Um mundo sem privacidade conforme mostra o livro ‘1984’: utopia, previsão ou realidade?
Imagine se todos soubessem de tudo o que você conversa no WhatsApp, vissem suas fotos no celular, ouvissem suas ligações, soubessem o que você está pensando, com quem você está, ou tivesse acesso às suas ex-namoradas(os), você conseguiria viver uma vida 100% aberta? Como seria um mundo sem privacidade?
O livro “1984”, de George Orwell, descreve um mundo em que a privacidade é praticamente inexistente, onde o governo controla todos os aspectos da vida dos cidadãos e onde a liberdade individual é suprimida. Se imaginássemos um mundo sem privacidade como descrito no livro, provavelmente seria um lugar sombrio e opressivo. Nesse mundo, o governo teria acesso total às informações pessoais dos cidadãos, incluindo suas comunicações, histórico de navegação na internet, dados bancários e até mesmo seus pensamentos e sentimentos mais íntimos. As pessoas seriam constantemente monitoradas e vigiadas por câmeras de vigilância, drones e outros dispositivos de monitoramento.
A liberdade de expressão seria severamente limitada, com qualquer forma de dissidência ou questionamento do governo sendo considerada um crime. O pensamento crítico seria suprimido, e os cidadãos seriam doutrinados a acreditar no que o governo lhes diz. Além disso, as relações pessoais também seriam afetadas. As pessoas não teriam privacidade em seus relacionamentos, e suas interações seriam monitoradas pelo governo. O amor e a intimidade poderiam ser vistos como um ato de rebelião contra o sistema e, portanto, seriam proibidos ou fortemente desencorajados. Com o avanço das tecnologias, especialmente das tecnologias de informação e comunicação, é verdade que a privacidade pode estar se tornando cada vez mais desafiadora de se manter. Muitas empresas, organizações e governos têm acesso a grandes quantidades de dados pessoais de usuários, coletados por meio de plataformas online, aplicativos, dispositivos de rastreamento e outras tecnologias.
Além disso, as redes sociais e outras plataformas online criaram uma cultura de compartilhamento constante de informações pessoais, levando muitas pessoas a publicarem detalhes íntimos de suas vidas online sem pensar nas implicações de privacidade que isso pode trazer. Porém, é importante lembrar que a privacidade é um direito fundamental, e que a proteção dos dados pessoais é essencial para garantir a liberdade individual e a segurança das pessoas, salienta Thiago Rosa, bacharel em direito e especialista em proteção de dados.
Muitos países já têm leis sobre o tema, que buscam regular a coleta, uso e compartilhamento de informações pessoais. Além disso, existem tecnologias, como a criptografia, que podem ajudar a proteger as informações pessoais e manter a privacidade dos indivíduos. Portanto, embora as tecnologias possam representar um desafio para a privacidade, é importante que a sociedade continue a lutar para proteger esse direito fundamental, promovendo a conscientização sobre as implicações da coleta e compartilhamento de dados pessoais e incentivando a implementação de leis e tecnologias que possam proteger a privacidade dos indivíduos.
Consequências de um mundo sem privacidade
- Perda da liberdade individual – Quando todas as informações pessoais são coletadas e armazenadas, os indivíduos perdem a liberdade de agir sem serem monitorados e controlados. Isso pode levar a uma sensação de opressão e falta de liberdade.
- Discriminação – Sem a proteção da privacidade, as informações pessoais podem ser utilizadas de forma discriminatória. Por exemplo, informações sobre raça, gênero, orientação sexual ou religião podem ser usadas para discriminar indivíduos em diversas áreas, como emprego, crédito ou habitação.
- Vigilância constante – Sem a privacidade, as pessoas podem ser monitoradas e vigiadas constantemente, seja pelo governo, empresas ou outras pessoas. Isso pode levar a uma sensação de paranoia e falta de confiança nas instituições.
- Uso indevido de informações pessoais – Sem a proteção da privacidade, as informações pessoais podem ser coletadas e usadas indevidamente. Isso pode incluir o roubo de identidade, fraudes financeiras e invasão de privacidade.
- Exposição pública – Sem privacidade, as informações pessoais podem ser expostas publicamente, o que pode levar a constrangimentos e problemas sociais. Por exemplo, um segredo ou hábito pessoal pode ser revelado publicamente, o que pode levar a julgamentos e preconceitos.
- Manipulação de opiniões – Sem privacidade, as empresas e governos podem coletar e analisar informações pessoais para manipular as opiniões e comportamentos das pessoas. Isso pode levar a uma sociedade menos livre e democrática.
- Poder nas mãos dos hackers – Os hackers, na forma de cibercriminosos, podem ter acesso a informações confidenciais e sensíveis, incluindo dados pessoais, financeiros e empresariais. Eles também podem causar danos aos sistemas e redes, incluindo interrupções de serviços, roubo de informações, vandalismo virtual, entre outros. Portanto, em muitos casos, o poder nas mãos dos hackers pode ser visto como uma ameaça à segurança e à privacidade das pessoas e das empresas.
É justamente por questões como essas que no mundo existem (e de modo necessário), diversas leis para proteção da privacidade. No Brasil, temos a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) que, por sinal, começará a aplicar multas por meio da ANPD; saiba como se preparar. A LGPD é uma lei que protege os dados pessoais, passível de multas de até R$ 50 milhões para as empresas que não cuidarem de forma adequada deles. No Brasil já existem instituições que promovem a conscientização sobre o tema e da lei, como a Associação Nacional dos Profissionais de Privacidade de Dados (ANPPD), que oferece gratuitamente o Portal das Violações, onde os empresários podem verificar quais empresas já estão sendo processadas pelos órgãos judiciais por não cumprirem a LGPD, é o que salienta a advogada Dra. Lilian Castelani, coordenadora do Portal das Violações da ANPPD.
Por fim, um mundo sem privacidade seria um verdadeiro caos, portanto é necessário, não apenas por obrigação da LGPD, mas sim pela garantia da sua liberdade, dos seus clientes e de seus descendentes que sua empresa já inicie as adequações para a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais. O primeiro passo é contratar o seu DPO/Encarregado de Proteção de Dados. Veja AQUI quem são esses profissionais disponíveis para cada Estado do Brasil.
Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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