Bióloga conta como conseguiu selo do governo federal em projeto que visa a preservação do litoral brasileiro
Izis Melo vendeu sacolé gourmet na praia para levantar fundos, conseguiu reunião em Brasília depois de muito esforço e fez ministro do Turismo de Bolsonaro acreditar no Instituto Litoral Saudável
Nossa Mulher Positiva é Izis Melo, bióloga pós-graduanda em gestão ambiental, idealizadora do projeto Litoral Saudável e presidente do instituto de mesmo nome. Izis nos conta como iniciou sua carreira e sobre o desenvolvimento do projeto, com muitas dificuldades e alguns obstáculos, mas sempre cheio de determinação para unir preservação, economia e turismo. “Para pagar a ida a algumas reuniões, eu e meu marido, vendíamos sacolés gourmet na praia e por delivery. Sem contar que, por muitas vezes, não me trataram com respeito pela profissional que sou”, contou. “Consegui mandar o projeto para o Leonardo Índio, que o leu e acreditou nele tanto quanto eu. Marcou uma reunião para que eu pudesse apresentá-lo em Brasília para o Gilson Machado, então ministro do Turismo. Com ajuda e vaquinha da família, consegui comprar as passagens. Fui muito bem recebida em Brasília. Apresentei para o Ministério do Turismo e o do Meio Ambiente. Logo depois, consegui o selo do governo federal.”
1. Como começou a sua carreira? Fiz faculdade de biologia na Universidade Estadual de Minas Gerais. Logo depois me mudei para a Região dos Lagos, do Rio de Janeiro, onde temos cidades como Búzios, Arraial do Cabo e Cabo Frio. Lá, fiz um curso de extensão na área da biologia marinha. Com isso, tive a ideia de criar um projeto que cuidasse do nosso litoral, sem deixar de lado a economia em relação ao turismo. Assim nasceu o projeto Litoral Saudável! Me dediquei por mais dois anos (uma média 12 horas de muito estudo diário na área da biologia marinha) à Década do Oceano, decretada pela ONU em 2021, e toda importância do turismo para a economia do Brasil, já que temos mais de 8 mil quilômetros de litoral. Oito a cada dez brasileiros acham’ essencial viajar para praia ao menos duas vezes ao ano. Logo quando comecei a divulgar o projeto, tive a oportunidade de falar um pouquinho sobre ele em uma entrevista à Arvore do Futuro. Foi uma oportunidade incrível!
2. Como é formatado o modelo de negócios da Litoral Saudável? O projeto é um conjunto de ações que visa mudar o estilo da vida e a cultura de todos que moram, trabalham ou apenas visitam as cidades litorâneas, além da educação ambiental infantil, tendo como foco principal a Década da Ciência Oceânica. Infraestrutura das orlas, capacitação dos comerciantes, palestras para turistas e moradores, educação ambiental infantil e tecnologia, com o aplicativo Litoral Saudável. A primeira cidade litorânea a receber o projeto, será Maceió, em Alagoas. Nos tornamos instituto, e o projeto atua com PPPs (parceiras público-privadas). Vamos unir preservação e economia, sem radicalismos. E hoje contamos com a Prospectar, que faz toda gestão corporativa, financeira, fiscal e comercial do projeto. Coordenação de todas as prestações de contas junto aos parceiros e presidência do projeto. Uma excelente parceria.
3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Por muito tempo, eu estava sozinha. Sem qualquer auxílio financeiro público ou privado, ou até mesmo a ajuda de um profissional na área do meio ambiente. Cheguei a ficar mais de 15 horas no celular, mandar mensagens para grandes empresas, deputados, senadores, buscando uma oportunidade para apresentar o projeto. Para pagar a ida a algumas reuniões, eu e meu marido, vendíamos sacolés gourmet na praia e por delivery. Sem contar que, por muitas vezes, não me trataram com respeito pela profissional que sou. Eu, mulher, sozinha em reuniões cercada de homens do “poder” (deputados, senadores, secretários, empresários…). E a única coisa que eu estava oferecendo era o projeto. Consegui mandar o projeto para o Leonardo Índio, que o leu e acreditou nele tanto quanto eu. Marcou uma reunião para que eu pudesse apresentá-lo em Brasília para o Gilson Machado, então ministro do Turismo. Porém, eu não tinha recursos para a viagem. Com ajuda e vaquinha da família — da minha mãe Janice, minha irmã Izadora, meu tio Pedro e minha tia Silvânia —, consegui comprar as passagens e fui com meu marido, que sempre esteve comigo.
