Ciro e PT inauguram aliança estratégica. Haverá traição?

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 01/02/2017 09h21
Brasilia -O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) fala aimprensa apos almoço reservado a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff Roosewelt Pinheiro/ABr - 29/07/2010 Ciro Gomes - ABR

Quase vai para o beleléu, mas acabou dando certo. Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e sabidamente pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, conseguiu fechar aliança com os petistas na Câmara. Os companheiros prometem apoiar o pedetista André Figueiredo, cearense, para a Presidência da Casa na eleição de quinta-feira. O voto é secreto. Nesse caso, a distância entre o que se promete e o que se faz costuma surpreender. Há pedetistas apostando que serão traídos pelos petistas.

Qual é o busílis?

Boa parte da bancada do PT na Câmara gostaria de apoiar Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é favorito — a menos que a Justiça decidisse fazer valer o que está no Artigo 57 da Constituição, que veta a reeleição. O relator é Celso de Mello. O caso não está pautado para esta quarta. Mello deve escolher não escolher — vale dizer: manterá o tribunal longe dessa. A chance de Maia ser reeleito é grande, embora já não se aposte que possa vencer no primeiro turno.

O Centrão, por exemplo, está dividido em três grupos. Um vai de Maia, que tem o apoio de 10 partidos. Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), que integram o grupão, também lançaram os respectivos pleitos. Agora os petistas dizem que vão mesmo apoiar Figueiredo. Se acontecer, Maia perde alguns votos. E há ainda Júlio Delgado (PSB-MG), que ainda vai acabar tornando célebre de novo a palavra “anticandidato”. Sim, existe, mas é só para marcar posição.

Para registro: petistas acham que Maia os trata dignamente no comando da Casa, daí a aproximação. Mas as ditas bases se revoltaram com o apoio a um candidato de um partido que consideram “golpista”. E foi Lula quem bateu o martelo. Sem essa de apoiar o democrata.

Não há a menor chance de o único oposicionista vencer a disputa. Logo, a Presidência da Câmara estará necessariamente com um aliado do presidente Michel Temer. Se for Rodrigo Maia, garante-se o alinhamento mais ordenado em favor de objetivos estratégicos do governo — a reforma da Previdência, por exemplo. Ao lado disso, Maia continuaria a fazer o que tem feito no comando da Casa: manter as esquerdas por perto.

Essa proximidade será certamente menor com Arantes ou Rosso — e a esquerda longe é sempre bom —, mas pode haver mais dificuldade com esses objetivos de longo alcance. Acrescente-se: os dois parlamentares são mais sensíveis às chamadas aspirações das bases. O governo Temer teria de conversar mais, de negociar mais, de dar mais cargos…

Mas como será?

Maia é, sim, o favorito, apesar da pendenga judicial. Ele e aliados acham que a Constituição só veda a recondução de um deputado para o mesmo cargo na Mesa se este cumpriu o mandato de dois anos. Isso não está na Constituição. É uma interpretação, digamos, livre. O tribunal vai entrar nessa?

Adversários do democrata também recorreram à Mesa da Câmara. A alegação é que a candidatura fere o Regimento Interno. Bem, se o que está escrito no Artigo 5º faz sentido, fere mesmo. A decisão caberá ao vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA). Ele analisa o pedido na própria quinta. Como o Supremo decidiu não decidir, creio que dará um jeito de indeferir o pedido, aguardando o juízo da Corte.

Para encerrar
Alguns inconformados não entendem quando digo que considero Maia o melhor candidato, mas destacando, ao mesmo tempo, que avalio que sua candidatura é ilegal. Fazer o quê? Eu sou um legalista. Se um presidente da Câmara se candidata à reeleição contra o Regimento e a Constituição, meu dever profissional é informar isso ao leitor.

Se a presidente do Supremo faz uma homologação contra o Regimento Interno do tribunal, meu dever profissional é informar isso ao leitor.

E eu o faço ainda que possa ter simpatia por um, por outro ou por ambos.

Ao explicitar as duas coisas, deixo claro que nem sempre me sinto confortável com o lugar para onde a análise me leva. Aí eu teria uma de duas saídas: manter, como mantenho, a minha conclusão, ainda que me desagrade. Ou mentir para o leitor.

Não vai acontecer.

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