Meu avô: 97 anos e é só o começo

Cada ano que passa ele fica mais forte

  • Por Bia Garbato
  • 10/04/2024 10h03
Freepik Mãos dadas homem idoso e mulher Vovô Júlio caminha todos os dias com a minha avó

Hoje meu avô faz 97 anos, com uma cabeça invejável e um bom humor impressionante. Às vezes fica meio esquecido, mas nada que não esteja acontecendo comigo. Vovô Júlio caminha todos os dias com a minha avó. Faz pilates. Não tem um dia que não faça a professora rir. Quando dá, vai de escada, já que elevador é coisa para preguiçosos. Remédios? Não, obrigado. Pressão em dia, colesterol nem sabe o que é, glicemia de parabéns. Adora jogos, desde que sejam de futebol ou gamão. Não perde uma partida do Flamengo e o toque do seu celular é o hino do clube. Doce? Ah, ele gosta. E como gosta. Mas como não amar, vivendo com minha avó, doceira de mão cheia. Suas preferências são creme de abacate, goiabada com queijo, papa de milho (curau), banana da terra frita, sorvete de tapioca e, o topo do mundo, arroz doce. A paixão pelo arroz doce divide comigo. Confesso que, certa vez, hospedada na casa dele, havia sobrado um pouco e eu estava doida para comer, antes de dormir. Eu sabia que ele teria a mesma ideia, então guardei o pote na gaveta de legumes e cobri com abobrinha. Só ouço ele gritando: “Isa, acabou o arroz doce?”. E minha avó, que se chama Heloísa, respondeu: “Se não tem na geladeira, acabou.”. Mal sabiam eles.

Quando éramos pequenos, estava sempre numa cadeira de balanço, onde nos colocava no colo e cantava: “Eu sou o pirata da perna de pau, do olho de vidro, da cara de mau…”. Nós morríamos de medo. Sua audição não anda lá essas coisas, mas, quando não escuta a conversa na mesa, só sorri. Adora ver a família reunida, principalmente os bisnetos brincando. Não escutar bem tem lá suas vantagens. Não ouve a gritaria. Lê o jornal “O Globo” inteirinho e assiste ao “noticiário” todos os dias. Escuta as notícias mesmo durante as refeições.

Tem algumas paixões:

  • Esporte. Como é alto, principalmente pra geração dele, foi da equipe carioca de basquete. Remava na lagoa, nadava no clube regatas do Flamengo e, já mais velho, não faltava na hidroginástica.
  • A natureza. Aprecia dias quentes com céu azul. Mora em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas. Não é incomum vê-lo na janela, apreciando a paisagem. Adora o Rio de Janeiro, mesmo com 40 graus.
  • Bichos. Crescemos às voltas com cachorros e passarinhos (na gaiola, mas eram outros tempos). Ele assobiava e os canários cantavam de volta.
  • Música. Nat King Cole não nos deixa mentir.

Seu aniversário de 95 anos foi comemorado com um festão. Eu, infelizmente, não pude ir, graças a uma crise de asma. Quando meu avô chegou, radiante, me consolou: “Não fique assim, filhinha. Você vai à minha festa de 100 anos”. Não tenho dúvida. Quando éramos mais novos, fazia questionário de geografia: “Qual a capital do Chile?”. E lá íamos nós chutando alto. De aniversário, ganhou uma “Alexa”, para enchê-la de perguntas na falta dos netos. Tudo isso faz do meu avô um homem forte, saudável e adorável. O fato é que ele é nossa grande inspiração. Estarei pra sempre deitada no colo dele, na cadeira de balanço. Mesmo com medo do pirata da perna de pau.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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