Com acidez elevada e taninos marcantes, Sangiovese é a joia mais proeminente da Toscana; conheça
Uva milenar não é de fácil cultivo, embora esteja presente em vários locais do Novo Mundo, inclusive no Brasil
Sangiovese. Em tradução livre, do latim, seria Sangue de Júpiter (Sang di Giove) e a referência não é italiana, mas grega. Mais precisamente de Creta, onde diz a mitologia que toda vez que o sangue de Zeus, correspondente grego, ferve, dos vulcões da mágica ilha são expelidas chamas. A verdade é que esta uva é milenar da Toscana e alguns afirmam, mais por conta da etimologia, que foi para lá levada por alguns Etruscos que passaram por Creta há mais de um mil anos antes de Cristo. Entretanto, é inegável que a Sangiovese é a joia mais proeminente da Toscana. Muitos creem que foi em Montalcino, na Provincia de Siena, onde primeiro se vinificou esta uva, o que pode explicar que, até hoje, os melhores exemplares de vinhos desta casta veem de lá, a exemplo do Brunello di Montalcino. A casta está presente por diversas comunas italianas e, hoje, é cultivada em vários locais do Novo Mundo, inclusive no Brasil. Por ter uma característica marcante, ela consegue imprimir aos vinhos, independentemente da região onde são produzidos, traços comuns. Seus vinhos costumam apresentar alto grau de acidez, com potencial gastronômico imenso. Seus taninos são marcantes e, muitas vezes, o enólogo opta por domá-los com pequenos cortes de castas mais macias, a exemplo da Canaiolo ou da francesa Cabernet Sauvignon. Este último corte (Sangiovese / Cabernet Sauvignon), acredita-se, deu origem aos vinhos chamados de “SuperToscanos”, produzidos em Marema.
A verdade é que a Sangiovese não é uma uva de fácil cultivo. É delicada e exige muito cuidado no campo. Como a Pinot Noir, ela não se adapta à qualquer região, assim exige bons vinhateiros e cuidados no cultivo, colheita e guarda. Também recebe outras denominações, não tão conhecidas, como Morellino em Montalcino; Brunello, Prugnolo ou Prugnolo Gentile em Montepulciano; Nielluccio na ilha de Córsega, na França, e Toustain, na Argélia. Mas é por Sangiovese que o mundo todo a conhece e chama. Como destaquei acima são marcas da variedade acidez elevada, taninos firmes e equilibrados, final de boca elegante e persistente. Os sabores e aromas mais facilmente encontrados são cerejas, ameixas e morangos, com um leve toque de ervas, como sálvia, alecrim e manjericão. São, normalmente, vinhos de guarda, a exceção dos Chiantis mais simples, que, recomendo, sejam consumidos novos e refrescados. Pratos gordurosos vão muito bem com vinhos desta uva e os molhos de tomate têm nela uma possibilidade de harmonização bem especial. Queijos gordos e embutidos também casam bem com vinhos da Sangiovese, de modo geral.
Para melhor conhecer a uva, sugiro que procurem vinhos de regiões diferentes, a começar por Montalcino, de onde indico o excepcional, Expressione Brunello di Montalcino do Castelo
Tricerchi e o Brunello di Montalcino Il Poggione, um clássico e de tipicidade marcante. Mais simples, da Toscana, o Prestige Sangiovese Uggiano é uma boa pedida assim como o Villa
Gracchio Chianti do Angelo Rocca & Figli. Da California, merece todo destaque o Stolpman Vineyards Love You Bunches Sangiovese e da Argentina o Faro Sangiovese. Por aqui, temos vinhos da Sangiovese bem bacanas e que prestigiar seria uma boa experiência, por exemplo o Atelier Tormentas Vermelho, um Sangiovese de autor, elaborado pelas habilidosas mãos do enólogo Marco Danielle, referência internacional na produção de vinhos artesanais. O Zanotto é um Sangiovese elaborado pela Vinícola Campestre, localizada em Vacaria, Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul e que guarda uma tipicidade muito boa e, dos nacionais, não poderia deixar de mencionar o Valmarino V3 Corte 1, que leva Cabernet Sauvignon, Merlot e Sangiovese. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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