia era guilhotina. Este não é um bom caminho.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.