Coluna tira Serra do Itamaraty. Torço por Sérgio Amaral no lugar
José Serra, ministro das Relações Exteriores, entregou uma carta ao presidente Michel Temer pedindo demissão do governo. As especulações correm soltas. E todas sobre o nada. Vamos ver.
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O tucano alegou problemas de saúde. Lá se pode ler: “Faço-o com tristeza, mas em razão de problemas de saúde que são do conhecimento de Vossa Excelência, os quais me impedem de fazer viagens internacionais inerentes à função de Chanceler. Isso sem mencionar as dificuldades para o trabalho do dia a dia. Segundo os médicos, o tempo para o restabelecimento adequado é de quatro meses”.
Serra está mentindo ou guardando algo em segredo? Nada indica. Em dezembro de 2016, ele passou por uma cirurgia na coluna no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O senador apresentava um quadro de compressão da raiz nervosa e tinha problemas de estabilidade nas vértebras. A intervenção foi feita na região cervical.
Fato: o tucano tem se queixado de dores terríveis, o que o obriga a tomar analgésicos com frequência. Se fica muito tempo em pé, o desconforto é grande; permanecer sentado por muitas horas — uma viagem de avião, por exemplo — também é um suplício. Os médicos esperam que essas dores diminuam.
Quem acompanha o perrengue de perto sabe que tal condição é mesmo incompatível com a vida de um ministro das Relações Exteriores. Ele vai retomar a sua vaga no Senado. Estará, ao menos, dispensado das viagens frequentes.
Serra se ressente, hoje, sobretudo, da dificuldade de escrever porque, por óbvio, o ato força a região do pescoço em razão da posição. E, bem, ele é dos poucos políticos que redigem, no mais das vezes, o próprio texto. A rotina tem sido difícil.
Lava Jato?
Hoje em dia, tudo precisa ser submetido ao filtro da Lava Jato. Será que a operação e seus eventuais desdobramentos têm algo a ver com isso? Bem, rigorosamente nada.
Em uma das delações, um diretor da Odebrecht afirmou que foram depositados US$ 23 milhões no exterior, pelo caixa dois, para a sua campanha à Presidência de 2010. No que vai dar?
Não se se sabe. Seja lá o que for, a iniciativa será da Procuradoria-Geral da República, que vai se manifestar no Supremo. Nada muda para Serra em relação ao foro especial por prerrogativa de função. Deixa de ser ministro, mas continua senador.
A saída nada tem a ver com essa questão. Até porque a regra já foi definida por Temer. Ministro que se tornar réu vai deixar o governo. Não fosse seu estado de saúde, Serra teria ficado. Não haveria surpresas a respeito, qualquer que fosse a decisão da PGR e do Supremo.
Qualquer governo perderia quando um quadro como Serra dele saísse. Também vale para este, o que não quer dizer que não se possa escolher um substituto competente. Se eu estivesse na cadeira de Michel Temer, diga-se, nomearia Sérgio Amaral, hoje embaixador do Brasil nos EUA. Reúne todas as credenciais profissionais, intelectuais e políticas para o cargo.
No Senado
Serra é um senador operoso e certamente contribuirá para afinar o debate na Casa. O projeto original, tornado lei, que desobrigou a Petrobras de ser operadora única do pré-sal, por exemplo, é de sua autoria.
Há versões às pencas em casos assim. Quem convive mais de perto com o senador assegura que não tem qualquer fundamento a suposição de que possa estar com uma doença mais grave.
Até porque, dada a dor que sente, a coisa já é grave o bastante. Que se recupere logo!
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