Vida contemporânea: tá com tempo aí?
Como dar conta de tudo hoje em dia?
![Modelo feminina indecisa sem noção parece perplexa, encolhe os ombros, cercada de papéis, gadgets modernos](https://jpimg.com.br/uploads/2025/01/24093-675x450.jpg)
Atualmente, mensagem de WhatsApp tem que ser respondida na velocidade da luz. E-mail ainda tem um prazozinho maior, mas, se não manifestar rapidamente, te escrevem no WhatsApp. Pra mim, em determinado momento, tarefas profissionais e pessoais se misturam. Elencar prioridades vira mais uma tarefa da lista.
Eu sei que você vai tentar me convencer a usar a agenda do Google ou o calendário do iPhone. Agradeço a sugestão, mas minha idade mental (20? 60?) não consegue se desapegar da agenda da papelaria. Confesso que, às vezes, ela fica um caos, com escritos na diagonal e até na vertical, daqueles que você tem que virar a agenda ou a cabeça pra ler. Uso cores diferentes, como nos calendários digitais, mas, confesso que, em determinado momento, já não lembro o que cada cor quer dizer.
Quando parece que o mundo vai desabar na minha cabeça, classifico as demandas da seguinte forma:
- Alguém vai morrer se eu não fizer?
- Eu vou morrer se eu não fizer?
- Dá pra aguentar até amanhã? (deixe pra amanhã o que está difícil fazer hoje)
- Dá pra empurrar pra alguém? Opa, delegar?
- Sejamos sinceros, eu sei que não vou fazer isso (risca).
Vamos pro computador. Na verdade, pro nosso universo, nossa vida, nossa alma. Comecei a procurar essa crônica no meio de um monte de documentos abertos. Fui minimizando os arquivos: roteiro de uma palestra, lista de mercado, planilha de gastos (nunca de entradas)… Até encontrá-la, tive uma minicrise de pânico. Parte do problema é o medo de ter fechado o arquivo sem salvar. Uma vez perdi horas — eu disse horas — de dedicação. Tive certeza de que nunca mais teria ideias e sacadas como aquelas. Desesperada, rezei para a Nossa Senhora do Backup, afinal, quem guarda tem. Não era o meu caso.
Admito que tenho feito algumas trapalhadas. Como bola, esqueço palavras, às vezes compromissos. Tem vezes que dá pra se safar. Um dia desses, eu tinha uma reunião que jurava ser na sexta às 11h. Não era, era na quinta. Por sorte, apitou uma mensagem quando eu estava organizando a pasta “Downloads”. Alguém tem que fazê-lo. Então veio a pergunta: “Pronta?”. E eu respondi, como se estivesse olhando pra câmera aguardando a reunião: “Prontíssima!”
Não é só comigo. Quantas pessoas que eu conheço estão indo ao neurologista pra checar se têm Alzheimer? As máquinas de ressonância magnética nunca escanearam tantos cérebros. O fato é que, geralmente, não dá nada. Demência aos 40, queridos, é improvável. Aí somos encaminhados para o teste neuropsicológico. Às vezes, lembra o começo de tudo, quando tínhamos que encaixar a pecinha triangular no buraco do triângulo. Possivelmente, vai dar déficit de atenção. Não a doença, mas a ausência de concentração do nosso hard disk cheio pelas tampas.
E quando a gente acorda no meio da noite? Eu tento focar: xixi, água, xixi, água… Porque, se uma tarefinha pipocar na cabeça, esquece. Desde fazer uma apresentação importante a comprar a cebola que acabou. Tudo vira um monstro na cabeça quando o quarto está escuro.
A vida contemporânea não é fácil. Velocidade digital, excesso de informação, redes sociais hipnotizantes. Mas o importante é lembrar que, pior que cair a conexão da internet, é esquecer de se conectar com as pessoas. E agora me dá licença que eu vou riscar o item “escrever coluna da Jovem Pan” e descansar em paz.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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