Conheça Rafaela Aiex Parra, advogada que virou referência no agronegócio brasileiro
Após a morte do pai, ela se aprofundou no direito aplicado ao agro, virou sócia de escritório renomado e hoje leva seu conhecimento através de livros e cursos.
Nossa Mulher Positiva desta semana é Rafaela Aiex Parra, advogada, professora e autora de livros. Rafaela nos conta como iniciou sua carreira e se tornou referência no direito ambiental, sendo respeitada em um ambiente majoritariamente masculino como é o agronegócio. “Estou passando por uma grande fase em minha carreira, onde, após mais de uma década do exercício da advocacia, tive meu nome listado e recomendado em importantes rankings nacionais e internacionais, como o Legal 500 e o Análise Advocacia, além dos corriqueiros convites para ministrar aulas em importantes instituições. É gostoso estar em ascensão e, ao olhar para trás, ver que todo o esforço valeu a pena”, recorda.
1. Como começou a sua carreira? Desde o primeiro ano de faculdade fiz estágio. Passei por escritório de advocacia, poder judiciário, autarquia municipal. Sempre gostei de trabalhar, fazer diligências, conhecer pessoas, histórias. Me formei em 2008 e, logo na sequência, estava devidamente credenciada nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Paraná. Neste momento buscava conciliar a paixão pelo campo (já que cresci no meio rural) à minha atividade jurídica. Nesse mesmo período, meu pai faleceu e tive de amadurecer de forma mais acelerada. Foi aí que tive contato com as primeiras questões do direito aplicado ao agronegócio, pois no espólio do meu pai haviam dois imóveis rurais a partilhar e muitas questões a resolver, desde trabalhistas, passando por bancárias, sucessões e até contratuais. Foi minha grande escola, aos 23 anos de idade. Então, a partir de 2013, passei a estudar com afinco o direito ambiental, justamente para trabalhar em assuntos administrativos e jurídicos nas fazendas mencionadas. De lá pra cá, não parei. Passei a angariar outros clientes, a me estabelecer como advogada especializada, busquei me aprofundar nos temas, escrevi livros, fiz dois MBAS (ISAE/FGV E ESALQ/USP) e um mestrado (UEL), passei a frequentar congressos e palestras em âmbito nacional, até que, de repente, eu passei a ser a palestrante requisitada nos eventos e convidada a ministrar aulas em instituições de ensino. Por alguns anos, trabalhei em meu próprio escritório, até que tive uma proposta para advogar em um escritório de São Paulo, no setor de agronegócios, o que foi muito importante na minha carreira. Ali permaneci por um ano e então entrei para o time do Araúz Advogados.
2. Como é formatado o modelo de negócios da Araúz? O Araúz Advogados possui 22 anos de atividade, focado em atender demandas empresariais, do agronegócio e cooperativismo, de maneira abrangente, ou seja, em vários nichos do direito. São mais de 200 colaboradores, 100 advogados, 9 unidades em São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Eu sou a head da área de direito ambiental, coordenando equipe que atende a variadas demandas consultivas e contenciosas de nossos clientes (cooperativas e agroindústrias). Cheguei ao escritório em 2019, já na posição de head de área, após o convite do Carlos Araúz. Me sinto orgulhosa, pois sou a coordenadora de área mais jovem entre meus pares. Somos em 15 sócios coordenadores, 13 homens e 2 mulheres apenas. Além da coordenação jurídica que me cabe, sou diretora de marketing e comunicação do escritório, possuindo ampla autonomia para condução dos assuntos relacionados à pasta e carta branca do sócio fundador para criar estratégias e inovar em nossos projetos ESG, de comunicação externa e endomarketing, posicionamento, rankings jurídicos nacionais e internacionais, de políticas educacionais e gestão de pessoas no que toca a assuntos acadêmicos institucionais. Para isso, criei o “DNA Araúz”, que é parte de nossa cultura e visa agregar valor ao negócio. No projeto contínuo, fomentamos a escrita de artigos, participação em entrevistas, subsidiamos informações para a participação nos rankings jurídicos, além de organizar e coordenar encontros de grupo de estudos com advogados e estagiários, além de workshops de assuntos não jurídicos, com convidados, a todos os nossos colaboradores.
3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? Penso que existem dois momentos marcantes. O primeiro, logo no início da carreira, com a morte do meu pai e a necessidade de escolhas assertivas tanto para minha carreira, quanto para a nova formatação da família e as implicações jurídicas e econômicas atreladas. Conseguir conciliar meu progresso de carreira e definir a meta a perseguir, que, querendo ou não, já se iniciava de forma atribulada. Depois, já em 2021, um dos momentos mais difíceis foi quando adoeci pela Covid-19 e me vi à mercê do medo da morte, das limitações causadas pela doença, da falta de gerência de atividades corriqueiras do dia a dia e do trabalho, dependência para questões rotineiras, como tomar banho, se alimentar, caminhar e, principalmente, pela ausência de um prognóstico de melhora contundente. A certa altura me recordo que imaginava nunca mais voltar à minha plena capacidade física e mental, o que me gerava uma extrema angústia, já que eram constantes sintomas como falta de concentração, de memória, de capacidade de raciocínio, enfim, tudo que sempre foi meu trunfo e utilizava no meu trabalho. Sintomas físicos também eram persistentes e de certa forma traziam receio de que as coisas não melhorariam. Aqui, além do suporte dos médicos que me atenderam, eu tive um suporte incrível do escritório, principalmente na pessoa do sócio fundador Carlos Araúz Filho, para além de questões financeiras, mas, principalmente, no otimismo de que tudo daria certo… E deu!
