Essa ‘calma’ brasileira é só aparência; no subterrâneo, as coisas estão fervendo

Quem anda calado é o Supremo Tribunal Federal; as 11 celebridades estão quietas, mas isso passa

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 03/11/2020 13h23 - Atualizado em 03/11/2020 13h37
Reprodução/Facebook Bolsonaro e Eduardo Pazuello juntos, após o ministro da Saúde dizer que compraria a CoronaVac e ser desmoralizado pelo presidente

Não vamos nos esquecer. Nem nos enganar. A aparente calma brasileira é apenas aparente. No subterrâneo, as coisas estão fervendo como sempre. Quem anda calado é o Supremo Tribunal Federal. As 11 celebridades estão quietas, mas isso passa. Logo estarão nas manchetes com seus dissabores e vaidades. A falta de noticiário político deixa o Brasil sem as emoções costumeiras de todos os dias. É intriga de todos os lados. Dá para lembrar dos arrepios mais recentes para fazer esse retrato brasileiro de simulações. É bom lembrar. Nós esquecemos das coisas muito facilmente. Faz alguns dias, numa aglomeração em torno do presidente Bolsonaro, um coitado pediu ao presidente que baixasse o preço do arroz. E foi tão insistente que Bolsonaro, irritado, mandou o cidadão ir comprar arroz na Venezuela, bem ao seu estilo de homem de bem com a vida. E entre os fatos recentes, convém lembrar a ofensa que o ministro (?) do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que usou a rede social para chamar de “Maria Fofoca” o ministro-general do governo, Luiz Eduado Ramos. Chamar um ministro-general de “Maria Fofoca” e não acontecer nada é coisa rara em qualquer país que se deseja sério. O episódio lastimável terminou com uma volta de moto pelas avenidas de Brasília, tendo à frente o presidente Bolsonaro e como convidado o ministro-general, todos ornamentados como pilotos de Grande Prêmio.

Depois, o mesmo ministro (?) do Meio Ambiente, chamou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de “Nhonho”, aquele personagem da série “Chaves”, meio débil mental, gordo, dentuço, que nunca sabe das coisas, nem o que fazer da vida. Logo a seguir, o mesmo ministro (?) se apressou em dizer que a mensagem não foi feita por ele e que alguém utilizou o seu celular. É mesmo? Alguém usou o celular do ministro. Não foi ele. A Polícia Federal investiga. Conte-se, também, a guerra da vacina no Brasil. Bolsonaro garante que não compra a vacina chinesa do governador João Doria, mesmo que tenha eficácia. Em sua live, Bolsonaro disse textualmente: “Quer sua vacina? Compre com o seu dinheiro, não com o dinheiro federal!”. Que beleza! E João Doria, por seu lado, está gostando de tudo, passando a ideia de que ele esteja à frente do combate ao vírus chinês no Brasil, papel que caberia ao presidente do país. Mas como o presidente do país trata a pandemia com todo descaso, alguém vai tomando o seu lugar e isso talvez custe caro em 2022. Mas Bolsonaro quer mesmo andar de moto. Piloto de primeira linha. Um ‘ás’.

Houve também aquela visita de Bolsonaro ao ministro-general da Saúde, Eduardo Pazuello. O ministro pegou o vírus chinês. Mesmo doente, recebeu Bolsonaro, que conversava como se estivesse num bar. O ministro-general havia sido desmoralizado por Bolsonaro publicamente na questão da vacina chinesa. Ninguém sabe ao certo se o ministro-general humilhado tentou se tratar com os medicamentos que Bolsonaro receitou. O ministro-general está internado no Hospital Militar de Brasília. Gripezinha forte, essa. Esse episódio contrariou a ala militar do governo que está em guerra com a ala ideológica. É uma farra! Junto a isso, a Floresta Amazônica e o Pantanal pegando fogo, queimando, também, a imagem do Brasil no exterior. Depois, surgiu a ideia de privatizar o SUS. Foi um Deus nos acuda! Diante da reação, Bolsonaro acabou com a conversa em algumas horas. Quer dizer, tentou. O assunto ainda está sendo comentado. Fora isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ficou louco de repente e pôs a boca no mundo, falando sobre uma porção de assuntos delicados com uma raiva que não escondeu. O ministro demonstrou que está cheio. E a discussão de Bolsonaro versus Doria continua. É vacina para cá, vacina para lá, e vamos levando o barco até afundar de vez. E foi nesse clima que Bolsonaro visitou o Maranhão, onde, numa padaria da cidade de Macabeira, tomou o guaraná “Jesus”, que é cor-de-rosa. Com a latinha na mão, Bolsonaro perguntou, depois de beber: “Agora eu virei boiola igual o maranhense, é isso?”. Pegou mal. Pior de tudo é que o guaraná cor-de-rosa foi criado em 1927 pelo farmacêutico Jesus Norberto Passos, ateu e comunista. Imediatamente, o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, adiantou que processará o presidente. Na sua live, Bolsonaro pediu desculpas, dizendo que não quis ofender ninguém e que só estava conversando com um cara lá na padaria. Enquanto tudo isso acontece, o número de brasileiros mortos pelo vírus chinês já passou de 160 mil. O Brasil é mesmo um país emocionante. Por isso que todo mundo quer viver aqui. 

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