Fui muito bem recebida em Brasília. Apresentei para o Ministério do Turismo e o do Meio Ambiente. Logo depois, consegui o selo do governo federal. Com isso, através de outro amigo, Athos Moraes, que foi de extrema importância, fui apresentar o projeto em Alagoas. Lá, também pude contar com a ajuda do Zezeco, empresário em Barra de São Miguel (AL), que disponibilizou sua marina, a Stella Marina, para que eu pudesse fazer a apresentação para gestores, empresários e defensores do meio ambiente, como Thereza Collor. Só consegui ir para Alagoas, mais uma vez, com o auxílio financeiro da família, meu marido e do sacolé gourmet (risos)! O deputado estadual Cabo Bebeto gostou e acreditou no meu trabalho e em todos os benefícios que levará para Maceió. Através dele, iremos iniciar a execução na capital alagoana!
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Para equilibrar a vida pessoal e a vida profissional, procuro definir bem os horários de rotinas em casa. No trabalho, estabeleço organização a base de metas bem definidas e cronograma de atividades do projeto que me possibilita gerenciar meus horários sem deixar pendências. Reuniões semanais com a Prospectar, estudo diário para me manter atualizada em assuntos relacionados aos oceanos e à economia do turismo. Além de reuniões com gestores e grandes empresas que já demonstraram interesse em fazer parte do projeto. Importante é que todos os dias tiro pelo menos duas horas para exercícios físicos, atenção para a família e estudo, sempre para crescimento pessoal.
5. Qual seu maior sonho? Que o projeto Litoral Saudável seja exemplo em relação à preservação e cuidado que nosso litoral merece. Que possamos colocar, no maior número de escolas públicas e privadas, a educação ambiental como disciplina para ensino fundamental. Com isso, não estaremos apenas ensinado sobre a natureza, mas, sim, em ser um cidadão melhor, que se preocupa com o próximo, pensa no bem da comunidade. A educação ambiental ensina valores e constroem uma mentalidade de futuros adultos preocupados com o futuro e a estabilidade do planeta. Que possamos ter uma economia forte, sem que isso custe a saúde dos nossos oceanos. Comerciantes e empresários mais conscientes, tendo a preservação como aliada, não como inimigo. A fórmula para um turismo duradouro e de qualidade está diretamente ligada à preservação. Sempre quis contribuir com algo importante para o planeta que, de fato, melhore a vida das pessoas. Acredito muito no potencial do projeto.
6. Qual sua maior conquista? Comecei a estudar e desenvolver o projeto alguns meses antes da pandemia. E assim foi durante todo o período pandêmico. Foi muita dedicação, perseverança para terminar a parte teórica do projeto, em um momento tão triste e conturbado com o da Covid-19. Depois, muita luta para colocar em prática. Escutei de muitas pessoas, pessoas até “próximas”, que eu não iria conseguir, que não iria dar em nada, que era perda de tempo. Mas me mantive focada e nunca pensei em desistir. Não tem preço ver meu filho assistir a uma reunião minha pelo Zoom, com os olhos brilhantes de orgulho, falando na escola: “Minha mãe tem um projeto muito importante”. É gratificante! Minha maior conquista foi minha dedicação, foram as pessoas que estiverem comigo, acreditando em mim e no meu trabalho. Foi sair de uma cidade do interior e poder oferecer algo que mude, de fato, a vida de muitos. Conseguir o selo do governo federal, ostentar o projeto e iniciar a execução em uma cidade tão importante como Maceió. Tanto em relação ao turismo como na parte econômica. E estreitar em uma capital… Uau! O Instituto Litoral Saudável é motivo de orgulho!
7. Livro, filme e mulher que admira. Livro: “A Terra É Azul. Por que o Destino dos Oceanos e o Nosso É Um Só?”. Todos nós somos donos do alto-mar. É como o ar. É um bem comum e será bom que permaneça saudável, pois é a garantia de nossa existência Filme: “Free Willy”. Assisti a esse filme quando era criança e vi quão cruel era a vida de animais marinhos, como orcas e golfinhos, que vivem em cativeiro nos parques. A orca que “estrelou” o filme teve uma vida extremamente infeliz e morreu antes dos 30 anos, sendo que o normal seria viver em média 50 anos. Ela até chegou a ser solta, mas não teve sucesso. Desde então, me identifiquei com toda a vida “escondida” no planeta azul e todos os animais que têm nossos oceanos como lar. Mulher: Sylvia Earle, a dama dos mares! Uma bióloga marinha. “Os oceanos controlam o modo como funciona o mundo.” Com certeza, ela é uma grande inspiração!
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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