Além de mais de meio milhão de brasileiros, a pandemia matou o amor
Só no ano passado foram registrados 43.800 processos de divórcios no país, de acordo com dados do Colégio Notarial do Brasil
A pandemia matou o amor. “Até que a morte nos separe” não vale mais. Aquela cena de emoção e lágrimas diante do altar já está em desuso, tantas são as separações de casais e pedidos de divórcio. A culpa é da pandemia. O convívio prolongado cansou muita gente. Ninguém aguenta mais ninguém. Alguns ainda vão tentando, mas aquele grande amor, aquela jura de amor, o “até que a morte nos separe”, está condenado ao descrédito. Só no ano passado, 2020, foram registrados 43.800 processos de divórcios no país, de acordo com dados do Colégio Notarial do Brasil, o que representou 15% de aumento em relação a 2019. Além de mais de meio milhão de brasileiro, a pandemia matou o amor de muitos casais. Tem muito marido dormindo no sofá. E um divórcio não é simplesmente uma separação. Não. Há muitas implicações judiciais, além da guarda dos filhos, quando há.
O problema é que ninguém quer esperar o fim da pandemia para tentar resolver as questões que acabaram por afastar os casais. Está todo mundo correndo para terminar o casamento, ninguém quer dar um tempo. Nada disso. Desde 1977, as separações podem ser resolvidas nos cartórios. E, desse ano em diante, o número de separações vem crescendo, chegando à situação atual. Dados do IBGE informam que, em cinco anos, o aumento de separações chegou a 75%. Só no mês de julho de 2020 foram 7.400 pedidos, o que representou um crescimento de 260% em relação aos meses anteriores. A maior parte das separações são feitas nos cartórios de notas. O aumento de divórcios se confirmou em 2021. Nos cinco primeiros meses do ano foram 29.985 separações. São Paulo está em primeiro lugar em divórcios, seguido do Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Some-se às separações dos casais as brigas constantes em que as mulheres são agredidas pelo parceiro. Além do desamor, a pandemia também provocou a violência.
Chegou-se a um ponto em que as separações são resolvidas até por videoconferência, conforme determina norma do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Não faz muito tempo, os casais precisavam esperam ainda dois anos até chegar ao divórcio. O presidente do Instituto Brasileiro do Direito de Família, Rodrigo Cunha Pereira, observa que o mundo jurídico precisou se adaptar aos novos tempos. Explica que hoje já é possível fazer divórcio judicial ou extrajudicial de modo eletrônico. Basta que seja consensual e que o casal não tenha filhos menores. A convivência excessiva e o estresse acabaram com o amor que seria para sempre. As incompatibilidades ficaram mais evidentes, gerando especialmente mágoas difíceis de contornar. Em geral, os casais saem do casamento psicologicamente desgastados. Um sentimento de solidão e fracasso difícil de superar. E o desgaste é tanto que continuar vivendo sob o mesmo teto tornou-se impossível. A pandemia veio para isso também. Aquela frase de amor deixou de existir. Tudo deixou de existir. Cada um segue para o seu lado e ponto final.
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