Sexting e quarentena: a transformação da vida sexual durante a pandemia

Muitas vezes é comum que os comportamentos sexuais sejam vistos como tabus ou achar que o sexting possa ser algo inadequado ou descabido

  • Por Camila Magalhães*
  • 24/09/2020 08h00 - Atualizado em 24/09/2020 08h17
Pixabay Crianças e adolescentes devem ser protegidos das consequências do sexting

A pandemia, o distanciamento social, a quarentena… todos esses “nomes” estão associados a mudanças substanciais no cotidiano de todos. É difícil achar alguém que não tenha ou teve sua vida modificada em decorrência da Covid-19. E essa mudança invade todas as esferas da vida: o trabalho, a família, as amizades e, como não poderia deixar de ser, os comportamentos sexuais também passaram por modificações. Um estudo norte-americano feito durante a quarentena tentou analisar justamente isso: como o distanciamento social afetou a vida sexual das pessoas. Os pesquisadores fizeram um levantamento online com mais de 1.500 participantes, e encontraram alguns resultados interessantes: cerca de metade dos entrevistados relataram um “declínio” na vida sexual, como esperado, mas um em cada cinco relataram a adição de novas atividades no repertório sexual. O novo hábito mais comum, referido por quase 15% dos participantes, foi o “sexting”.

Você sabe o que é? Sexting é um termo inglês que vem da junção das palavras sex e texting, e que significa, a grosso modo, “sexo por mensagens de texto”. Não existe ainda um consenso sobre como traduzir essa palavra, e é comum existirem muitas gírias criativas e engraçadas pra ela, inclusive, se você conhecer alguma, pode deixar nos comentários! Independentemente do termo que se dê, é interessante ver que isso está fazendo cada vez mais parte da vida das pessoas. Muitas vezes é comum que os comportamentos sexuais sejam vistos como tabus ou achar que o sexting possa ser algo inadequado ou descabido. Contudo, temos de lembrar que o desejo se impõe, de uma maneira ou de outra, e acaba se adaptando e se inovando frente a mudanças bruscas em nossa realidade, como é o caso da pandemia.  A questão central é: sexting não é um comportamento sexual bizarro, mas também não é estritamente necessário. Está tudo bem gostar, e está tudo bem não gostar. O importante é a tranquilidade, a parceria, a mente aberta pra tentar coisas novas quando há confiança e consentimento entre as partes.

Por fim, devemos lembrar que sexting é um comportamento sexual. Desse modo, crianças e adolescentes devem ser protegidos das consequências do sexting. Um estudo recente mostrou que jovens estão cada vez mais expostos a este comportamento, o que não é surpreendente já que eles gastam cada vez mais tempo conectados. Os pais, portanto, não podem se eximir da responsabilidade de diminuir o tempo das telas e fiscalizar por onde e com quem as crianças andam no mundo virtual, mas devem saber que o desenvolvimento da sexualidade é um processo natural na adolescência que pode ser orientado a partir de um diálogo cuidadoso e respeitoso.

Pra saber mais, leia o próximo texto, que tratará especificamente sobre sexting na adolescência.

Se quiser sugerir algum tema para as próximas colunas, escreva para mim: dracamila@jovempan.com.br. Até a próxima!

*Dra. Camila Magalhães é médica psiquiatra, com doutorado pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, e escreve sobre saúde mental, comportamento e bem-estar

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