Cardozo difama Caminha! Autor da Carta nunca pediu emprego ao rei

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 14/03/2017 10h18 - Atualizado em 22/06/2017 12h02

José Eduardo Cardozo discursa no plenário do Senado durante julgamento do impeachment de Dilma Rousseff

Pedro França/Agência Senado José Eduardo Cardozo discursa no plenário do Senado durante julgamento do impeachment de Dilma Rousseff - ASENADO

Ai, ai, como direi? Não é de hoje que José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, provoca em mim uma imensa preguiça. Ele é tão leve, tão ligeiro, tão superficial nos seus juízos que o contraste com a gravidade que atribui a suas platitudes ou inverdades soa patético a quem tem, como diria Paulo Francis, “alguma experiência social”… Sim, ele também depôs por videoconferência a Sergio Moro. Seria justo dizer que tentou livrar a cara dos criminosos do seu partido. E até de partidos alheios. E, ora vejam, não perdeu a chance de difamar Pero Vaz de Caminha.

Já chego ao ponto.

Ouça o comentário completo AQUI.

Antes, a tese de fundo. A exemplo de Emílio Odebrecht, Cardozo também deixou claro que os crimes atribuídos ao PT são, na verdade, crimes de todo o sistema político. Nada diferenciaria o partido das demais legendas.

Para Cardozo, o sistema brasileiro é anacrônico, arcaico. Entendo. Ele é um dos petistas que sempre defenderam financiamento público de campanha e voto em lista. Se, hoje, essas duas péssimas saídas começam a se caracterizar como as únicas saídas, isso evidencia a miséria que fizemos, como sociedade, do nosso sistema político.

Cardozo não é burro. Sim, ele citou circunstâncias que, além de verossímeis, podem ser verdadeiras. Disse por exemplo: “Se esse dinheiro que ele [empresário] me doa é fruto de uma situação lesiva ao erário, fruto da corrupção, eu, candidato, não sei. Posso ter caído no erro de fazer caixa dois? Posso. Posso ter incorrido nesse equívoco? Lamentável! Porém, muitas vezes o candidato pode não saber a origem”.

Difamando Caminha
Emílio Odebrecht é um capitão de empresa. Como a gente nota, em seu depoimento, não ensaiou voo teórico nenhum. Limitou-se a dizer como eram as coisas desde o seu pai.

Mas Cardozo… Bem, ele é um intelectual, um pensador. As realidades tangíveis precisam se transformar em conceitos para que tenham a força da generalização, não a transitoriedade das coisas contingentes.

Aí, meus queridos, ele resolveu dar alguns voos antropossociológicos (OLHEM A QUE NOS OBRIGA A REFORMA ORTOGRÁFICA!!!), sabem?, tentando encontrar na nossa moral profunda, como povo, os genes da corrupção.

Disse: “Não sei quando começou caixa dois no Brasil, mas a corrupção começou quando Pedro Alvares Cabral aqui chegou, inclusive consta que Pero Vaz de Caminha, em sua carta, pediu um emprego ao rei no Brasil. É uma dimensão estrutural, histórica e cultural. Não é recente, infelizmente”.

Pois é… Eu sou mais, digamos, antigo. Digo sempre que a corrupção começou no Paraíso, né?, com a serpente enchendo a cabeça da Eva. “Come a maçã, boba!, vai ser bom!” E Eva comeu. E depois a deu a Adão. O resto vocês já sabem. Notem: nem era vantagem financeira ali. Apenas concupiscência do espírito. Isso existe, sim!

Mentira
A Carta de Caminha está aqui. Lê-se em dez minutos. O homem, coitado!, nunca pediu emprego para ninguém.

Rogou, aí sim, que seu genro, Jorge de Osório, voltasse a Portugal, uma vez que havia sido degredado para São Tomé, acusado de assalto. Aliás, Caminha era um alto funcionário do Reino e, mesmo assim, parente tão próximo não foi poupado.

Tinha uma única filha, Isabel. Ele próprio não vivia uma vida segura. Tanto é assim que, oito meses depois da Carta, em 15 de dezembro, morreu em Calecute, na Índia, para onde realmente ia desde a saída de Portugal. A causa provável foi um ataque de muçulmanos à feitoria.

Assim, quando você quiser atacar os canalhas que roubam o Brasil ou afirmar que todo mundo só quer é se dar bem, deixe Caminha em paz. Ele não tem nada a ver com o patrimonialismo aqui em voga.

Aliás, considero um tanto forçadas, ainda que instruídas, algumas leituras que tentam atribuir aos portugueses parte das nossas mazelas. O nosso “homem cordial”, que não sabe a diferença entre o público e o privado, já deve muito pouco aos portugueses. A nossa história e as nossas escolhas nos explicam.

A propósito: vejam para a onde caminha a legislação eleitoral… Não! Os portugueses não têm nada com isso.

Há desastres que só nós podemos fazer por nós mesmos. E fazemos com a convicção dos estúpidos!

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