Caseiro volta atrás sobre morte do coronel Paulo Malhães

  • Por Jovem Pan
  • 07/05/2014 12h39

Reinaldo, o caseiro que confessou ter participado do assalto à casa de Paulo Malhães, aquele coronel que admitiu ter torturado presos políticos, voltou atrás ao falar a um grupo de senadores. Como você vê a questão?

Como uma pataquada da pior espécie. Pois é, agora Rogério Pires, um caseiro, nega que tenha participado da invasão da chácara, que resultou na morte do coronel. De ataque cardíaco, segundo o legista que examinou o corpo, e não sufocado.

Bem feito pra mim. Quem mandou não ter falado aqui o que me veio a mente quando soube que uma comissão de senadores e um advogado visitariam o preso. E o que eu tinha destinado a dizer? Que se estivesse no lugar de Rogério, talvez também negasse. Afinal, os doutores ilustres foram lá para ouvir justamente a negativa.

Vamos ver, segundo a nova versão do caseiro, ele próprio não participou da invasão, mas seus irmãos sim. Ah bom, agora está tudo esclarecido. Rogério foi visitado na cadeia pelos senadores do Amapá Randolfe Rodrigues, do PSOL, e João Capiberipe, do PSB, e também por Ana Rita, do PT do Espírito Santo. Acompanhava o grupo ainda o presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Wadih Damous.

Eles foram lá buscar o que encontraram, a negativa do caseiro, que seria analfabeto. Ora, analfabetismo não é sinônimo de burrice. Então, ficamos assim. Na hipótese dos doutores que lá estiveram, o caseiro é inocente. A morte é uma tramóia da extrema direita, herdeira da ditadura, e os irmãos do caseiro participaram da lambança. Não tem o menor sentido.

O grupo também faz estardalhaço porque a confissão do caseiro não teria sido feita na presença de um advogado. E daí? Desde quando é preciso haver advogado para confessar um crime? Para que a confissão tenha valor em juízo, aí sim, é necessária a presença do defensor. O fato é o seguinte. Existe o exame do legista, mas a turma que quer ver uma conspiração não se conforma. Existe a confissão, mas a turma que quer ver uma conspiração não se conforma. Existe a participação dos irmãos do caseiro, o que nem ele próprio nega, mas a turma que quer ver uma conspiração não se conforma.

O assanhamento de parte da imprensa ontem era impressionante. Ninguém se ocupou de apontar os muitos buracos da nova versão. Numa entrevista, Wadih Damous chegou a dizer, como se falasse a coisa mais óbvia do mundo: “Um homem confessa ter praticado o crime de tortura, tudo indica que falaria mais, e aparece morto?” Encerrou sua fala com reticências, como se estivesse diante da prova da queima de arquivo.

O doutor precisa entender que nem sempre o que vem antes é causa do que vem depois. Doutor Damous, antes do sol nascer, o galo sempre canta. Mas o sol não nasce porque o galo canta, o senhor entende? Se matarmos todos os galos do mundo, o sol continuará a nascer. Ou será que o fato de Malhães ter confessado a prática de tortura o impedia forçosamente de ser vítima de assalto, e de sofrer um ataque cardíaco? É patético.

 

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