Para 2023, vinhos!

Nos últimos anos, a bebida deixou o requinte exacerbado para se encontrar com suas origens, passando a ser um item presente no dia-a-dia de muitas casas

  • Por Esper Chacur Filho
  • 30/12/2022 15h39 - Atualizado em 30/12/2022 16h17
Arquivo Pessoal/Esper Chachur Filho Garrafa e taça de vinho O ser humano consolidou o vinho como uma bebida saudável, e médicos chegam a prescreve-lo como terapia regular

O acréscimo de mais um ano na vida do Universo sempre serve para refletirmos sobre as mudanças, melhores ou piores, dos contextos em que estamos inseridos, com o vinho não poderia ser diferente. O novo ano que se descortina nos convida para olharmos para nosso passado recente com o vislumbre do futuro que nos bate a porta. Vêm novas proposições, tomamos novas decisões mas, fundamentalmente, consolidamos no nosso cabedal de vida as sensações que experimentamos.

O mundo é dinâmico e o mundo do vinho também, quanto mais nestes tempos em que as informações fluem com uma rapidez única e, que chega a ser, assustadora. No presente século experimentamos, nestes vinte e poucos anos, mais mudanças no gosto humano do que nos quinhentos anos precedentes. O ser humano consolidou o vinho como uma bebida saudável. Médicos chegam a prescreve-lo como terapia regular. O vinho, há quinhentos anos, deixou a taberna para frequentar as mesas requintadas das cortes europeias; nestes últimos anos, deixou o requinte exacerbado para se encontrar com suas origens, passando a ser bebida do dia-a-dia de muitas casas. Vinhos simples, em conta e de notável qualidade passaram a ocupar as gôndolas dos supermercados e lojas especializadas. O espumante desceu do salto, saiu do salão de baile e passou a frequentar as madrugadas mundanas! O vinho rosê foi para a beira das piscinas. O tinto se reencontrou com o arroz e feijão e o branco tomou o lugar da “caipirinha” ao lado da lula frita na beira do mar.

A cerveja e o chopp têm seus lugares cativos nas mesas dos botequins e balcões de bares, mas o vinho passou a ter seu protagonismo em tais ambientes. O licor passou a disputar espaço com o OPorto, o Tokaj e o  Marsala após as refeições e o Cognac viu no Armagnac e no Brandy de Jerez parceiros das meditações da madrugada. A Grappa e a Cachaça passaram a ser consideradas lado a lado na hora do torresmo… O vinho passou a ser um protagonista de peso no gosto pelo mundo afora. Os produtores de vinho perceberam esta mudança de paladar e opções que, se prestigia a bebida, de forma geral, acirra a competitividade. O consumidor do vinho passou a exigir qualidade e constância. Grandes safras são benvindas, mas safras sofríveis têm que ser rechaçadas pelos produtores, sob pena de manchas indeléveis em seus rótulos.

Se o Velho Mundo (Europa e Oriente Médio), passaram a se modernizar, sem abrir mão das tradições, o Novo Mundo (hemisfério sul), passou a entender que copiar não era o caminho por não ser possível. Destaque-se, no Novo Mundo, a Califórnia, em que pese sua prematura consagração no Século Vinte, vem seguindo nos anos deste Século XXI, uma ascendência marcante. Países como o Brasil passaram a ser referência e outros, como a Argentina, entenderam que inovar, melhorar e respeitar seriam os melhores caminhos. Claro, nem todos tiveram esta percepção, os produtores chilenos insistem em invadir o mercado com vinhos planos, de qualidade e talentos mínimos e preços desequilibrados quando se tem a frente a mesmice por opção e o lucro como único objetivo (em que pesem as raras exceções de micro produtores). Olhando esta quadro, não há dúvidas que o consumidor, de forma geral, passou a ser respeitado  e a formação de um gosto qualitativo, passou a ser o real objetivo destes mesmos consumidores de vinhos. Feliz 2023 e  Salut!! 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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