Após superar crises, Amanda Brandão diz que mundo corporativo deve ser ‘leve e enriquecedor’

Períodos de muita pressão e esgotamento psicológico levaram a executiva a repensar relações de trabalho; ‘se depender de mim, ninguém que trabalha comigo vai passar pelo o que eu passei’, disse

  • Por Fabi Saad
  • 20/01/2021 10h00 - Atualizado em 20/01/2021 11h37
Divulgação A head de Relações Públicas da Lew’Lara\TBWA, Amanda Brandão

Ela controla tudo o que é falado, o que pode e o que não pode ser dito, e, talvez, seja a única pessoa capaz de fazer a alta liderança dizer exatamente o que ela mandar. A nossa “mulher positiva” da semana é a Head de Relações Públicas da Lew’Lara\TBWA, Amanda Brandão. A agência de publicidade onde ela trabalha tem quase 30 anos de história e está entre as 20 maiores do país, segundo Kantar. A executiva ama esportes, é corintiana e sagitariana – e isso já diz muito sobre ela. Em entrevista à coluna, Amanda falou sobre os desafios da sua carreira e a vivência no mundo corporativo, além de citar seus exemplos de mulheres fortes no mercado de trabalho e que também são bons exemplos a serem seguidos na vida.

1. Como começou a sua carreira?

Eu sempre tive facilidade em me comunicar, em fazer amizades e até um certo dom para me envolver em encrencas – normalmente liderando as revoluções da turma na época da escola. Mas, lá no fundo, eu sempre soube que Relações Públicas ressaltaria toda essa minha aptidão por me comunicar e me relacionar com pessoas, por criar laços. Sei do meu privilégio de alguém de classe média alta, que estudou em escola particular a vida toda, fez faculdade em uma instituição renomada, estudou inglês a vida toda e conheceu diversos países. Tive muita sorte, muita oportunidade, mas também não faltou vontade e até um pouco de sorte. O acaso – ou o destino, como eu costumo dizer – me levou a um processo seletivo em uma agência de publicidade que não tinha nada a ver comigo, tanto que a recrutadora perguntou “o que você estava fazendo aqui?”, sendo ela mesma tinha me ligado e me convidado. No final, ela pediu que eu ficasse na sala enquanto todos eram dispensados, e ressaltou a sorte que ela teve de me chamar por engano (sorte dela? Não, era minha mesmo).

Eu não fui contratada para a vaga a qual me candidatei, mas saí empregada: ela ligou o meu perfil ao de outra vaga aberta em comunicação interna. No outro dia, estava fazendo entrevista com a diretora da área e sendo contratada no mesmo momento. Foi uma primeira experiência profissional muito doida, ser contratada no ato da entrevista para sua primeira vaga de estágio, deixaria qualquer um completamente tonto de felicidade. Construí minha carreira dentro de agência de publicidade, lidando com campanhas, anúncios, prêmios e muitos porta-vozes para posicionar. Também passei por atendimento à clientes no setor de beleza&cosméticos e turismo, mas o mercado de comunicação e as agências de publicidade têm um espacinho reservado no meu coração.

2. Como é formatado o modelo de negócios do (Relações Públicas)?

Eu resumiria em relacionamento, basicamente. Tudo o nosso trabalho, seja de comunicação organizacional, assessoria de imprensa, eventos ou comunicação governamental gira em torno de relacionamentos bem feitos, por meio de uma comunicação eficiente, direta, transparente e verdadeira. Gerir comunicações, construir e fortalecer reputações, formar e preparar porta-vozes, tudo isso demanda paciência, planejamento e relacionamento, seja para construir uma relação de confiança mútua entre RP e seu clientes, seja ele uma empresa, uma pessoa ou fornecedores, ou sejam eles jornalistas, portais e até a opinião pública.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?

Momentos difíceis todos nós passamos, seja por gestão, problemas com o cliente, incertezas de carreira, e até crises existenciais, síndrome de impostora e coisas do tipo. Sofro de ansiedade, e em 28 anos de vida, já tive duas crises bem sérias por stress, uma delas me levou até o hospital. Acho que esses dois momentos talvez tenham sido os mais difíceis, pois eu estava passando por períodos de muita pressão e esgotamento psicológico e físico, e hoje olho para eles com muito medo, pois ainda muito jovem já passar por isso não pode ser um bom sinal. Mas o importante mesmo é como saímos dessa, e eu tive muita sorte de ter mentores, colegas, amigos e um parceiro muito ponta firme para me apoiar. Tudo o que eu passei, e ainda vou passar, me ajudou e vai ajudar com que eu seja alguém melhor pessoal e profissionalmente, seja tirando lições de como fazer melhor ou tendo certeza do que não quero ser/fazer. Uma coisa eu tenho certeza: se depender de mim, ninguém que trabalha comigo vai passar pelo o que eu passei. Não tenho aquela mentalidade de que “para chegar onde eu cheguei, é preciso passar por isso”, até porque, ainda tenho um longo caminho pela frente muito mato para tirar da frente até formar uma estrada pavimentada e livre para a passagem de quem vem depois. Muito pelo contrário, não desejo isso a ninguém, por mais que tenha me ensinado muito, e se depender de mim, lutarei para que o caminho seja mais leve, fácil e enriquecedor.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa?

