Caos em Copacabana é soma perigosa de todos os equívocos

  • Por Jovem Pan
  • 23/04/2014 11h23

Reinaldo, nesta terça nós vimos Copacabana em chamas, porque você vê no caso a soma perigosa de todos os equívocos?

Olá amigos e internautas da Jovem Pan. Quando as coisas ficam muito atrapalhadas, também as palavras perdem o sentido. Leio um trecho para vocês de reportagem do Globo Online para deixar claro o que penso. Atenção, diz o site:

“A morte de um dançarino em uma favela pacificada provocou nesta terça-feira um violento protesto em Copacabana. A avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais do bairro, teve o trecho entre as ruas Almirante Gonçalves e Içá Ferreira completamente interditado após virar praça de guerra, com barricadas montadas com fogo. A confusão, que também provocou fechamento do túnel Safre Alvim, da rua Raul Pompeia, de lojas e de um dos acessos à estação de Metrô General Osório, começou após a descoberta do corpo de Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, em uma creche no Pavão-Pavãozinho. Moradores desceram para o asfalto e, acusando policiais da UPP de terem espancado Douglas, começaram o tumulto, por volta das 17h30min. O Batalhão de Choque da PM e o Corpo de Bombeiros foram para o local, assim como policiais do 23º Batalhão da Polícia Militar do Leblon. Com o reforço no policiamento, começou um intenso tiroteio dentro da comunidade, por volta das 18h30min.”

Há coisas que não entendo, por mais que tentem me explicar, e eu não sou tão burro assim. Talvez um pouquinho, mas não muito burro.

Se a favela está pacificada, como diz o Globo Online, como é que se explica a guerra? Nesse caso, o vocábulo “pacificada” quer dizer o que? Já que, obviamente, “paz” não é. Então porque não somos todos da imprensa mais precisos? Em vez de “pacificada”, podemos dizer que a áreas está “dotada de uma UPP”, e pronto. Não se ofendem nem os fatos, nem o dicionário, nem a inteligência alheia.

Como vocês ouviram, às 18h30min começou um “intenso tiroteio”. Mas espere aí, a tal revolta não era de moradores da comunidade? Desde quando trabalhadores, pessoas normais, comuns, enfrentam a polícia a tiros? Não está evidente que a reação, então, foi organizada pelo tráfico de drogas, não pela população?

Ocorre que se espalhou rapidamente o boato de que ele teria sido assassinado pela polícia. Na madrugada  de terça, nesta dita comunidade pacificada, para falar em “carioquês”, em português quer dizer “favela com UPP”, houve um tiroteio entre policiais e traficantes. Quando a polícia civil chegou para fazer a perícia encontrou o corpo de Douglas. O fato de ele trabalhar no programa de Regina Cazé obviamente amplificou o boato e a reação.

Um certo Carlos Henrique Júnior, que a imprensa chama de líder comunitário, seja lá o que isso signifique, postou numa rede social que o rapaz tinha sido morto pela polícia. O resto vocês já sabem, durante o confronto na noite desta terça um outro homem levou um tiro na cabeça e morreu.

A polícia pode  ter sido a responsável? Pode sim, e claro, o histórico não é dos melhores. Mas há elementos suficientes para que se chegue a essa conclusão agora? É claro que não. A polícia tem de apurar obsessivamente esse caso e punir exemplarmente o culpado, seja quem for, de farda ou não. Mas estará cometendo um erro terrível se não for atrás daqueles que organizaram a baderna.

A imprensa precisa parar de glamourizar ações criminosas, chamando-as de reação popular. Povo gosta de ordem, quem gosta de desordem é bandido e sub-intelectual do asfalto, do miolo mole, metido a intérprete do povo. Em São Paulo eles existem também às pencas. No Rio, no entanto, eles se consideram fundadores de uma nova antropologia.

Quanto mais as teses dessa gente triunfam, mais a violência se alastra. A bandidagem sorri. Cadeia para os assassinos de Douglas e cadeia para os que promoveram a baderna. O que lhes parece da minha sugestão?

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