Ayla Meireles aprendeu a empreender com o pai e abriu agência de comunicação sem seguir padrões do mercado

Criar o próprio negócio não estava nos planos da jornalista, mas a breve experiência em um emprego fixo a fez mudar de ideia: ‘Via uma série de erros que eram cometidos’

  • Por Fabi Saad
  • 21/12/2022 10h00
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Divulgação Mulher branca de vestido azul, na faixa dos 30/40 anos, sentada em cadeira de balanço decorada com enfeites de Natal; está escuro porque é noite Ayla Meireles é fundadora e CEO da ABM Com, uma agência que visa apresentar soluções em comunicação em prol do negócio

Nossa Mulher Positiva começou a trabalhar com 11 anos e, desde então, nunca mais parou. Jornalista por formação, mas, principalmente, por vocação, empreendeu aos 22 anos. Há 17 é CEO da Agência AMB Com, especializada em comunicação estratégica, PR e assessoria de imprensa. Casada há 16 anos, é mãe da Catarina, de 12 anos, e do Leonardo, de 2. Diverte-se ao contar que, muitas vezes, toca reuniões importantes com os filhos a tiracolo. “Eles são a melhor parte de mim e, muito antes de ser moda ter reunião interrompida por filhos, eu já tinha a minha Catarina participando do meu dia a dia no trabalho. A primeira reunião dela foi com 20 dias, me lembro, inclusive, de amamenta-la durante uma reunião presencial de negócios. Amo meu trabalho e amo meus filhos, escolher entre um e outro nunca foi uma opção. Somá-los, no entanto, é uma mágica complexa que sempre rende alguns surtos e excelentes histórias”, revela Ayla Meireles.

Atualmente a AMB Com e é responsável pela comunicação de mais de 50 grandes marcas como Kopenhagen, Brasil Cacau, GiOlaser, Tip Top, Sorridents, Grupo Patense, Payot, entre outras protagonistas no cenário de mídia, e se orgulha por fazer jornalismo empresarial de resultado, mas, acima de tudo, com propósito: “Meu primeiro cliente é o consumidor da informação. Acredito que uma comunicação estratégica eficiente deve ter o conteúdo orientado às pessoas, e não às marcas. Baseados nessa premissa, temos conquistado resultados realmente surpreendentes para os nossos clientes ao longo dos anos. Como consequência, temos despontado cada dia mais nesse mercado tão competitivo”.

1. Como começou a sua carreira? Comecei a trabalhar com o meu pai, que é empresário nas áreas de saúde e serviços especializados, aos 11 anos. Trabalhar mesmo! Tinha carga horária e tudo. Aprendi datilografia e fiz aulas de computação com professor particular para que eu pudesse digitar atas de reunião e organizar toda a vida do meu pai, uma vez que ele não tinha aptidão para essa parte mais tecnológica. Aprendi tudo e mais um pouco com o meu pai e, em pouco tempo, já me sentia segura para participar ativamente das reuniões, argumentando comercialmente e falando sobre a empresa com paixão. Era um prato cheio para os executivos. Amavam a ideia de uma “criança”, ou pré-adolescente como eu insistia em ser chamada, trabalhar com tanto empenho para garantir que o meu pai tivesse sucesso nas negociações. Meu pai queria que eu o sucedesse, mas a verdade é que isso nunca passou pela minha cabeça. Desde muito cedo eu sabia que faria da combinação das palavras meu próprio reino.

Quando entrei na faculdade de jornalismo, aos 17 anos e ainda trabalhando com o meu pai, um mundo de possibilidades se abriu. Negociei com ele pelo menos 2 horas por dia, além das horas que passava em aula, eu queria gastar para explorar as possibilidades do meu curso. Foi nesse momento que, com o auxílio dos meus professores, eu pude “trabalhar” sem remuneração em jornais, revistas, TVs, rádios e sites que à época estavam começando a ganhar mais relevância. Meu objetivo era conhecer bem o mercado e compreender o que faltava, no que eu poderia contribuir. Aprendi com o meu pai que sem diferencial ninguém prospera, nem na carreira nem nos negócios.

A verdade é que eu me apaixonei por tudo que eu vi e fiz. Não conseguia escolher meu rumo. Foi aí que eu fui apresentada ao universo da assessoria de imprensa. Em uma agência lidaria com diversos tipos de jornalismo e, por meio das estratégias, eu conseguiria exercer a minha paixão pelo jornalismo da forma mais genuína: contando histórias e fomentando assuntos de interesse geral. Jurava por todos os fins que eu jamais empreenderia, via a vida sacrificada que eu levava junto com o meu pai. Não havia férias, não havia brechas de tempo nem rotina e eu queria a estabilidade de uma carreira exponencial, porém, mais previsível. Mas uma vez que você é treinada desde sempre para analisar as coisas pelo viés de negócios, retroceder é impossível! Comecei a trabalhar em uma agência e via uma série de erros que eram cometidos, por exemplo, tratar todos os veículos de imprensa com a mesma abordagem, sem a preocupação de entender que o que rende para um jornal diário necessariamente não renderia em uma televisão.

