Cessar-fogo na Síria programado para sábado está destinado a fracassar

  • Por Caio Blinder/ JP Nova Iorque
  • 24/02/2016 11h57
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Casas e carros danificados perto do local onde duas bombas explodiram em Homs EFE/EPA/STR Dupla bomba em atentado deixa dezenas de mortos em Homs

Existe uma certeza sobre o cessar-fogo na guerra civil Síria que em princípio vai vigorar a partir deste sábado. O acordo vai fracassar, como tantas outras tentativas de minorar este infernal conflito que por algumas estimativas já tem um salto de 500 mil mortos em cinco anos.

Os russos, que são o grande pilar de sustentação da ditadura Assad, primeiro acertaram o acordo com os americanos, que apoiam alguns desacreditados rebeldes mais moderados na guerra civil. Aí, o acordo foi endossado pelos atores domésticos.

Vale lembrar que o acordo não inclui os rebeldes completamente ensandecidos do Estado Islâmico e da Frente Nusra,que é associada à rede Al Qaeda. Assim, de qualquer forma, o cessar-fogo, mesmo que venha a ser bem sucedido, é parcial.

E como de hábito para os os russos e para a ditadura de Assad, o conceito de terrorista é elástico. Para eles, a tradução de terrorista é qualquer um no meio do caminho da ditadura. O plano estratégico de Assad e Putin é dizimar a oposição apoiada pelo Ocidente e por países como Arábia Saudita e Turquia. E vamos reconhecer que são apoiados também rebeldes infames. Com o resto da oposicão dizimada, a ideia é colocar o mundo diante da escolha atroz: Estado Islâmico e Al Qaeda ou ditadura Assad?

Neste contexto, Putin vai interpretar o cessar-fogo na sua linguagem cínica. Em terra, as forças de Assad, que contam com milícias estrangeiras xiitas coordenadas pelo aliado Irã, vão continuar a ofensiva em torno da devastada cidade de Aleppo,que já foi a maior da Síria. Do ar, vão continuar os bombardeios russos, que são de fato cirúrgicos, não poupando hospitais, escolas e padarias.

Estes bombardeios russos aprofundaram a crise humanitária na Síria. Para dar uma medida, por algumas estimativas, estes bombardeios russos em janeiro mataram mais civis do que os ataques do regime Assad ou o terror islâmico.

É verdade que na ausência de um efetivo apoio ocidental na guerra civil, grupos rebeldes desesperados e frustrados se alinham cada vez mais aos terroristas da Frente Nusra, aquela associada à rede Al Qaeda, para combater o regime Assad. As prioridades de países ocidentais, a destacar do governo Obama, são derrotar o Estado Islâmico e conter o fluxo de refugiados.

Com as vitórias de Assad, com ou sem cessar-fogo, nada disso irá acontecer.

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