Ribolla ou Robola? Nomes são parecidos, mas uvas brancas têm diferenças marcantes

Vinho italiano tem caráter mais aveludado, acidez marcante e deve ser bebido jovem; grego é mais longevo, mineral, intenso e complexo

  • Por Esper Chacur Filho
  • 23/04/2023 10h00
Esper Chacur Filho/Arquivo Pessoal Foto em preto e branco de garrafa de vinho na mesa com duas taças O grego Theotoky Cuvée Spéciale é proveniente de vinhedos sustentáveis e tem elegância ímpar

Uma das castas brancas da Itália mais prestigiadas é a Ribolla (ou Ribolla Gialla), que, pouco depois da Pinot Grigio, nos oferece os brancos mais famosos e acessíveis da “Bota”, especialmente dos vinhos que vêm do norte do país. A Ribolla Gialla é muito cultivada na região de Friuli Venezia Giulia, nordeste italiano e, em menores proporções, na Eslovênia, onde é conhecida como Rebula. No Friulli, como em outras regiões produtoras, essa uva possui Denominações de Origem na Itália, na área de Friuli Colli Orientali. A primeira evidência documentada de um vinho feito de Ribolla Gialla remonta a 1409, quando, durante um banquete em honra do Papa Gregório XII, um vinho elaborado com essa variedade foi servido. Suas bebidas apresentam acidez elevada e alta intensidade aromática, que pode destacar pêssego, maçã, abacaxi, floral e toque cítrico.

A uva Ribolla Gialla produz vinhos brancos encantadores. Gialla significa amarela em italiano, uma referência à coloração que a uva adquire quando madura. Por muito tempo, erroneamente, pensou-se que a casta era originária da Grécia, especificamente da Cephalônia. Entretanto, a Ribolla e a Robola são castas diferentes, em que pese a similaridade do nome e algumas características de ofato e paladar. Enquanto a Ribolla tem sua origem na Eslovênia, que faz divisa com a região de Friuli, onde essa casta é conhecida como Rebula e é bastante cultivada — sendo a estrela dos vinhos Brisko, de Goriska Brda —, a Robola  é uma variedade de uva branca grega cultivada principalmente na ilha jônica de Cephalonia, como expus acima. Pela visão grega, historicamente, pensava-se que a videira era da mesma variedade da Ribolla, uva de vinho do Friuli, retro mencionada e que foi trazida para o nordeste da Itália por mercadores venezianos que negociavam com a Cefalônia no século XIII. No entanto, o perfil de DNA no século XXI lançou dúvidas sobre essa teoria e, hoje, a Robola é classificada pelo Vitis International Variety Catalog (VIVC) como uma variedade separada. Em suma: a casta Ribolla, italiana, não tem relação de origem com a Robola, grega.

Na Grécia, ao longo dos anos, Robola foi conhecido sob uma variedade de sinônimos, incluindo Asporombola, Asprorobola, Asprorompola, Robbola, Robola Aspri, Robola Kerini, Rombola, Rombola Aspri e Rompola. Na Cefalônia, as vinhas de Robola aproveitam os caracteres dos fartos solos calcários da ilha. A videira amadurece precocemente e pode produzir vinhos de alta acidez, com níveis fenólicos significativos. Os vinhos feitos com esta uva tendem a ser secos, de corpo médio, com uma nota distinta de limão. De acordo com o especialista em vinhos Oz Clarke, os vinhos Robola também podem ter caráter duro, algo adstringente, ainda que de leve. Podemos afirmar que os vinhos italianos da Ribolla têm caráter mais aveludado, cítrico intenso, acidez marcante e bons para serem bebidos jovens; já os vinhos gregos da Robola são mais longevos, minerais, intensos e complexos, com um leve cítrico e alguma madeira; são mais herbáceos. 

É possível, por aqui, encontrarmos vinhos das castas Ribolla e Rebola. Sugiro os que seguem, até para uma comparação. Da Ribolla Gialla, sugiro o Cormons Collio Ribolla Gialla, que é bem agradável, alegante, com frutas cítricas, e o Tenuta Malucelli Ribolla Gialla Esseza, ótimo para harmonizar com frutos do mar (em especial peixes brancos e vieiras). Da Grécia, em primeiro lugar, recomendo o espetacular Theotoky Cuvée Spéciale, de complexidade única, proveniente de vinhedos sustentáveis e que, a despeito de ser austero, tem elegância ímpar. De lá, também sugiro o Gentilini ‘Wild Paths’ Robola of Cephalonia, mais simples, mais acessível e mais gastronômico, quando jovem. Quem quiser provar um vinho nacional da casta Gialla, sugiro o Villaggio Conti Ribolla Gialla, da Serra Catarinense, que, levemente frutado, acompanha bem peixes, frutos do mar e até alguns risotos ou uma moqueca não muito picante. Seja qual for a origem, são vinhos que merecem atenção e bem apropriados ao clima brasileiro, especialmente litorâneo. Salut!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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