Com menos de três meses de emprego fixo “estável”, em um evento corporativo onde eu atendia uma marca, resolvi me dar autonomia para desenvolver uma estratégia — a contragosto da dona da agência — que deu muito certo e meu nome ganhou destaque a partir desses resultados. Quando o evento acabou, eu tinha inúmeras ofertas de emprego, assim como uma oferta de um stand vizinho do que eu atendia para que assumisse a comunicação da marca. Não pensei duas vezes. Empreendi. Criei a Ayla Meireles Comunicação. O nome foi criado pelo mercado, não foi fruto de ego. A verdade é que tentei diversos nomes, mas, no fim do dia, quando a minha sugestão chegava, o que se destacava era o meu nome, por ser diferente. E entre tantos “é o cliente da Ayla”, resolvi ceder à voz do povo e usei meu nome.

Em 2008, no entanto, com a agência decolando e multiplicando as contas atendidas, convidei para a sociedade meu marido Gustavo Bastida, que é engenheiro de software e tinha uma carreira sólida de mais de dez anos em instituições financeiras. Ele veio para trazer uma visão corporativa que eu nunca tive, uma vez que as minhas experiências anteriores não me permitiram isso. Além desse viés, ele trouxe também processos mais maduros e que nos permitiram prospectar contas maiores. Com a chegada do Gustavo e também de contas mais robustas, sentimos a necessidade de rebranding. E a agência, além de uma nova linguagem visual, ganhou o nome de AMB Com. Hoje, quase 17 anos após a primeira pauta realizada, são mais de 40 contas atendidas e um time de atendimento que só cresce, além de inúmeros cases e uma ampliação significativa no nosso escopo de atuação inicial que era fixado em assessoria de imprensa.

2. Como é formatado o modelo de negócios da AMB? Trabalhamos com soluções em comunicação em prol do negócio. Somos mais que uma agência de PR. Começamos nosso trabalho fazendo uma análise dos negócios — independentemente do porte — e, a partir do diagnóstico, desenvolvemos um cardápio de opções que visam sustentar a solução de problemas, ou mesmo implementação de inovações. A partir daí, estruturamos planos de comunicação baseados na artesania e criatividade. Temos braço de tecnologia e trabalhamos com as melhores do mercado, mas acreditamos que a comunicação estratégica aplicada ao desenvolvimento de marcas e negócios deve ser feita artesanalmente, com uma imersão profunda da realidade do cliente e do mercado e com um senso criativo e de negócios bastante apurado.

Desenvolvemos um modus operandi que prepara empresas para a atração de investimentos por meio de um planejamento de comunicação estratégica interna e com a imprensa. Temos vários cases com essa finalidade e somos a única agência a oferecer isso aos clientes. Hoje trabalhamos com: assessoria de imprensa e PR, gestão de redes sociais, conteúdos estratégicos para C-Level, textos para apresentações e palestras, planos de comunicação para endomarketing, marketing de persuasão e ghostwriter.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Certamente quando eu comuniquei ao meu pai que, embora honrada com a confiança, eu não o sucederia nos negócios e trilharia meu próprio rumo. Nesse momento, eu me vi realmente sem um real no bolso, eu que sempre tive acesso a uma estrutura financeira muito boa, e sem muitas perspectivas a longo prazo. Quando resolvi que empreenderia, meu único recurso era o computador do meu então namorado — que hoje é meu marido, sócio e pai dos meus dois filhos —, e a minha sogra me cedeu o quarto do Gustavo como escritório. Eu não tinha absolutamente nada mais do que isso. Ligar o telefone e a internet foi um ato de fé, porque dinheiro para pagar a conta no mês seguinte, só se o meu cliente realmente cumprisse com a agenda financeira que combinamos sem nenhuma formalidade.