Ainda não tenho filhos, sou “meio” casada, no máximo tenho um cachorro para criar – e posso dizer que também não é nada fácil. Eu tento ser muito organizada com as minhas atividades, costumo ter a agenda do dia na cabeça, check list e “to do” list, mas como boa sagitariana, desafios e aventuras diárias me fazem embarcar em um grande projeto com muita empolgação. Sou muito ‘Caxias’ com horário, mas também muito prática, faço tudo sempre muito rápido e detesto imaginar que tem alguém esperando uma resposta minha para seguir com a sua parte do trabalho. Me deixa completamente perturbada perceber que estou “perdendo tempo” em algo que não merece tal dedicação, mas a maturidade ainda tem muito para me ensinar a respeito disso. Uma fugidinha no almoço para um sorvete, um café para espairecer, um papinho com a colega de outra área. Esses momentos de pausa são realmente necessários para aliviar a mente, refrescar as ideias e dar um pouco de gás para a criatividade aflorar. Se engana quem pensa que criatividade é só na publicidade, RP tem que rebolar e ser bem criativo também.

5. Qual seu maior sonho?

Nossa, essa é uma pergunta extremamente difícil. Eu poderia elencar aqui alguns, como fazer diferença com o meu trabalho, ser bem-sucedida na minha carreira, construir uma família, ter meus pais saudáveis e por perto o máximo de tempo possível, e por aí vai. Já sonhei em ir pra lua, em trabalhar no meu time de coração, de conhecer alguns dos meus ídolos, mergulhar e saltar de paraquedas. Hoje, acho que é uma mistura de tudo isso, dos sonhos de criança com os de uma jovem adulta. É ter minha família bem e saudável por perto, e ao mesmo tempo saltar de paraquedas e cometer algumas loucuras.

6. Qual sua maior conquista?

Felizmente o meu caminho é repleto de pequenas boas conquistas. Profissionalmente, fiz meus clientes alcançarem objetivos e chegarem onde desejavam, serem reconhecidos, ganharem prêmios, e isso me preencheu de orgulho e gratidão. Pessoalmente, saí da casa dos meus pais com as minhas próprias pernas, da forma que eu sempre sonhei e me planejei. Isso com certeza também me preenche de orgulho e gratidão.

7. Livro, filme e mulher que admira.

Livro: “Corajosa sim, perfeita não” da Reshma Saujani. Ele fala sobre várias quebras de paradigmas que envolvem a vida de uma mulher: busca da perfeição, o querer agradar sempre, sofrida máxima de que não podemos dizer “não” e as várias armadilhas que nós mesmas armamos (outras foram armadas para os impedir de chegar “lá”) e como nos livrar delas para alcançar nossos objetivos. É sobre enfrentar, sobre ser uma mulher forte mas com suas vulnerabilidades, a enfrentar seus problemas mesmo o mundo dizendo que mulheres não chegam lá ou que não conseguem chegar. É bem encorajador, até libertador.

Filme: Eu adoro animação, filme de super-heróis, tenho um gosto bem infanto-juvenil para filmes, mas com certeza “Estrelas além do tempo” mexeu comigo. Ele trata a primeira vez em que a agência espacial americana (NASA) teve uma turma de astronautas com a mesma quantidade de homens e mulheres, e conta as histórias de algumas delas e quanto seus esforços foram essenciais para que os Estados Unidos dessem início à corrida espacial. É inspirador, é dramático, mostra toda uma luta que ainda é árdua de se enfrentar. Vale muito a pena.

Mulher que admiro: são muitas, e eu tive o privilégio de cruzar com algumas ao longo da minha carreira, desde gestoras à clientes incríveis, humanas e com histórias inspiradoras. Daquelas bem distantes, eu citaria Michele Obana, Oprah Winfrey. Para as mais próximas, minha primeira gestora da vida, Mila Guedes, que não só me ensinou o verdadeiro significado de “cuidar”, mas que me ensina muito até hoje, ela é para quem eu recorro quando dá tudo errado! E a Marcia Esteves – CEO da Lew’Lara\TBWA. Sem demagogia ou “puxa-saquismo”, é um privilégio imenso ser liderada por uma mulher incrível como ela. Além de muitas outras, comoDaniela Grelin (Instituto Avon), Mariana Rayol (Zeno Group). Posso fazer uma lista bem grande de mulheres incríveis quejá tive a sorte e prazer de conviver. Eu realmente sou muito privilegiada.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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