Educar filhos hoje em dia: que linha seguir?

O maior desafio são as novidades tecnológicas: nossos pais eram felizes e não sabiam

  • Por Jovem Pan
  • 25/09/2024 18h06
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Racool_studio/FReepik Mãe olhando computador do filhol O que mais me dá arrepio são os videozinhos curtos de assuntos aleatórios que são encontrados no Tik Tok, YouTube Shorts e os reels do Instagram

As pessoas me perguntam se eu sigo alguma linha de educação. Sigo: salve-se quem puder. Todas as fases são maravilhosas e desafiadoras. Mas pré-adolescência… vou te contar. Sabe quando a gente está em home office, no meio de um e-mail complicado, que deveria ter sido enviado há quatro horas, e o filho vem perguntar: “Mãe, posso comer Nutella?”. Resposta objetiva e óbvia: “Claro que não”. Ele aceita? Claro que não. Então começa a chateação: “Mas eu não como faz um mês (não tenho como saber), você prometeu há sei lá quanto tempo (não vou lembrar nem a pau)…”. De repente a fala dele vira um ruído e ficamos lutando para manter a concentração no e-mail. Quando nos damos conta, já escrevemos: “Caro, segue anexo um pedido de Nutella. Peço que faça seus comentários, para que eu possa proceder com o trabalho. E fica quieto, se não vai de castigo. Aguardo retorno. Atenciosamente, Bia”.

Alimentação é um desafio do momento, que o rebento nasce e não pega no peito até quando ele quer comer donut de jantar. Mas nem sempre a culpa é deles. Tem dias que estou tão cansada que é mais fácil ir a Marte do que fritar um bife. Às vezes me pergunto intimamente se fica chato dar pipoca de jantar. De tempos em tempos, resolvo dar uma geral no quarto dele, enquanto está na escola. É claro que ele volta e diz que eu perdi uma pecinha mínima do Lego que, segundo ele, é rara e vale 25 mil reais no Mercado Livre. Resultado: choro + “Você é a pior mãe do mundo!”. Depois de uma hora de tortura, entro decidida em seu quarto: “Vamos achar essa maldita!”. Viramos o cesto de Lego e surpresa: achamos a peça em menos de cinco minutos. Sorrisos + “Você é a melhor mãe do mundo!”.

Agora, desafios mesmo, são as novidades tecnológicas. Nossos pais eram felizes e não sabiam. Começando pelo celular. Esse assunto é complicado pelo simples fato de que dizemos que eles são viciados, enquanto nós somos os primeiros adictos. O que mais me dá arrepio são os videozinhos curtos de assuntos aleatórios que são encontrados no Tik Tok, YouTube Shorts e os reels do Instagram. Aprendi isso porque proibia um, ele ia pro outro. Não vou mentir: eu ainda não sei lidar com essa realidade. Determino um tempo para usar o celular, fico de olho no conteúdo, faço o que posso, mas, confesso, às vezes tenho vontade de resolver o assunto me mudando com ele pro Tibet.

Em relação aos joguinhos, seja de celular, computador ou videogame, além de serem alucinantes, trazem uma realidade muito difícil de gerir. Os gastos dentro dos jogos. Se antes a gente juntava o dinheiro da mesada na gaveta da escrivaninha, para ir a uma loja de brinquedos, hoje ela vai pra uma conta jovem, 100% virtual. Voltávamos para casa com uma Barbie ou um boneco do Comandos em Ação, em carne e osso (borracha e tinta). Hoje eles dizem que compraram uma skin (trajes e dancinhas para os personagens do jogo), bolas virtuais para caçar pokémons ou gemas de pedras preciosas que liberam fases. Nem tenta entender. Só sei que, se juntar tudo o que meu filho já gastou com isso, dava pra comprar um diamante de verdade.

Mas, apesar das dificuldades, estar com o meu filho é minha maior alegria. Sou a mãe que tenta não deixar comer o creme de avelã, mas conto histórias da minha infância e da dele só para ouvir sua risada. Sou a mãe que quer estourar milho no micro-ondas pro jantar, mas que se delicia com a hora da conversa. Perco a pecinha especial de encaixar, mas busco na escola pra matar as saudades e saber das novidades. Faço e recebo carinho. Aí me perguntam, mais uma vez, qual a linha de educação que eu sigo. Pensando bem? A linha do amor.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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