4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Tendo tempo de qualidade em cada uma delas, acho que esse é o segredo. E pode parecer clichê, mas gostando do que faço no trabalho, mesmo em momentos de lazer, posso enxergar novas oportunidades. Meus projetos são todos atrelados, trabalho, vida acadêmica, tudo em torno do agronegócio e do meio ambiente. Aliás, até na vida pessoal por vezes escolho momentos de lazer em cavalgadas, em festas agropecuárias, sítios e fazendas. Essa é a minha vida. Para os próximos anos, a ideia é tirar do papel alguns projetos de novas formas de estar próximo aos clientes e de levar conhecimento a todos através de livros e cursos.
5. Qual seu maior sonho? Sempre apaixonada pelas palavras e pela vida acadêmica, em 2017 coloquei em prática um antigo sonho, o de escrever um livro. Foi minha primeira obra, já nos temas agrários, ambientais e do agronegócio. Escrevi e, na cara e coragem, enviei ao professor Édis Milaré, maior ambientalista do Brasil, para que pudesse escrever o prefácio. Ele aceitou, e então fui até São Paulo o conhecer. Um senhor distinto, educado e muito generoso, me tratou como se eu já fosse, àquela altura, autoridade acadêmica. Até hoje mantemos contato, inclusive tendo ele prefaciado outro livro que escrevi sobre agronegócio, sustentabilidade e a agenda 2030, no ano de 2020. A partir daí, intensifiquei minha agenda de palestras e de certa forma dei um giro de protagonismo em minha carreira, tudo isso a partir de um sonho: escrever um livro. Até agora minha produção tem dois livros de autoria, cinco de organização, inúmeros artigos em livros organizados por outros colegas e revistas científicas. Ah, já ia me esquecendo, são três livros de autoria, pois um não é jurídico, é de textos poéticos… Eu disse, sou apaixonada pelas palavras.
6. Qual sua maior conquista? Diria que tive algumas conquistas e confesso que conseguir êxito em demandas judiciais complexas, trazendo um final feliz ao cliente, tem um sabor importante. Mas, sob o ponto de vista externo, diria que ter o reconhecimento do mercado, de pares e clientes é muito gratificante. E mais, ser respeitada e lembrada no agronegócio, ambiente masculino, me deixa muito satisfeita. Não por estar competindo com os homens, tampouco com outras mulheres, mas, por todo o histórico de evolução do papel da mulher na sociedade. Estou passando por uma grande fase em minha carreira, onde, após mais de uma década do exercício da advocacia, tive meu nome listado e recomendado em importantes rankings nacionais e internacionais, como o Legal 500 e o Análise Advocacia, além dos corriqueiros convites para ministrar aulas em importantes instituições. É gostoso estar em ascensão e, ao olhar para trás, ver que todo o esforço valeu a pena. O mestrado também considero uma grande conquista. Sou muito determinada e faço dar certo tudo que desejo. Entrei para os bancos do mestrado “velha” e tendo que conciliar minha atividade profissional com os estudos. Eu já possuía mais de dez anos de formada, mas uma inquietação tomou conta de mim e resolvi me inscrever no programa, era algo que eu gostaria de fazer. Participei de um processo seletivo onde havia duas vagas para 16 candidatos. Após apresentação do projeto, prova escrita, prova de títulos e prova oral, fui admitida, cursei e finalizei o mestrado na UEL. Foi um período de muito aprendizado.
7. Livro, filme e mulher que admira. Livro: “Desejos Secretos”, porque se propõe a contar a história da primeira paciente homossexual de Freud e ao reverso da capa não vemos no livro um relato ou discussões sobre orientação sexual – apenas –, mas a história de uma mulher e sua solidão pelas escolhas que fez, um apanhado histórico sobre problemas de guerra, economia e do próprio preconceito. Escolhi esse livro porque é uma biografia que nos mostra como o direito das mulheres, da liberdade de escolha das mulheres, evoluiu. E aqui não se trata de uma discussão de conceitos, como feminismo e machismo, mas do próprio ajuste social da época. Isso nos faz enxergar o quão rico é termos programa a programa tantas mulheres positivas contando as suas histórias. Filme: “Ana e o Rei”. Acho bem interessante, conta a história de uma mulher viúva, de ascendência e hábito ocidental (britânica) que é contratada como professora dos filhos do rei do Sião. Existem diferenças culturais, sociais, de gênero, contadas de uma forma romantizada. Baseada em fatos reais, a história é ambientada no fim do século XIX e o filme lançado no ano 2000. Curioso que mesmo nessa época, quase início do século XXI, persistiram discussões sobre a narrativa e inclusive a proibição de veiculação em alguns territórios asiáticos, por entender que se feriu a imagem do rei. Mulher: No que diz respeito a nós, mulheres corporativas, mulheres empreendedoras, cito, com admiração (embora sem juízo de valor) a história de Barbe Nicole Clicquot, a “Veuve Clicquot”. A história de marcas lendárias e centenárias, contumaz as marcas de luxo, é sempre interessante e instigante, recheada de fatos, intrigas, brigas. A história de um império de champagne e da mulher que o construiu é fascinante. Vale a pena conhecer.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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