Não bastam os 170 mil brasileiros mortos pela Covid-19, em breve vai começar uma guerra pela vacinação

É possível que o plano de vacinação contra o vírus chinês no Brasil esteja pronto na semana que vem, mas ninguém sabe ainda qual será a primeira vacina a ser comprada para distribuição

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 27/11/2020 12h33
EFE/EPA/WU HONG Ainda não se sabe qual será a vacina contra a Covid-19 que fará parte do Plano Nacional de Imunização (PNI)

O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, não fala. Não que ele seja mudo. Não. Ele só fala o necessário. É a hierarquia militar. Mas nesta quinta-feira, 26, o general falou sobre o planejamento do governo para a vacinação da população. O ministro garantiu que a população pode ficar tranquila. Ninguém precisa ficar louco com nada. O plano de vacinação contra a Covid-19 será fechado quando o Brasil tiver nas mãos os dados logísticos das vacinas. Pazuello revelou uma leve contrariedade que vem sentindo por causa desse assunto. Mas todo mundo pode ficar tranquilo. É possível que o plano de vacinação contra o vírus chinês no Brasil esteja pronto na semana que vem. Há quem diga no governo que o plano será apresentado na segunda-feira próxima. O grupo de trabalho para cuidar da questão se reuniu na terça-feira, 24 e nesta quinta, 26, para tratar da questão que começa a provocar alguma preocupação. Conversaram bastante, escreveram, escreveram, conversaram, tomaram muito cafezinho amargo e encaminharam o que foi possível encaminhar. Todo mundo saiu da reunião com a ideia de que tudo está resolvido. Está resolvido uma conversa.

De um país que não consegue distribuir 7 milhões de testes da doença não se pode esperar muita coisa. Os testes estavam perdendo a validade num galpão do governo federal no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. O presidente Bolsonaro põe a culpa nos governadores e nos prefeitos. Já os governadores e os prefeitos dizem que o culpado é Bolsonaro. O fato é que os 7 milhões de testes estavam lá escondidos, armazenados, abandonados – qualquer palavra serve. E tudo perdendo a validade. É uma várzea que dá pena. Mas vamos voltar ao assunto da vacinação. Vazou da tal reunião dos técnicos do Ministério da Saúde que a intenção é fazer a distribuição das vacinas simultaneamente em todo o país. Áreas que estejam sofrendo um maior surto da doença poderão ser priorizadas. O plano que poderá ser divulgado na segunda-feira próxima não será definitivo. Dependerá dos testes clínicos das principais vacinas desenvolvidas no Brasil e em outros países. Em princípio, pensa-se seguir as normas logísticas do Plano Nacional de Imunização (PNI), utilizadas em todas as campanhas de vacinação no país. Há um detalhe no rascunho do plano: as vacinas deverão ser distribuídas preferencialmente por vias terrestres e nos lugres mais distantes por barcos e aviões. Nossa, que coisa incrível.

O maior problema é o governo federal não saber ainda que vacina ou vacinas comprará para distribuir. Os brasileiros não poderão escolher a vacina que vão tomar. Tem que ser a que estiver disponível. É o que diz a microbiologista e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, Natália Pasternak. Em entrevista ao Jornal da Manhã da Jovem Pan nesta quarta-feira, 25, ela afirmou que a população não poderá escolher a vacina, observando que o Brasil tem uma boa experiência em realizar campanhas de vacinação. E a vacinação contra a Covid-19 não representará um desafio. O importante é se planejar o mais rápido possível. Seria um absurdo ter uma vacina aprovada e não ter um plano de imunização. Aí não dá! O programa de vacinação do governo está sendo concluído por dez grupos técnicos que incluem funcionários do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional dos Secretários da Saúde e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais da Saúde. Ninguém sabe ainda qual será a primeira vacina a ser comprada para distribuição. O governo trabalha com vários cenários. Mas isso soa esquisito porque infelizmente a doença não é levada a sério no Brasil, a começar pelo próprio governo que trata o vírus com descaso.

Há ainda uma questão pendente. O presidente Bolsonaro afirmou que não comprará a vacina chinesa, desenvolvida juntamente com o Instituto Butantan, do governo de São Paulo. Seria a “vacina chinesa do Doria”. Não vai comprar. O problema está no STF, nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, que marcou o julgamento da ação para o dia 4 de dezembro. O ministro do STF já adiantou que se a vacina chinesa for aprovada em eficiência pela Anvisa, o governo tem de comprar. Não tem conversa. Tem de comprar. Até porque o Brasil é dos brasileiros, não tem um dono exclusivo. Quer dizer: eu não tenho muita certeza disso, mas é o que dizem as pessoas sábias que me aconselham nos momentos decisivos em que estou para desistir. Então eu acredito. Eu só acho que, por coerência e lógica, um país que não dá a mínima para a doença deverá proceder assim também no que diz respeito à vacinação. Ou não? Está errado? É o que eu acho. Mais de 170 mil brasileiros mortos não servem como argumento. Estamos agora na guerra da vacina. E brevemente começará a guerra da vacinação. O Brasil é um país emocionante.

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