Se vale para G. Dias, deve valer para Anderson Torres

Versão de número 2 de Dino pode servir aos ingênuos, mas não sobrevive a 15 minutos de questionamentos de um Polícia Federal independente ou de uma comissão parlamentar de inquérito

  • Por Claudio Dantas
  • 24/04/2023 13h38 - Atualizado em 24/04/2023 15h02
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SERGIO DUTTI/ESTADÃO CONTEÚDO Lula e Gonçalves Dias O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa de cerimônia de promoção do General Gonçalves Dias no Clube do Exército, em Brasília, em abril de 2010

Ricardo Cappelli ensaiou uma tese para tentar blindar o general lulista Gonçalves Dias — e de quebra o ministro Flávio Dino e o presidente Lula — de uma investigação por omissão ou conivência em relação aos atos de 8 de Janeiro. “O general Heleno ‘pilotou o carro’ por 4 anos e entregou o ‘veículo’ avariado e contaminado para o general G. Dias, que pilotou por apenas 6 dias. No 7° dia, o carro pifou. De quem é a culpa? Não é possível falsificar a história. Conspiração não passa recibo”, escreveu. De fato, não é possível falsificar a história e a CPMI dos atos antidemocráticos será instalada na quarta-feira 26 com o propósito de buscar a verdade dos fatos daquele fatídico domingo, responsabilizar a todos e consolidar uma versão histórica mais próxima possível da realidade.

Fato é que Gonçalves Dias era o ministro-chefe do GSI desde a posse de Lula e teve dois meses de transição para avaliar as práticas da gestão anterior, resolver pendências e trocar a equipe. Nesse período, ele teve contato direto com o general Carlos José Russo Penteado, que era o secretário-executivo, indicado pelo Exército. São as Forças Armadas que indicam os 4 generais do GSI, cabendo ao ministro nomear os demais militares e civis. Ou seja, na prática, os funcionários da gestão anterior mantidos por G Dias tinham o seu aval e o dos comandantes militares de Lula.

Em seu depoimento à Polícia Federal na semana passada, G. Dias deu o recado ao dizer que o GSI não foi convidado para a reunião do Plano de Ações Integradas, ocorrida na antevéspera da invasão, que não recebeu informações prévias da Abin e que o acompanhamento dos movimentos antidemocráticos era “de atribuição do Ministério da Justiça, da Secretaria de Segurança Pública e do Ministério da Defesa”. 

As investigações que correm no Supremo têm como objetivo identificar quem organizou, financiou e atuou nos atos de vandalismo, mas também quem se omitiu. Nesta última categoria, Alexandre de Moraes só enquadrou até agora Anderson Torres, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Preso há mais de 100 dias, ele havia assumido o cargo no dia 1 de janeiro, assim como G. Dias. Consta que havia nomeado apenas duas pessoas de sua cota pessoal, embora pudesse trocar dez cargos. Seu advogado poderia usar o mesmo argumento de Cappelli e dizer que Torres recebeu um carro avariado do antecessor Júlio de Souza Danilo e que o estava pilotando havia 6 dias. Será que cola?

A versão de número 2 de Dino pode servir aos ingênuos, mas não sobrevive a 15 minutos de questionamentos de um Polícia Federal independente ou de uma comissão parlamentar de inquérito. Afinal, como fica a responsabilidade do próprio ministro da Justiça, previamente informado do risco de depredação dos prédios públicos? Enquanto assistia à invasão da janela de seu gabinete, Dino telefonou para Lula, José Múcio ou mesmo para G Dias? O que têm a dizer os comandantes militares? E Lula?

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