Crise no Inep às vésperas do Enem mostra que a educação é um setor abandonado no Brasil

Exame que dá acesso às universidades está sempre cercado pela incompetência e até roubo de provas já aconteceu; falta trabalho, seriedade e gente que entenda do assunto

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 10/11/2021 13h55
ADAILTON DAMASCENO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Prova do Enem Enem 2021 está programado para acontecer nos dias 21 e 28 de novembro

Se alguém vir o ministro da Educação, por favor comunicar-se com o Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes, Brasília, Distrito Federal, telefone (61) 3411-1221. O ministro ainda não sabe que o Enem deste ano está ameaçado e pode não acontecer. Por incompetência. O ministro pastor Milton Ribeiro ainda não se tocou. Na verdade, diante de tudo que está acontecendo, o ministro da Educação preferiu ir para Paris, a convite da Unesco. A incapacidade é tanta no setor da Educação que o Enem corre o risco de não ser realizado, embora já tenha até data marcada. Mais de 3 milhões de alunos de escolas públicas se mostram apreensivos. Responsável pela realização dos exames, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) está caindo aos pedaços. Nunca esteve nessa bagaça em que está hoje. Pelo menos é o que diz o ex-presidente do órgão, Francisco Soares, afirmando que o Inep está fora de controle.

Na segunda-feira, 8, chegou-se no limite: 35 funcionários do instituto, entre eles dois coordenadores diretos do Enem, pediram demissão. Isso ocorre às vésperas da prova que dá acesso às universidades. Soares afirma não lembrar de outra ocasião com essa gravidade nos últimos 20 anos. Observa que algo muito sério deve estar acontecendo para explicar esses pedidos de demissão em massa, especialmente nessa época. E isso é motivo de preocupação de todos que estão envolvidos com a educação no Brasil. E o ministro da Educação não sabe de nada, melhor dizendo, finge que não sabe. O primeiro presidente do Inep escolhido na era Bolsonaro, Marcos Vinícius Rodrigues, critica o ministro Milton Ribeiro, dizendo que a atual equipe que cuida da Educação no país é muito fraca. E agora é muito tarde para reverter esse quadro. “Estamos ferindo de morte o órgão diretor da educação brasileira”, diz ele em entrevista ao jornal O Globo. Marcos Vinícius pergunta: “Onde está a cabeça desse ministro?”. E pergunta mais: “Ele funciona com a própria cabeça ou é má-fé?”

Na avaliação de ex-presidentes do Instituto, o atual titular, Danilo Dupas, perdeu o controle do Inep. Os funcionários do Instituto acusam Danilo Dupas de assédio moral. Esse quadro atual põe em risco a realização do Enem, além de outras provas e políticas do Ministério da Educação. No fundo, essa crise no Inep prova a incompetência do governo em lidar com a Educação no país. Em 3 anos de governo, Bolsonaro trocou o presidente do Inep quatro vezes e isso dá bem a ideia da atenção que se dá à Educação no Brasil. Pode-se dizer sem erro que a Educação é um setor abandonado. Vai seguindo o seu caminho aos tropeços. Não tem uma política definida. Basta dizer que neste governo a diretoria do Enem já foi comandada por um tenente coronel-aviador e por um general da reserva. São pessoas que devem merecer nosso respeito, mas nada têm a ver com Educação. Quer dizer: isso chega ao deboche absoluto. Tinha quer dar nisso mesmo.

O ministro não tem alcance de avaliação para perceber que o Enem corre perigo. E no meio desse grave problema, o senhor ministro resolveu viajar nesta segunda-feira, 8, para Paris, onde participará da Conferência Geral da Unesco. Ficará em Paris uma semana. Chega a ser inacreditável. Não mostra nenhuma preocupação com o destino do Enem. Antes de viajar para Paris, Milton Ribeiro garantiu que o Enem será realizado nos dias 21 e 28 de novembro. E do alto de sua “autoridade” disse que não está preocupado com a desconfiança dos estudantes, especialistas e parlamentares federais. Para o ministro, está tudo correto. Certamente o ministro nem sabe que mais de 3 milhões de alunos de escolas públicas estão inscritos para fazer o exame de acesso à universidade. Na verdade, o Enem está sempre cercado pela incompetência. Sempre. Na história do Enem até roubo das provas já aconteceu. Acontece de tudo. O que falta mesmo é trabalho e seriedade. Falta gente que entenda de Educação. Do jeito que está não dá mais. 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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