Se vale para G. Dias, deve valer para Anderson Torres
Versão de número 2 de Dino pode servir aos ingênuos, mas não sobrevive a 15 minutos de questionamentos de um Polícia Federal independente ou de uma comissão parlamentar de inquérito
Ricardo Cappelli ensaiou uma tese para tentar blindar o general lulista Gonçalves Dias — e de quebra o ministro Flávio Dino e o presidente Lula — de uma investigação por omissão ou conivência em relação aos atos de 8 de Janeiro. “O general Heleno ‘pilotou o carro’ por 4 anos e entregou o ‘veículo’ avariado e contaminado para o general G. Dias, que pilotou por apenas 6 dias. No 7° dia, o carro pifou. De quem é a culpa? Não é possível falsificar a história. Conspiração não passa recibo”, escreveu. De fato, não é possível falsificar a história e a CPMI dos atos antidemocráticos será instalada na quarta-feira 26 com o propósito de buscar a verdade dos fatos daquele fatídico domingo, responsabilizar a todos e consolidar uma versão histórica mais próxima possível da realidade.
Fato é que Gonçalves Dias era o ministro-chefe do GSI desde a posse de Lula e teve dois meses de transição para avaliar as práticas da gestão anterior, resolver pendências e trocar a equipe. Nesse período, ele teve contato direto com o general Carlos José Russo Penteado, que era o secretário-executivo, indicado pelo Exército. São as Forças Armadas que indicam os 4 generais do GSI, cabendo ao ministro nomear os demais militares e civis. Ou seja, na prática, os funcionários da gestão anterior mantidos por G Dias tinham o seu aval e o dos comandantes militares de Lula.
Em seu depoimento à Polícia Federal na semana passada, G. Dias deu o recado ao dizer que o GSI não foi convidado para a reunião do Plano de Ações Integradas, ocorrida na antevéspera da invasão, que não recebeu informações prévias da Abin e que o acompanhamento dos movimentos antidemocráticos era “de atribuição do Ministério da Justiça, da Secretaria de Segurança Pública e do Ministério da Defesa”.
As investigações que correm no Supremo têm como objetivo identificar quem organizou, financiou e atuou nos atos de vandalismo, mas também quem se omitiu. Nesta última categoria, Alexandre de Moraes só enquadrou até agora Anderson Torres, o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Preso há mais de 100 dias, ele havia assumido o cargo no dia 1 de janeiro, assim como G. Dias. Consta que havia nomeado apenas duas pessoas de sua cota pessoal, embora pudesse trocar dez cargos. Seu advogado poderia usar o mesmo argumento de Cappelli e dizer que Torres recebeu um carro avariado do antecessor Júlio de Souza Danilo e que o estava pilotando havia 6 dias. Será que cola?
A versão de número 2 de Dino pode servir aos ingênuos, mas não sobrevive a 15 minutos de questionamentos de um Polícia Federal independente ou de uma comissão parlamentar de inquérito. Afinal, como fica a responsabilidade do próprio ministro da Justiça, previamente informado do risco de depredação dos prédios públicos? Enquanto assistia à invasão da janela de seu gabinete, Dino telefonou para Lula, José Múcio ou mesmo para G Dias? O que têm a dizer os comandantes militares? E Lula?
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