A mulher e o home office: como desfrutar da nova cultura de trabalho

Para evitar acumulo da atividade profissional e as demandas domésticas, é preciso haver equilíbrio entre a jornada remota e a presencial; ou seja, o modelo híbrido

  • Por Claudia Abdul Ahad Securato
  • 29/07/2022 08h00 - Atualizado em 29/07/2022 13h06
marymarkevich - www.freepik.com Mulher sorridente, de camisa rosa, sentada relaxada no sofá de casa, trabalhando online no laptop Segundo pesquisa, 73% dos trabalhadores preferem o modelo híbrido, que alterna períodos presenciais e telepresenciais

A pandemia impactou de forma irreversível o mercado de trabalho, pois a necessidade de distanciamento social acelerou mudanças culturais nos ambientes profissionais para a maioria dos setores. Em muitas áreas, houve a quebra do paradigma da obrigatoriedade de os trabalhadores permanecerem reunidos presencialmente em um único local durante todo o horário comercial. Em substituição, passou-se a aceitar e em seguida incentivar o teletrabalho, com inúmeras empresas chegando a afirmar que esta mudança seria definitiva, com implementação de equipes integralmente remotas. Esgotadas as medidas de distanciamento social, é possível começar a observar quais mudanças realmente se tornaram definitivas por escolha das empresas, a repercussão nos profissionais envolvidos, e em especial na rotina das famílias. Se por um lado a pandemia ensejou desemprego — e isso foi desproporcionalmente prejudicial às mulheres em relação aos homens —, por outro, a possibilidade de trabalhar em casa inicialmente trouxe a promessa de um melhor equilíbrio entre a vida familiar e a vida profissional.

Essa expectativa de poder passar mais tempo em casa, em teoria, seria benéfica às mulheres que sempre se esforçam para equilibrar as diversas funções que tradicionalmente exercem dentro e fora do lar. Contudo, o que se observou foi: ao trazer o trabalho para dentro de casa, rompeu-se a barreira entre as exigências profissionais e as necessidades domésticas, e transbordou o acúmulo de carga delegado a elas. Especialmente nos lares com filhos pequenos, idosos ou outras pessoas que dependam de cuidados especiais. O que antes se conhecia como dupla ou tripla jornada, com as tarefas domésticas e da maternidade iniciando logo após o fim do expediente de trabalho, passou a ser uma mistura de todas essas demandas, ao mesmo tempo e sem folga.

Ainda é cedo para avaliar os desdobramentos de longo prazo nas carreiras, mas, de maneira imediata, já se acompanha as consequências na produtividade do trabalho das mulheres que passaram a trabalhar em casa, acumulando a atividade profissional e as demandas da função de cuidados com os filhos e a casa. Sem contar, é claro, com o impacto emocional e a carga mental trazida pela sobrecarga de tarefas. A partir disso, é possível inferir que esse acúmulo de funções pode trazer prejuízos ao longo do tempo, menor visibilidade positiva perante o empregador, menos chances de crescer na carreira e como sequela maior dificuldade de ascender profissional e economicamente.

Cabe refletir sobre como é possível às mulheres desfrutarem de todo o panorama que se abre com essa nova cultura do mercado profissional, que permite trabalhar de casa, sem que isso provoque perda da produtividade, ou prejuízos às suas carreiras. A resposta dessa dúvida passa pelo equilíbrio entre o trabalho remoto e o trabalho presencial de maneira a manter em certa medida a divisão entre essas duas esferas, ou seja: modelos híbridos. Um estudo divulgado no final de 2021, feito pela consultoria Talenses Group em parceria com a fundação Dom Cabral, revelou que 73% dos entrevistados acreditam que o modelo híbrido, que alterna períodos presenciais e telepresenciais, é o melhor para suas funções (e para sua vida profissional como um todo).

Comparecer presencialmente ao trabalho durante apenas alguns dias da semana ou para atividades específicas pode ser a melhor forma de compatibilizar as diversas funções profissionais e familiares. Isso se aplica tanto às mulheres, que tradicionalmente acumulam essas funções, quanto aos homens, igualmente responsáveis pela educação familiar e manutenção da casa. O comparecimento presencial estimula a comunicação e troca de experiências junto aos pares, facilita a visibilidade perante superiores, além de ajudar na supervisão de subordinados. Ainda, limita as demandas familiares durante o horário comercial, permitindo concentração nos temas imediatos. Sem falar, é claro, que a interação e o contato entre colegas e amigos ajudam na saúde mental, em comparação com o isolamento contínuo.

Por outro lado, alguns dias em trabalho exclusivamente remoto permitem acompanhar as rotinas diárias que talvez em outros momentos tenham sido delegadas a cuidadores, ajudam na aproximação entre os membros da família. Para casais ou familiares que dividam uma casa e que tenham essa possibilidade de flexibilização, o modelo híbrido pode trazer inúmeros benefícios. É possível alternar quem é o responsável pela casa e pelas crianças em dias diferentes, ou combinar dias em que todos estejam em casa para atividades juntos. Com o aumento da quantidade de empresas que implementarem modelos híbridos, espera-se que as mulheres possam recuperar os espaços que foram perdidos durante a crise recente. As empresas têm muito a ganhar com o bem-estar de seus empregados e seu equilíbrio de vida, assim como as famílias têm a ganhar com a segurança de trabalho de seus provedores. A retomada dos espaços de trabalho pelas mulheres, com certeza, contribui para a sociedade como um todo, permite seu crescimento pessoal e profissional e possibilitará superar os efeitos negativos da pandemia.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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