O choro causado pelo ‘fru-fru’ multicolor metalizado: As mães também enlouquecem

Numa sexta-feira dessas, fui buscar meu filho numa balada neon e me encantei com um acessório divino que ele carregava no pulso

  • Por Bia Garbato
  • 11/05/2022 10h00
Reprodução/Freepik Mãe e filho em um cômodo da casa Quem viu "Flash Dance" sabe o valor de um fru-fru multicolor metalizado

Numa sexta feira dessas fui buscar meu filho de 9 anos numa balada neon. Luzes coloridas girando freneticamente numa pista de dança improvisada na sala de estar. Eu, que tenho labirintite, entrei de óculos escuros. Ao encontrá-lo, notei que ele estava com um fru-fru simplesmente divino no pulso. Quem viu “Flash Dance” sabe o valor de um fru-fru multicolor metalizado. Antes de dar oi, mamãe pediu gentilmente para que, depois da festa, ele lhe desse o adereço. Só que o filhinho respondeu de bate pronto: “Nem que a pau, mãe” (ele fala desse jeito fofo mesmo). No dia seguinte, voltei a dar uma de piduncha. Para a minha tristeza, recebi logo uma negativa. Mas era uma questão de tempo, uma hora ele ia ceder. Mais tarde, fomos a uma festa de um amigo meu. Só para me irritar (interpretação minha), ele carregava no pulso o objeto reluzente. Era um acessório um tanto histérico, mas meu filho é autoconfiante pra caramba. Então, em um ato de pena e sadismo, ele ofereceu de me vender o fru-fru. Nem respirei e topei. Naquele momento, ele podia pedir uma espada original do Naruto vinda do Japão que eu estava disposta a dar. Ao invés disso, ele pediu 40 reais, mas me deu 25% de desconto (condições especiais pra família), deixando por 30 reais, conta que a mamãe ficou orgulhosa de vê-lo fazer. Voltamos para casa e eu dormi com o coração feliz de quem sabia que no dia seguinte seu rabo de cavalo ia brilhar.

Era domingo. Estávamos hospedados na minha mãe. Alguns irmãos e sobrinhos vieram visitar. Eu estava na cozinha roubando ilegalmente um pedaço de Colomba Pascal (era meio-dia e meia tsc tsc), quando meu fofo adentrou o recinto e soltou animado: “Mamãe, eu dei o fru-fru pra Laurinha” (uma priminha linda de 3 aninhos). Eu: “Qual fru-fru?” Ele: “O brilhante.” Mamãe: “O meu fru-fru?” Por um instante minha vista escureceu e um calor menopáusico subiu pelo meu pescoço. Ele estava feliz em me mostrar a sua generosidade e eu, cega, ignorava os laços sanguíneos e só queria enforcá-lo. Eu até podia ficar um pouco chateada. Eu sou humana. Mas ao invés disso dei um piti. “Eu te dou tudo, meu filho, tudo. Eu só queria o fru-fru e você deu pra sua prima. Sinceramente, não me peça mais nada…” E saí marchando como uma criança mais nova do que a Laurinha. No quarto, caí num pranto. Como ele pôde fazer uma coisa dessas com a própria mãe? Tentando protegê-lo da minha insensatez, o pai o levou para dar uma volta. No carro, meu filho ligou para a mãe da amiguinha da balada neon, para ver onde ele podia, pelo amor de Deus, descolar um outro exemplar. Para seu desespero, o fru-fru havia sido comprado na América do Norte.

Quando ele voltou, veio direto falar comigo. Eu assoava o nariz compulsivamente, de tanto chorar. O chateei mais um pouco perguntando o porquê de ele ter feito uma coisa dessas comigo. Ele me explicou. Como minha sobrinha fofa tem pouco cabelinho (uma bochecha loira de olho azul), meu filho justificou sua atitude dizendo: “Mãe, eu quis mostrar a ela que ela pode usar um acessório de cabelo como as outras crianças, só que no pulso”. Lindo, não? Qualquer mãe que se preze se encheria de orgulho. Mas como uma mãe imatura e sedenta por vingança, esbocei meio sorriso e disse: “Tá, vai brincar pra lá”. Já não havia mais nada a fazer. Agora era seguir a vida sem fru-fru mesmo. Você acha que eu superei a questão? Em autoflagelo, fiquei me imaginando com um rabo lateral cintilante, gritando pelos anos 80. Passados alguns minutos, fiz meu último ato de desvario. Entrei no quarto do meu filho, que montava um lego de cabeça baixa, peguei uma mola maluca que estava na mesinha e, balançando-a no ar toda troncha, disse com voz rapidinha: “Você não quer trocar essa molinha, que você nem usa mais (menosprezando), pelo fru-fru?” O coitadinho pulou do chão que nem um gato, passou a mão na mola e saiu correndo para tentar corrigir o maior erro que cometeu em sua curta vida. Só sei que ele voltou com o fru-fru. Eu o enfiei no braço, sequei as lágrimas e lhe disse: “Eu te amo, meu filho”. Ele, então, reergueu as costas curvadas pelo peso da minha loucura e ainda disse, me fazendo arder em culpa: “Ficou lindo em você, mamãe”. Pronto, questão resolvida com uma boa conversa. Afinal, eu sou adulta.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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