Carmela Montanari brilhou no cinema, na TV e agora é especialista em autoestima: ‘Me chamam de Fada Madrinha’

Atriz de formação, gaúcha usou experiências profissionais e de vida — até os horrores da guerra ela já viu de perto — para criar o seu Método Inside Out

  • Por Fabi Saad
  • 01/05/2024 08h00
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Arthur Wolkovier/Divulgação Carmela Montanari Carmela Montanari, criadora do Método Inside Out, tem clientes em 14 países

Nossa Mulher Positiva é Carmela Montanari, que começou viajante, tornou-se atriz e se transformou em especialista em autoestima. Seu repertório é uma mistura sensível do que aprendeu em casa numa família de mulheres elegantérrimas, da experiência de morar em vários lugares do mundo, do know-how adquirido como apresentadora de programa de moda e de sua vivência no cinema, onde passou a enxergar a vida como um roteiro. Ao contrário da maioria dos stylists atuais, vai muito além do último desfile em Paris, chega à alma. Assim como num filme, ela enxerga cada pessoa como protagonista de sua própria história, depois traduz essa leitura para o mundo através de uma poderosa e silenciosa ferramenta de comunicação: o estilo. O trabalho é de dentro para fora, dessa maneira seus clientes embarcam numa viagem de autodescoberta sem volta.

1. Como começou a sua carreira? Sou especialista em autoestima, consultora de imagem e criadora do Método InsideOut. Minha formação é teatro e cinema, e o meu método é o saldo de uma vida atípica e experiências desafiadoras e extremamente enriquecedoras. Eu nasci em Porto Alegre e sai do Brasil com 4 anos, devido à profissão da minha mãe, que é antropóloga e museóloga, e trabalhava em organismos internacionais como Unesco e OEA. Morei em diversos países durante a infância e adolescência, e tive que me adaptar com rapidez e agilidade à cultura, idioma e comportamentos diversos. Passei por guerra, convivi com indígenas andinos nas montanhas, morei na Europa durante a queda do Muro de Berlim, passei por tremores de terra, tempestade de neve, ditaduras e sofri bullying de todos os tipos. Essa dinâmica fez que meu músculo do pertencimento (aquele músculo que a gente costuma usar na adolescência para encaixar na tribo com a qual a gente mais se identifica) ficasse ultra tonificado. Entendi na alma o quanto a imagem de fato pode ser a diferença entre ser feliz e não ser feliz. Comecei a estudar teatro com 10 anos de idade e me profissionalizei como atriz aos 17, quando morava em Buenos Aires. De lá para cá, foram novelas, espetáculos teatrais, longa-metragens e comerciais de TV. Toda essa vivência, somada aos anos em que passei apresentado um programa de moda, entrevistando estilistas internacionais e nacionais, especialistas em modelagem, beleza e comportamento de mercado, fez com que eu criasse o Método Inside Out. Um método que cura as porosidades emocionais e coloca na imagem todas as suas potências e virtudes. Acontece de dentro para fora. E é por isso que ele é tão eficaz.

2. Como é formatado o seu modelo de negócios? Minha especialização em autoestima é baseada fundamentalmente em mais de uma década de atendimento individual, presencial e online. Também presto consultoria e treinamento para empresas e realizo palestras e mediações em eventos. Eu cuido da postura profissional, impressão, imagem, mas também dos detalhes da vida, dos medos mais obscuros e dos mecanismos de defesa. Estou atenta a tudo porque meu trabalho só termina quando a pessoa chega onde me pediu. E, na maioria das vezes, quando a pessoa chega, ela me procura para um reposicionamento a fim de seguir na direção de outros sonhos. Portanto, estou sempre conectada com meus clientes. Eu tenho algumas opções de atendimento na minha vitrine, do mais enxuto ao mais completo. Porém, não é incomum eu customizar algumas jornadas para que o processo englobe todas as necessidades de quem me contrata.

