Ciro Gomes faz jogada de mestre e aposta no vácuo da esquerda
Ciro Gomes não é inteligência a ser desprezada. Ao declarar que não disputaria a Presidência contra Lula, outra coisa não fez do que se inscrever como a primeira opção esquerdista caso o ex-presidente não possa ser candidato. Jogada de mestre. Ele sabe que dificilmente teria apoio do Partido dos Trabalhadores. Mas sabe também que o partido não tem plano B. É nesse vácuo que investe. Compreendeu que o PT, sem seu criador e única estrela, é irrelevante.
Ao avaliar a terra arrasada em que a verdade transformou o partido e, pois, a decorrente inexistência de nomes petistas competitivos, e ao calcular que há chances crescentes de o ex-presidente se encontrar impedido de concorrer em 2018, Ciro ora se cultiva como postulante a preencher um espaço que desde 1989, muito mais do que do PT, foi de Lula (para que fizesse o que queria — inclusive Dilma).
Ciro Gomes faz, portanto, correta aposta no imponderável — a única que lhe é possível. A ausência de Lula — como candidato ou eleitor influente — em uma disputa à Presidência representaria, mais do que novidade, o desconhecido. Como se comportaria o eleitor de esquerda, aquele há décadas acostumado a afundar (o dedo) no 13? Ciro joga suas fichas em que seria o depositário pragmático dos votos viúvos do ex-presidente — ao menos em volume capaz de alçá-lo a um segundo turno.
A seu favor — e não importa se por retidão ou falta de oportunidade — há o fato de que não está entre os políticos citados pelos delatores da Odebrecht. Isso o deverá blindar até contra a obviedade de ser (ao menos hoje) filiado à linha auxiliar petista conhecida como PDT, de Carlos Lupi — que está na lista da empreiteira.
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