Operação contra Zambelli e ‘Vermelho’ também pega assessor de irmão da deputada e outro hacker da Vaza Jato

Segundo relatório da PF, assessores teriam transferido ao hacker a quantia de R$ 13,5 mil; em coletiva, deputada federal alegou que pagamentos foram por serviços de melhorias em seu site

  • Por Claudio Dantas
  • 02/08/2023 11h54 - Atualizado em 02/08/2023 12h17
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FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Carla Zambelli em evento de filiação ao PL A deputada federal Carla Zambelli em evento de filiação ao PL em Brasília

A operação deflagrada hoje por Alexandre de Moraes contra Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti, o Vermelho, também tem como alvos Thiago Eliezer, outro hacker envolvido na Vaza Jato, e os assessores parlamentares Jean Hernani Vilela, do gabinete de Zambelli, e Renan Cesar Goulart, assistente do deputado estadual Bruno Zambelli, irmão da deputada federal. Todos tiveram seus sigilos bancários suspensos por ordem do ministro, acolhendo pedido da Polícia Federal. Delgatti foi preso preventivamente, os demais sofreram busca e apreensão em seus endereços pessoais e profissionais. Segundo relatório da PF, mencionado na decisão de Moraes, Goulart teria transferido via PIX a quantia de R$ 10,5 mil ao hacker, enquanto Vilela teria pago outros R$ 3 mil, também por PIX — em outubro de 2022 e janeiro de 2023, respectivamente. Eliezer é apontado por Delgatti como responsável por emitir alvarás de soltura falsos pelo sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A PF trabalha com a hipótese de que Delgatti, a pedido de Carla Zambelli, teria invadido sistemas informáticos do CNJ, “com o objetivo de expor eventuais vulnerabilidades dos sistemas do Poder Judiciário brasileiro, como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral”. Além disso, o hacker teria incluído no sistema do CNJ mandado de prisão em desfavor do ministro do Supremo, e ainda viabilizado, com apoio de Thiago Eliezer, a emissão de alvarás de soltura de vários presidiários. O caso começou a ser investigado na Justiça Federal do DF, mas acabou remetido ao STF por suposto envolvimento de autoridade com foro de prerrogativa de função, no caso, a deputada federal do PL.

Em coletiva há pouco, Zambelli negou envolvimento com os crimes e alegou que pagou o hacker para realizar melhorias em seu site. “O que eu tinha subcontratado era melhorias no site, questão de firewall e ligar minhas redes sociais ao site. Ele não conseguiu realizar essa tarefa”, alegou. Segundo ela, Delgatti lhe pareceu uma “boa pessoa” e dizia que estava passando “por momentos difíceis”, por isso não cobrou a devolução do dinheiro pelo serviço não prestado. “Eu não fraudaria eleições para o Lula ganhar e nem seria tão barato assim.” Para a deputada, as acusações seriam mais uma tentativa de “envolver o presidente” num plano golpista. Ela confirmou que levou o hacker para um encontro com Bolsonaro, que o teria questionado sobre a segurança das urnas.

Em depoimento à PGR, Delgatti afirmou “ter sido o responsável pela invasão do sistema do CNJ, sendo que fez vídeos, prints e criou um PDF com o passo-a-passo demonstrando como invadiu, sendo que tudo isso está no seu computador (…) que a invasão começou, salvo engano, em setembro de 2022, sendo que, até a presente data, o declarante ainda possui acesso a determinados sistemas do CNJ, a exemplo do SINAPSE, CODEX, SISBA]UD, NEXUS e KEYCLOAK (inteligência artificial) etc; que o declarante sabia de um bug no site do GITHUB, que dava acesso a arquivos ‘secrets’ e arquivos que armazenam chaves e tokens de APis, que são acessíveis apenas ao proprietário do código”. Segundo a PGR, Vermelho “afirmou que a deputada federal teria se aproximado dele, em setembro de 2022, pois queria que ele invadisse uma eletrônica, ou qualquer sistema da Justiça Brasileira, para demonstrar a fragilidade do sistema judicial”.

“(…) QUE o declarante não conseguiu invadir o TSE, mesmo após diversas tentativas, pois o código fonte da Urna Eletrônica não fica hospedado em um computador com acesso à Internet, mas fica em um computador offline, não sendo possível o acesso externo ( … )’”, relata o Ministério Público. E que, então, Zambelli lhe teria pedido para “obter conversas comprometedoras do ministro Alexandre de Moraes, invadindo seu aparelho celular e seu email”, o que também não ocorreu, apesar de supostas tentativas de cooptação de funcionários de empresas de telefonia. Segundo Moraes, a “a conduta do investigado, narrada pela Polícia Federal, revela-se ilícita e gravíssima”.

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