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Eu tenho alguns. Vou contar sobre dois momentos que serviram como “turning point” em minha vida. O primeiro há muitos anos. Quando eu cobri pela primeira vez o SPFW (semana de moda de São Paulo) para o Canal E! (Entertainment Television), foi muito intimidador. As pessoas que trabalhavam no evento estavam quase todas vestidas de preto, com óculos escuros e aquele ar blasé. Eu cheguei louca para fazer amizade e fui completamente ignorada. Era nítido que eu não pertencia àquele ambiente. Eu andava pelos corredores da Bienal com aquele símbolo “não pertence” na testa. E foi muito difícil quebrar essa barreira. Quando eu percebi que a simpatia não ia me salvar, eu mudei de estratégia. Fui conversar com o chefe de segurança do evento e disse que eu precisava muito daquela oportunidade e que eu estava sendo barrada nas portas dos backstages, nas portas dos desfiles e nas coletivas de imprensa porque ninguém me conhecia. Ele chamou no rádio sua equipe de seguranças e pediu para todos os seus funcionários colaborarem comigo. E me deu seu telefone pessoal, me assegurando que, se eu tivesse algum problema, poderia ligar. No outro dia, me tornei um ser onipresente. Eu chegava antes que todas as equipes para entrevistar os estilistas, estava bem posicionada para entrevistar celebridades, e aquelas pessoas blasés de óculos escuros começaram a me notar. E como eu vinha de outro campo, não da moda, eu fazia perguntas com curiosidade genuína, real, sobre o assunto, saindo das entrevistas mecânicas que os programas de moda costumavam fazer. Em pouco tempo ganhei a confiança e simpatia do meio. E assim se passou quase 8 anos. A moda e a beleza se tornaram uma paixão e um terreno de grande aprendizado e de muitas oportunidades. Inclusive fiz grandes amigos nessa época, que estão de forma especial e carinhosa na minha vida até hoje. Moral da história; eu me adaptei ao desafio sem me descaracterizar. Mesmo me abrindo de par em par para aquele universo novo, mantive intacta minha identidade. O segundo foi na pandemia. A humanidade foi pega de surpresa. Meus atendimentos eram majoritariamente presenciais, por isso eu viajava por todo o Brasil para atender meus clientes. Foi um momento de grandes dúvidas e incertezas. Eu não tinha ideia de como iria continuar. Aos poucos, fui desenvolvendo formatos possíveis para que o atendimento fosse entregue 100% online com a mesma qualidade do presencial. Acabei fazendo das portas fechadas uma janela para o mundo. Em meados de 2020, comecei a atender fora do Brasil. Hoje tenho clientes em 14 países.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Sou mãe de um menino lindo que mamou no peito por dois anos e meio. Eu sempre precisei montar minha agenda em função dos horários dele. Cansei de ir para eventos e fazer palestras e treinamentos em empresas com ele no carrinho mamando nos intervalos.  Agora que ele já está maior, tenho mais autonomia para me dedicar ao trabalho. Mas ainda me sinto naquela gangorra da mãe moderna que quer ser presente e disponível, mas não quer abrir mão de realizar os sonhos profissionais. Meu marido é ator/entreteiner e, na nossa casa, as tarefas são divididas não pelo peso, mas pelas habilidades e aptidões. Cada um faz o que é mais fácil e possível para cada um. Como somos diferentes e complementares, conseguimos nos equilibrar bem na rotina. E, nesse sentido, nossa vida é harmoniosa. Eu preciso muito da lógica e organização do meu marido e ele precisa da minha inteligência emocional. Formamos uma boa equipe.

5. Qual seu maior sonho? Meu maior sonho profissional é expandir a consciência em relação à importância da autoestima. Em geral, as pessoas entendem autoestima como um prêmio, como se só fossem merecedoras de amor-próprio se atingirem certos objetivos, e é exatamente ao contrário. A autoestima é o caminho que nos leva em direção aos nossos sonhos, nosso autoconceito positivo e nossa segurança são a chave para realização. Eu tenho urgência que esse tema seja entendido, mastigado, absorvido. Sonho em me tornar uma referência na minha área.

6. Qual sua maior conquista? Quando eu era atriz, tive a chance de protagonizar um filme produzido pela TNT, um projeto do argentino Juan José Campanella, já premiado pelo Oscar. Fui dirigida pela grande diretora de cinema Flavia Moraes num road movie de Porto Alegre a Montevidéu. Interpretei a Alicia, uma uruguaia. Foi uma experiência sublime, uma personagem cheia de nuances, um filme cheio de poesia, uma grande realização. Hoje, no meu ofício de especialista em autoestima e consultora de imagem, eu vivo inundada de ocitocina. Todos os dias recebo feedbacks de clientes que atingiram seus objetivos depois de terem passado pelo Método Inside Out. Pessoas que conquistaram algo sonhado, resolveram algum nó emocional. Clientes que contam que passaram a se olhar com amor e acolhimento, ou conquistaram o cargo desejado, casaram, estão em uma melhor relação com algum familiar. Enfim, todos os dias conquisto algo através das conquistas dos meus clientes. E sabe como meus clientes me chamam? De Fada Madrinha. Se isso não é uma conquista, eu não sei o que é. No campo pessoal minha maior conquista é ser mãe do Érico. Meu filho, com toda a certeza, é o melhor de mim. Por ter um problema de circulação, perdi algumas gestações. Consegui manter a gravidez do meu filho numa sequência de acertos, e o dia em que ele nasceu, algo fantástico, aconteceu dentro de mim. Me senti plena. Me senti inteira. Me senti completa.

7. Livro, filme e mulher que admira. Eu sou uma grande admiradora da Oprah Winfrey, ela foi uma atriz impecável, e se tornou uma das mulheres mais relevantes de nossa era. Sua presença na mídia deu dignidade, legitimidade e pertencimento para milhares de mulheres e sua fala inteligente e generosa influenciou minha geração. Vou dar a dica de dois livros: o romance “A Ilha sob o Mar”, onde a protogonista, mulher escravizada no Haiti, consegue preservar sua essência e autorrespeito, apesar de sobreviver à barbárie. O livro é de uma das minhas escritoras favoritas, Isabel Allende. E o livro “Você Pode Curar sua Vida”, no qual, através de seus próprios exemplos, a autora Louise L. Hay ensina a despertar ideias positivas para viver plenamente. Eu estudei cinema e sou apaixonada pela sétima arte, amo os clássicos, porém vou indicar um filme recente, que faz uma reflexão fenomenal sobre o que é o amor-próprio: “I Feel Pretty”, traduzido no Brasil como “Sexy Por Acidente”. O filme é produzido e magistralmente atuado pela atriz e comediante Amy Schumer e está disponível na Netflix.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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