Rótulos podem ser inovadores e harmônicos ao espírito que pretendem imprimir aos vinhos
Claro que não devemos beber somente pelos rótulos, mas as homenagens e inspirações que eles expressam são muito bem-vindas
Os rótulos de vinhos, de forma geral, costumam seguir uma convenção não escrita e que se adapta a uma legislação de cada país produtor e a alguns regramentos de regiões demarcadas ou similares. Basicamente, todo rótulo consta a procedência (país e região), o produtor ou engarrafador, a cor (branco, tinto, rose), o tipo (de mesa, vinho fino, reserva), a graduação alcoólica e, quando de uma mesma vindima, a safra. Daí para frente, são especificidades, tais como a classificação regional (como temos em Bordeaux, por exemplo), se trata-se de vinho de negociante (como encontramos na Borgonha) ou mesmo se é de determinado vinhedo ou sub-região (assim encontrado nos vinhos do Piemonte e da nossa Serra Gaúcha).
Não erro ao afirmar que os rótulos sempre penderam mais para a austeridade. Entretanto, emergiu, da região mais rígida com os rótulos, a inovação: Ricardo Bohn Gonçalves relata que, “em 1924, o Baron Philippe Rothschild, que, além de ser descendente de uma ilustre e antiquíssima linhagem de banqueiros, também era poeta, escritor, dramaturgo e apaixonado por corridas de automóvel, teve a ideia de convidar um conhecido designer gráfico da época para ‘reformar’ a imagem bem caretinha que ilustrava o rótulo do Château Mouton Rothschild. Ele tinha uns 20 anos, na época, e essa ‘revolução gráfica’ seria apenas uma das muitas que se tornariam sua marca registrada no mundo do vinho. Jean Carlu, um francês, também muito jovem, cuja fama vinha dos pôsteres que desenvolvia para campanhas publicitárias, aceitou a tarefa e criou o rótulo cubista que ilustrou a garrafa da safra daquele ano. A tradição de convidar sempre um artista para criar o ‘rótulo de arte’ do Mouton Rothschild do ano começaria para valer apenas em 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, mas o início foi ali, em 1924. Um rótulo cubista em um vinho mais do tradicional!”
Nos nossos dias, os produtores, especialmente os da vanguarda francesa e os do Novo Mundo, passaram, via de regra, a colocarem seus vinhos no mercado com rótulos harmônicos ao espírito que pretendem imprimir aos vinhos. Os argentinos com os seus “Quatro Vacas Gordas” expressam um espírito divertido ao ato de beber, assim como aquele que encontramos no Mendozino “Mecanic” que, mesmo inovador, ironiza com uma caricatura austera, alusiva aos anos 20 do século passado. O rótulo do californiano “Opus One” expressa o encontro de estilos de Mondavi e Rothschild, que se traduz na fusão de seus perfis no rótulo do mítico tinto. Aqui no Brasil, Marco Danielle (Atelier Tormentas), que além de vinhateiro é artista fotográfico de primeira ordem, traz sua obra aos rótulos dos seus vinhos, uma hora homenageando uma paisagem e outra alguém que o inspirou. Neste mesmo diapasão, encontramos a “Vivente” que, produtora de vinhos naturais e biodinâmicos, elegeu rótulos muito sensoriais e alusivos a situações cotidianas simples, traduzidas em prazer. Claro que não devemos beber o vinho pelos rótulos, entretanto as homenagens e inspirações que eles expressam são muito bem-vindas. Salut!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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