Começamos a sentir na pele que Trump é mais do que um reality show
Em 2013, a então mera celebridade com muito dinheiro e ego alertou o presidente Barack Obama a não se meter em aventuras militares na Síria contra Bashar Assad pelo uso de armas químicas contra sua própria população.
Em 2016, o então candidato presidencial republicano alertou que Hillary Clinton era perigosa na sua belicosidade contra o genocida ditador sírio. Um engajamento militar americano no ingrato conflito poderia ser o estopim para a Terceira Guerra Mundial.
Tudo isso é história remota. Esta semana, literalmente da noite para o dia, o 45º presidente americano entrou mais fundo no lodaçal sírio. Viu imagens de bebês, vítimas dos ataques de Bashar Assad, e sentiu repulsa, um sentimento bem diferente da indiferença e mesmo hostilidade em relação a milhões de refugiados neste conflito sem fim.
Donald Trump, o presidente do slogan America First e cuja prioridade até o meio desta semana no Oriente Médio era dizimar o Estado Islâmico, lançou quinta-feira à noite mísseis contra o regime de Assad. Falando à nação e ao mundo, Trump disse que se tratava de uma punição ao “bárbaro ataque” e que a ação se inseria nos interesses nacionais americanos para impedir e deter o uso e alastramento de armas químicas.
Não tenho pena de um regime genocida e Assad no mínimo merece ir a julgamento por crimes de guerra e contra a humanidade. Mas, Donald Trump é um aventureiro, movido por impulsos e pela necessidade de reverter uma imagem cada vez mais negativa neste início tão caótico e improvisado do seu governo.
Acuado por investigações sobre possível conluio de sua campanha eleitoral com os russos, Trump vai à carga contra o dileto protegido de Vladimir Putin, arrastando os americanos a uma corrente patriótica e os aliados dos EUA a uma necessária solidariedade.
Ainda não sabemos se este ataque retaliatório contra uma base aérea é mais um recado ou o início de uma empreitada. Trump mostrou que pode, como se quisesse exigir um contraste ao frouxo Barack Obama, que demarcou uma linha vermelha que foi atravessada por Assad em 2013.
O que vem pela frente? Começamos a sentir na pele que Donald Trump é mais do que um reality-show. É uma realidade sem um claro e seguro roteiro.
Assista também ao comentário ao vivo de Blinder no Jornal da Manhã:
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