Centrão da Europa deve segurar as pontas
Eu não vou reinventar a roda no meio das girações políticas dos últimos tempos no Atlântico Norte. Limito-me a expressar o alívio e repetir o chavão: o centro segura. Aconteceu na quarta-feira na Holanda nas eleições em que o centrão, que foi mais para direita, conteve o avanço da maré populista, a horrorosa onda loira de Geert Wilders.
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O velho dique holandês funcionou e caberá agora ao primeiro-ministro conservador Mark Rutte costurar uma nova coalizão de governo. Boa sorte. Da colcha de retalhos deverão constar mais partidos de direita e haverá bordados de esquerda. Há um discurso mais duro sobre imigrantes, mas foi o preço a pagar para a construção do dique.
Para mim, o essencial é que a Holanda será aconchegada por uma coalizão firmemente pró-europeia, após literalmente segurar as pontas, impedindo o triunfo de Geert Wilders. No resto da Europa pró-Europa houve o sentimento de alívio depois dos choques Brexit e Donald Trump. Desta vez, a surpresa foi o resultado decepcionante para Wilders, embora o seu Partido por Liberdade até tenha aumentado sua representação no Parlamento.
O alívio não deve resultar em complacência. Esta maré populista com seu fervor anti-imigrante está longe de se acalmar. Estão aí a gritaria e a tuitada de Donald Trump após sofrer a segunda derrota judicial na sua ordem executiva para banir gente de países predominantemente muçulmanos em nome da segurança nacional. É verdade que existem boas notícias na Alemanha, com a queda da taxa de aprovação da Alternativa para a Alemanha, o partido de extrema direita que tem criado muito onda.
Ironicamente, a maior ameaça contra Angela Merkel, felicíssima com a derrota de Wilders, hoje é apresentada pela social-democracia, parceria júnior na coalizão de governo. A eleição de setembro está distante, mas Martin Schulz se mostra bem posicionado. Para mim, de novo, o essencial é que o centrão pró-Europa, mais para a direita, mais para a esquerda, segure as pontas.
O teste mais próximo obviamente é na França no mês que vem. O desacreditado presidente socialista François Hollande também saudou a contenção da maré populista na Holanda, mas o centrão não pode facilitar com a ameaça Marine Le Pen. A disputa no segundo turno será entre ela e o independente de esquerda Emmanuel Macron, um convicto europeísta.
Na Holanda, coube a um tradicional político conservador segurar as pontas. Na França, caberá a um esquerdista fora do padrão. Segurar é preciso.
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