Foi desafiador empreender com zero recursos e, mais, criar uma agência baseada no que eu acreditava ser ideal com base nos meus “empregos” de poucos dias na faculdade, sem seguir um padrão das agências do mercado, simplesmente porque ou eu não concordava ou não conhecia mesmo, porque a minha experiência em agência foi de três meses. Por exemplo: eu sempre abominei o FUP, hábito que movimenta as agências até hoje e que é a maior causa de stress e conflito entre jornalistas de redação e de assessores de imprensa. Qual o objetivo de ligar para um jornalista para “vender” uma pauta que já foi encaminhada por e-mail e que eu sei que ele leu?! Se o jornalista se interessar, ele vai entrar em contato. Se não interessar ou ele não ler, perda do público alvo dele. Nunca fizemos follow na AMB Com e nunca nos faltaram pautas e cases. Já tivemos, inclusive, um cliente como capa da “Veja”, enviando apenas e-mail com um excelente gancho de pauta. Outro ponto que vale destacar é o avanço das redes sociais e marketing de influência. Peguei o começo de tudo, quando ainda era tudo mato, e tive que desenvolver minha própria metodologia e cultura organizacional para oferecer esses serviços com proeminência e tática cirúrgica para garantir assertividade. Esse foi um grande ponto de inflexão estratégica para a AMB Com e para a minha carreira.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Eu equilibro misturando. Essa entrevista mesmo, eu respondi enquanto amamentava meu filho caçula, que tem 1 ano e quatro meses. Meus filhos vão para a agência comigo, e a Catarina, minha mais velha, de 11 anos, a exemplo da mãe, já executa algumas tarefas e até se arrisca em alguns insights em namings de produtos e criação de marcas. Meu marido está comigo o tempo todo, embora ele responda por áreas diferentes na agência. Ele é meu ponto de equilíbrio na verdade! Fechando a porta de casa, o problema de trabalho fica fora do nosso convívio familiar, isso exige maturidade e muita resiliência e, confesso, nem sempre foi assim. Mas aprendi que meu casamento e meus filhos estão em primeiro lugar. Tendo a minha vida familiar estável e organizada, é o primeiro grande passo para que tudo a volta funcione.

A empresa eu recomeçaria, minha carreira também pode ser construída e reconstruída a qualquer momento. Agora, a minha história de vida com o Gustavo e as crianças, que é linda e repleta de cumplicidade, paixão e respeito, não pode ser refeita nem replicada, então eles vêm primeiro. Claro que eu trabalho o tempo todo e isso me realiza também. Eu entendo e assumo com muita responsabilidade a função que eu tenho, que sustenta e viabiliza o desenvolvimento de dezenas de outras carreiras, que garantem o sustento de dezenas de famílias. Então eu não deixo o meu trabalho em segundo plano, não é isso. Eu só não o coloco em uma posição que ele signifique risco para a minha harmonia familiar. Vários finais de semana em que eu preciso trabalhar, por exemplo, vou com a família para hotéis, onde todos têm atividades prazerosas e eu posso descansar um pouco e trabalhar sem a preocupação de estar acorrentado à minha família ao meu trabalho junto comigo.

5. Qual seu maior sonho? Não sou uma pessoa de grandes sonhos ou ambições. Sempre vivi um dia de cada vez e celebrei cada avanço como se fosse o último.Acho que meu sonho é manter o que eu tenho do jeitinho que é, curtindo meu trabalho como se fosse hobby e amando a minha família sem limites e sendo amada de volta. Não tenho ambições financeiras, por exemplo. Mas quero ver, organicamente, a agência continuar a crescer como tem sido nos últimos anos, inclusive no pior ano da pandemia em que, para agravar a situação, eu estava grávida. O ano de 2020 foi um dos melhores da minha vida, tanto pessoal como profissionalmente. Louco isso, né? Poder fazer parte do sucesso de tantas marcas e de tantas formas diferentes é o meu ideal de sucesso. Caminhar com meu marido em total sinergia de planos e propósitos, criando nossos filhos com muita fé e cumplicidade e tendo a estabilidade emocional e financeira que temos, para mim é sinônimo de céu na Terra.

6. Qual sua maior conquista? Minha família. Por eles tudo a qualquer momento.

7. Livro, filme e mulher que admira. Sou uma leitora voraz, leio em média dez livros por mês. Mas um livro representou muito na minha vida, que foi “Quem Mexeu no Meu Queijo”, do Spencer Johnson. O li em 2005, pouco antes de empreender e quando estava saindo da estabilidade que a sombra do meu pai me trazia. Li o livro, saí de casa, investi em mim o que eu tinha: muita vontade de sair da minha zona de conforto e de fazer algo com o meu talento com as palavras. Desde que li esse livro, a zona de conforto me parece muito desconfortável e é essa inquietude que me move e faz com que as coisas prosperem e se mantenham em pleno dinamismo. Filme: “O Gladiador”. Já perdi as contas de quantas vezes assisti e guardei como propósito de vida a frase célebre: “O que você faz em vida, ecoa pela eternidade”. Precisamos nos orgulhar do que somos e do que fazemos, porque tudo que construímos hoje é legado que nunca morre. A mulher que eu mais admiro é a Cristina Junqueira, CEO do Nubank.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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